domingo, 19 de maio de 2013
O Medo da morte
Numa manhã coberta de neblina, sem suspeitar onde se encontrava, Xangô dançava com alegria ao som de um tambor. Xangô dançava alegremente em meio à névoa quando apareceu uma figura feminina enredada na brancura da manhã. Ela perguntou-lhe por que dançava e tocava naquele lugar. Xangô, sempre petulante, respondeu-lhe que fazia o que queria e onde bem lhe conviesse.
A mulher escutou e respondeu-lhe que ali ela governava e desapareceu aos olhos de Xangô. Mas ela lançou sobre Xangô os seus eflúvios e a névoa dissipou-se, deixando ver as sepulturas. Xangô era poderoso e alegre, mas temia a morte e os mortos, os eguns. Xangô sentiu-se aterrorizado e saiu dali correndo.
Mais tarde Xangô foi à casa de Orunmilá se consultar e o velho disse-lhe que aquela era Ewá, a dona do cemitério. Ele estava dançando na casa dos mortos. Xangô sentia pavor da morte e desde então nunca mais entrou num cemitério, nem ele nem seus seguidores
Oxum engana Exú!
Oxum sempre foi curiosa e quiz aprender os mistérios dos búzios, pois queria prever o futuro.
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu a procura de Exu.
Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá….
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
Caboclo Boiadeiro
São espíritos de pessoas, que em vida trabalharam com o gado, em fazendas por todo o Brasil, estas entidades trabalham da mesma forma que os Caboclos nas sessões de Umbanda. Usam de canções antigas, que expressam o trabalho com o gado e a vida simples das fazendas, nos ensinando a força que o trabalho tem e passando, como ensinamento, que o principal elemento da sua magia é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma vida melhor e farta. Nos seus trabalhos usam de velas, pontos riscados e rezas fortes para todos os fins. O Caboclo Boiadeiro traz o seu sangue quente do sertão, e o cheiro de carne queimada pelo sol das grandes caminhadas sempre tocando seu berrante para guiar o seu gado. Normalmente, eles fazem duas festas por ano, uma no inicio e outra no meio do ano. Eles são logo reconhecidos pela forma diferente de dançar, tem uma coreografia intricada de passos rápidos e ágeis, que mais parece um dançarino mímico, lidando bravamente com os bois.
Seu dia é quinta feira, gosta de bebida forte como por exemplo cachaça com mel de abelha, que eles chamam de meladinha, mas também bebem vinho. Fumam cigarro, cigarro de palha e charutos. Em oferendas é sempre bom colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha. No Terreiro os Boiadeiros vêm “descendo em seus aparelhos” como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exus. Alguns usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos. Nomes de alguns boiadeiros: Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro Navizala, Boiadeiro de Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro Juremá, Zé Mineiro, Boiadeiro do Chapadão, etc … Sua saudação: Getruá Boiadeiro, Xetro Marrumbaxêtro
Os Boiadeiros são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, “o caboclo sertanejo”. São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai. Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé. Ao amanhecer o dia, o Boiadeiro arrumava seu cavalo e levava seu gado para o pasto, somente voltava com o cair da tarde, trazendo o gado de volta para o curral. Nas caminhadas tocava seu berrante e sua viola cantando sempre uma modinha para sua amada, que ficava na janela do sobrado, pois os grandes donos das fazendas não permitiam a mistura de empregados com a patroa. É tal e qual se poderia presenciar do homem rude do campo. Durante o dia debaixo do calor intenso do sol ele segue, tocando a boiada, marcando seu gados e território. À noite ao voltar para casa, o churrasco com os amigos e a família, um bom papo, ponteado por um gole de aguardente e um bom palheiro, e nas festas muita alegria, nas danças e comemorações. Sofreram preconceitos, como os “sem raça”, sem definição de sua origem. Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do índio e a do negro) e sua língua, entre outras coisas.
Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam a humildade, os Boiadeiros representam a força de vontade, a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande. O caboclo boiadeiro está ligado com a imagem do peão boiadeiro – habilidoso, valente e de muita força física. Vem sempre gritando e agitando os braços como se possuísse na mão, um laço laço para laçar um novilho. Sua dança simboliza o peão sobre o cavalo a andar nas pastagens. Enquanto os “caboclos índios” são quase sempre sisudos e de poucas palavras, é possível encontrar alguns boiadeiros sorridentes e conversadores. Os Boiadeiros vêm dentro da linha de Oxossi. Mas também são regidos por Iansã, tendo recebido da mesma a autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada quando encarnados. Levam cada boi (espírito) para seu destino, e trazem os bois que se desgarram (obsessores, quiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem).
Sobre Nossos Caboclos Boiadeiros
Os Caboclos são entidades fortes, viris. Alguns têm algumas dificuldades de se expressar em nossa língua, sendo normalmente auxiliados pelos cambonos. São sérios, mas gostam de festas e fartura. Gostam de música, cantam toadas que falam em seus bois e suas andanças por essas terras de meu Deus. Os Boiadeiros também são conhecidos como “Encantados”,pois segundo algumas lendas, eles não teriam morrido para se espiritualizarem, mas sim se encantados e transformados em entidades especiais. Os Boiadeiros também apresentam bastante diversidade de manifestações. Boiadeiro menino, Boiadeiro da Campina, Boiadeiro Bugre e muitos outros tipos de Boiadeiros, sendo que alguns até trabalham muito próximos aos Exus. Suas cantigas normalmente são muito alegres, tocadas num ritmo gostoso e vibrante. São grandes trabalhadores, e defendem a todos das influências negativas com muita garra e força espiritual. Possuem enorme poder espiritual e grande autoridade sobre os espíritos menos evoluídos, sendo tais espíritos subjugados por eles com muita facilidade. Sabem que a prática da caridade os levará a evolução, trabalham incorporados na Umbanda, Quimbanda e Candomblé. Fazem parte da linha de caboclos, mais na verdade são bem diferentes em suas funções. Formam uma linha mais recente de espíritos, pois já viveram mais com a modernidade do que os caboclos, que foram povos primitivos. Esses espíritos já conviveram em sua ultima encarnação com a invenção da roda, do ferro, das armas de fogo e com a prática dada magia na terra. Saber que boiadeiros conheceram e utilizaram essas invenções nos ajuda muito para diferenciarmos dos caboclos. São rudes nas suas incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é a consulta como os Pretos-velhos, nem os passes e muito menos as receitas de remédios como os caboclos, e sim o “dispersar de energia” aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema importância essa função pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes, existe essa linha “sempre” atenta a qualquer alteração de energia local (entrada de espíritos). Quando bradam altoe rápido, com tom de ordem, estão na verdade ordenando a espíritos que entraram no local a se retirar, assim “limpam” o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações. Esses espíritos atendem aos boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para locais próprios de doutrina. Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ”e no descarrego e no preparo dos médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, como os Exus. Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes. Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas. São verdadeiros conselheiros e castigam quem prejudica um médium que ele goste. “Gostar” para um boiadeiro, é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele “filho”. Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa. Trabalham também para Orixás, mais mesmo assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo no entanto as características deles.
A Importância da Galinha D’Angola
A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza.
Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de
tudo e todos.
Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse:
“Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”!
A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho.
A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, dize sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver.
O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada.
Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça.
A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza.
Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de
tudo e todos.
Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse:
“Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”!
A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho.
A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, dize sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver.
O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada.
Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça.
Lenda do Ipeté de Oxum
Folha usada para servir o Ipeté em alguns axés é a Folha do abebe.
Oxum encontrava-se com problemas no ventre e isso lhe causava dificuldades para engravidar, Mas esra do desejo de Oxum engravidar; Diante dessa dificuldade ela decide consultar Orunmilá.
Orunmilá diante do problema de Oxum lhe ofereceu uma ajuda, Indagando que ela deveria seguir um preceito e nesse preceito ela deveria oferecer comida a todas as Oxuns, todas as irmãs; Oxum lhe disse que era impossivel, pois cada uma comiga uma coisa e sem muito pensar Orunmilá lhe respondeu:
- Se esforce, tens que criar um prato onde todas irão comer!
Oxum então responde:
- Mas como?
Orunmilá de pronto lhe responde:
- Você procurar uma estrada que parece não ter fim, caminhará e caminhará, algum tempo depois encontrará um homem que lhe presenteará com um fruto!
Oxum ficou meio desconfiada, mas era a única maneira de se livrar do problema. então Oxum no primeiro raiar do sol, no dia seguinte, Saiu a procura dessa estrada, passou por matas, rios, caminhos de pedras e ventanias.. Mas no fim encontrou a estrada, e tornou-se a caminhar, parou e descansou, mas voltou a caminhar… Até que avista um homem, parado na estrada, esse Homem era Ogún.
Ogún ficou espantado de ver Oxum alí, pois todos sabiam que oxum não saía de seus rios pra quase nada, ficava sempre no rio esperando os presentes e se banhando… Ela não gostava de sair de seu palácio de águas e naquele momento ela estava alí em uma estrada quente e sem acomodação! Com esse espanto de Ogúm ele lhe pergunta:
- O que lhe traz aquí Oxum?
E Oxum conta a Ogún o que lhe passava. Então Ogún vai até a beira da estrada e conhe um fruto chamado Ixú e entrega a Oxum e lhe diz para preparar uma comida chamada Ipeté, a comida que acalma! e entregue as suas irmãs.
Oxum lhe pergunta:
- O que quer em troca?
E Ogún muito encantado com a beleza de Oxum lhe responde:
- Nada! Você só terá apenas que sustentar sobre o seu Orí e sob a panela de Ipeté a folha de Abre-Caminho, e não esqueças de acomodar todos os Okutas de suas irmãs sobre o Ipeté.
Oxum ouviu atentamente as recomendações de Ogún e seguiu as suas orientações; pouco tempo depois nascia Logún-edé (O filho querido de Oxum).
“A partir desse Itán, Todos os anos é servido em ritual a comida Ipeté à Oxum, e abaixo da panela dessa comida e colocado as folhas de Abre-Caminho, sem esquecer de acomodar os Okutás sob o Ipeté. Também não podemos esquecer que por causa dessa lenda, o Único Orixá Boró (homem) que pode carregar a panela de Ipeté é Logún-Edé…”
Por consequência nasce também a seguinte Cantiga:
Oromilá, Oromilá ó
Oromilá ó, Iyá Badó A Yèyè ò.
Oromilá, Oromilá ó
Oromilá ó, Iyá Badó A Yèyè ò.
Oromilá, Oromilá ó
Oromilá ó, Iyá Badó A Yèyè ò.
A Iyá Osún, Osún Moreyeò.
A Iyá Osún, Osún Moreyeò.
A Iyá Osún, Osún Moreyeò.
Ipeté Ogun uiá
Ogun uiá deró
Ipeté Ogun uiá
Ogun uiá deró
Folha usada para servir o Ipeté em alguns axés é a Folha do abebe.
Oxum encontrava-se com problemas no ventre e isso lhe causava dificuldades para engravidar, Mas esra do desejo de Oxum engravidar; Diante dessa dificuldade ela decide consultar Orunmilá.
Orunmilá diante do problema de Oxum lhe ofereceu uma ajuda, Indagando que ela deveria seguir um preceito e nesse preceito ela deveria oferecer comida a todas as Oxuns, todas as irmãs; Oxum lhe disse que era impossivel, pois cada uma comiga uma coisa e sem muito pensar Orunmilá lhe respondeu:
- Se esforce, tens que criar um prato onde todas irão comer!
Oxum então responde:
- Mas como?
Orunmilá de pronto lhe responde:
- Você procurar uma estrada que parece não ter fim, caminhará e caminhará, algum tempo depois encontrará um homem que lhe presenteará com um fruto!
Oxum ficou meio desconfiada, mas era a única maneira de se livrar do problema. então Oxum no primeiro raiar do sol, no dia seguinte, Saiu a procura dessa estrada, passou por matas, rios, caminhos de pedras e ventanias.. Mas no fim encontrou a estrada, e tornou-se a caminhar, parou e descansou, mas voltou a caminhar… Até que avista um homem, parado na estrada, esse Homem era Ogún.
Ogún ficou espantado de ver Oxum alí, pois todos sabiam que oxum não saía de seus rios pra quase nada, ficava sempre no rio esperando os presentes e se banhando… Ela não gostava de sair de seu palácio de águas e naquele momento ela estava alí em uma estrada quente e sem acomodação! Com esse espanto de Ogúm ele lhe pergunta:
- O que lhe traz aquí Oxum?
E Oxum conta a Ogún o que lhe passava. Então Ogún vai até a beira da estrada e conhe um fruto chamado Ixú e entrega a Oxum e lhe diz para preparar uma comida chamada Ipeté, a comida que acalma! e entregue as suas irmãs.
Oxum lhe pergunta:
- O que quer em troca?
E Ogún muito encantado com a beleza de Oxum lhe responde:
- Nada! Você só terá apenas que sustentar sobre o seu Orí e sob a panela de Ipeté a folha de Abre-Caminho, e não esqueças de acomodar todos os Okutas de suas irmãs sobre o Ipeté.
Oxum ouviu atentamente as recomendações de Ogún e seguiu as suas orientações; pouco tempo depois nascia Logún-edé (O filho querido de Oxum).
“A partir desse Itán, Todos os anos é servido em ritual a comida Ipeté à Oxum, e abaixo da panela dessa comida e colocado as folhas de Abre-Caminho, sem esquecer de acomodar os Okutás sob o Ipeté. Também não podemos esquecer que por causa dessa lenda, o Único Orixá Boró (homem) que pode carregar a panela de Ipeté é Logún-Edé…”
Por consequência nasce também a seguinte Cantiga:
Oromilá, Oromilá ó
Oromilá ó, Iyá Badó A Yèyè ò.
Oromilá, Oromilá ó
Oromilá ó, Iyá Badó A Yèyè ò.
Oromilá, Oromilá ó
Oromilá ó, Iyá Badó A Yèyè ò.
A Iyá Osún, Osún Moreyeò.
A Iyá Osún, Osún Moreyeò.
A Iyá Osún, Osún Moreyeò.
Ipeté Ogun uiá
Ogun uiá deró
Ipeté Ogun uiá
Ogun uiá deró
Ayrá é conhecido no Brasil como uma qualidade de Xangô que usa branco e possui uma figura passífica.
Ayrá perteence a familia de Xangô, mas seu verdadeiro culto é independente, pois na Africa Ayrá é um Orixá a parte e não uma qualidade de Xangô. Ayrá pertecente a familia do raio e está ligado a Oxalufan.
O Culto de Ayrá nasceu em Oyó, na mesma cidade que nasceu o culto de Xangô e quando veio ao Brasil foi aglutinado ambos os cultos, simplificando Ayrá como um caminho do Orixá Xangô.
Sua festa é chamada de Fogueira de Ayrá, e acontece no dia 29 de junho. Ele não usa coroa, mas sim um Eketé Branco, sua comida não usa Dendê, pois são temperadas com banha de Orí, Come quiabo assim como todas as qualidades de Xangô.
O assentamento de Ayrá costuma ficar na Casa de oxalá, mas pelo simples fato de que Ayrá está ligado a Oxalá e se identifica com o branco; Porém muitos zeladores usam como desculpa uma rivalidade de Ayrá e Xangô (energia do orixá, ainda sem divisão de qualidade) para essa separação de Igbás, porém isso é LENDA URBANA, Ayrá pode sim ser posto junto a Xangô pois ele é cultuado como uma qualidade de xangô, apesar de Ayrá ser uma divindade Ligada a Xangô e da mesma familia e não se trata de uma mera qualidade ou caminho do Orixá. Ayrá possui suas próprias formas e caminhos, como alguns entendem, Qualidades.
Suas contas são Vermelho e Branco, porém usa-se mais branco do que vermelho, para diferenciá-lo.
CAMINHOS DE AYRÁ:
Airá Intilè: Veste branco/azul claro, aquele que carrega Lufan nas costas
Airá Igbonam: É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.
Airá Modé: É o eterno companheiro de Oxaguiã, só veste branco e não come dendê (só um pingo) sua conta leva seguí.
Airá Adjaosí: Velho guerreiro, veste branco, ligado a Yemanjá.
MITO DE AYRÁ
Segundo os mitos, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem. A festividade conhecida hoje como Águas de Oxalá remonta a esse acontecimento.
No entanto, Oxalá estava muito alquebrado, ferido e entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Yemanjá, sua esposa, o aguardava. Xangô não podia acompanhá-lo pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Airá que fizesse isso em seu lugar.
Foi assim que Airá tornou-se o companheiro de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar (conta-se também que Airá carregava Oxalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão.
Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar. Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Airá mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento. Oxalá observava o fogo e Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.
Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira no dia 29 de junho de cada ano (no Brasil), em homenagem a Airá e à viagem que fez em companhia de Oxalá.
Ayrá perteence a familia de Xangô, mas seu verdadeiro culto é independente, pois na Africa Ayrá é um Orixá a parte e não uma qualidade de Xangô. Ayrá pertecente a familia do raio e está ligado a Oxalufan.
O Culto de Ayrá nasceu em Oyó, na mesma cidade que nasceu o culto de Xangô e quando veio ao Brasil foi aglutinado ambos os cultos, simplificando Ayrá como um caminho do Orixá Xangô.
Sua festa é chamada de Fogueira de Ayrá, e acontece no dia 29 de junho. Ele não usa coroa, mas sim um Eketé Branco, sua comida não usa Dendê, pois são temperadas com banha de Orí, Come quiabo assim como todas as qualidades de Xangô.
O assentamento de Ayrá costuma ficar na Casa de oxalá, mas pelo simples fato de que Ayrá está ligado a Oxalá e se identifica com o branco; Porém muitos zeladores usam como desculpa uma rivalidade de Ayrá e Xangô (energia do orixá, ainda sem divisão de qualidade) para essa separação de Igbás, porém isso é LENDA URBANA, Ayrá pode sim ser posto junto a Xangô pois ele é cultuado como uma qualidade de xangô, apesar de Ayrá ser uma divindade Ligada a Xangô e da mesma familia e não se trata de uma mera qualidade ou caminho do Orixá. Ayrá possui suas próprias formas e caminhos, como alguns entendem, Qualidades.
Suas contas são Vermelho e Branco, porém usa-se mais branco do que vermelho, para diferenciá-lo.
CAMINHOS DE AYRÁ:
Airá Intilè: Veste branco/azul claro, aquele que carrega Lufan nas costas
Airá Igbonam: É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.
Airá Modé: É o eterno companheiro de Oxaguiã, só veste branco e não come dendê (só um pingo) sua conta leva seguí.
Airá Adjaosí: Velho guerreiro, veste branco, ligado a Yemanjá.
MITO DE AYRÁ
Segundo os mitos, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem. A festividade conhecida hoje como Águas de Oxalá remonta a esse acontecimento.
No entanto, Oxalá estava muito alquebrado, ferido e entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Yemanjá, sua esposa, o aguardava. Xangô não podia acompanhá-lo pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Airá que fizesse isso em seu lugar.
Foi assim que Airá tornou-se o companheiro de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar (conta-se também que Airá carregava Oxalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão.
Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar. Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Airá mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento. Oxalá observava o fogo e Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.
Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira no dia 29 de junho de cada ano (no Brasil), em homenagem a Airá e à viagem que fez em companhia de Oxalá.
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O Ovo pertence à Orixá Oxum (São os olhos de Oxum) e na hora das obrigações faz-se um corte em cruz no topo do Ovo (Cozido) para representar a abertura dos olhos de oxum para o que está acontecendo.
O ovo é o principal e maior símbolo da fertilidade, utilizado amplamente nos rituais de purificação, iniciação, borí e ebós de propiciação e defesa.
Existem vários contos de Ifá relatando a grande importância do Ovo. Um deles conta que Òlódunmàré (Deus) estava para dar origem ao universo, tinha num pote de barro “4 ovos”. Com o 1º ovo, deu origem
a Òòrìsànlà-Òbátálà, surgindo na explosão da luz, sem forma, quando literalmente Deus disse: – haja luz! E assim Òòrìsàlà surgiu no mundo.
Com o 2º, deu origem a Ògún, a forma.
Com o 3º, deu origem a Òbálúwàiyé, a estrutura.
Com 4º, o ovo acidentalmente cai de suas mãos, estourando-se no chão e revelando sua riqueza. Origina-se assim, a primeira mulher universal chamada Ìyàmi-Òsòróngà, expondo o segredo de sua riqueza para o grande pai, ou seja, mostrando seu poder de fertilidade sobrenatural, exposto a olho nu, diante do Deus Supremo, nascendo assim, a fonte mantenedora da vida.
O Ovo possui três diferentes cores, associado às cores principais e primordiais do universo:
o ovo de casca azul, representando a cor preta relacionada ao “Aba” = a escuridão (As trevas das profundezas da terra e dos mares);
O ovo de casca branca, relacionada ao “Iwà” = a explosão da luz.
Finalmente o ovo de casca vermelha, relacionada ao Àsé = fogo mantenedor da fertilidade, totalmente relacionado ao poder sobrenatural. Seu conteúdo possui diversas características, as quais, na maioria das vezes, é branco, frágil e oval. Dele nasceu um novo ser associado a idéia de que o universo surgiu, primordialmente, dele próprio, na forma de um protótipo do mundo, como um filho de asas negras = Ìyàmi-Òsòróngà, que foi cortejada pelo vento = Òòrìsànlà-Òbátálà.
O ovo cru com seu frescor, quando utilizado inteiro em oferendas, tem a função de tranqüilizar e refrescar. Por isso é comum vermos muitos ovos crus depositados no chão, aos pés de certos Ojùbò (assentamentos dos Òrìsas). A finalidade será de atrair abundância e proteção, fazendo com que todas as divindades compreendam perfeitamente que o èbò é uma súplica de fertilidade e germinação de filhos, e, dependendo da atuação da Divindade, ela não só atuará no tocante a fertilidade, mais também propiciará dinheiro, sorte, saúde e desenvolvimento na vida.
Já quando quebrados diretamente na cabeça, têm a função poderosa de purificar e livrar até 80% de qualquer tipo de feitiço ou qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Orí de uma pessoa.
Quando num Èbò, ovos crus são atirados no chão ou quebrados em cima do corpo de uma pessoa, num sacrifí¬cio de purificação, vulgarmente chamados de descarrego, terá a finalidade de desobstruir os caminhos, tirando as dificuldades da vida da pessoa ou qualquer espírito de força contrária que esteja acoplado no corpo (obsessores).
Ao ser quebrado, ele revela sua riqueza e seu poder, tanto sobrenatural, como concreto, pois no exato momento que é quebrado, o ovo não terá mais a possibilidade de germinar, ou seja, nascer algo dele, num tipo de substituição ou troca, que acabará com o problema que aflige a pessoa, possibilitando o fim uma situação negativa.
Por este motivo é que o ovo cru deve ser quebrado, principalmente no Òri de uma pessoa, numa preparação da cabeça, que logo depois irá levar ritos sacrificatórios; começando 1º pelo sangue negro, o Agbo-tutu (sumo de ervas frescas), em seguida o sangue vermelho de aves ou quadrúpedes, e finalmente o sangue branco do igbin (caracol), que é espremido por cima de tudo, purificando e possibilitando a existência de forças sobrenaturais, acalmando e fertilizando a cabeça que estará recebendo o puro àsé. com a união dos três sangues primordiais, após ter sido purificada com o ovo cru, possibilitando a pessoa obter sorte, dinheiro, felicidade, fertilidade, saúde e tranqüilidade.
Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual, o nome Ìyàmi-Òòsòróngà é respeitosamente citado e reverenciado, porque, qualquer que seja o ovo, este lhe pertencerá, como relata vários Itãn-Ifá.
Quebrar um ovo na rua, atirando ao chão pela manhã, por três ou sete dias consecutivos, chamando Èlegbara e Ìyàmi-Òòsòróngà e espargindo dendê por cima do ovo, é um simples e poderoso ritual do culto de Ìyàmi-Òòsòróngà , com a finalidade de afastar qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo, acalmando qualquer energia avessa ao caminho de uma pessoa.
O Ovo de Pata
Como relata Ifá, o “Ovo de pata” é o símbolo da vida e umas das proibições de Ikú (morte).
A utilização do ovo de pata cru é essencial em certos rituais, tendo como finalidade quebrar as forças da morte, das doenças e das perdas.
Quando cozido e esfarinhado, é utilizado como agente purificador. Passando pelo corpo de uma pessoa em Èbòs de Egungun ou Onilé. Com casca e tudo, é transformado em pó (seco ao sol), e utilizado no igbá-Orí e assentamentos de ÒrÌsá que tenham relação com Ikú.
Ex: Èsú,Ògún, Òbálúwàiyé, Iyewá, Òmòlú, Erinlé, Ibeji, Sàngó, Oyà , Iyémowo, Òòrìsànlà , Ajagémó, Iroko, Yòbá, Onilé, Egungun e Gèlèdè.
Como relata Ifá, o único Òrìsa que não possui relação com Ikú é o Òrìsa Òsún. Por ela não aceitar qualquer relação com situações de morte, também não aceita que os animais sejam sacrificados (mortos) em cima de seu Okuta.
Não admiti a utilização de qualquer utensí¬lio de cor escura, nem ossos, buracos, agressividade e doença, Devido as suas relações com a morte. Isto também explica o porquê Òsún não aceita que suas filhas morram facilmente, assim Òsún as protege, dando-lhes longa-vida, numa ânsia de prolongar ao Maximo o contato com a morte. Todos esses aspectos de Òsún estão relatados nos Itãn do Odu Ósé.
Assim, o ovo de pata é amplamente utilizado nos “Èbós-Aiku” (sacrificio de longevidade), tirando qualquer tipo de morte, seja material, espiritual, financeira ou sentimental.
Fica claro que o ovo utilizado na casa de Òrìsa é um elemento de Ìyàmi-Òòsòróngà sendo um elemento de muito Àsé.
Classificação dos Ovos:
Ovo de galinha cru: purifica e tranqüiliza.
Ovo de galinha cozido: tira doenças.
Ovo de galinha esfarinhado: neutraliza negatividade do ambiente, atrai prosperidade e abundância.
Ovo de pata cru: enfraquece a força da morte, doenças graves e perdas.
Ovo de codorna: Neutraliza feitiços.
Ovo de Dangola: propicia dinheiro, sorte, prosperidade, riqueza e sucesso nos negócios.
Ovo de pombo: propicia tranqüilidade e fertilidade.
O Màrìwò (Igi Òpè) é a folha do Dendezeiro que para o povo do candomblé e tido como uma planta sagrada.
O Màrìwò é encontrado nas portas e nas janelas do terreiro e também no assentemento e nas vestes do orixá Ogún e de Oyá Igbalé.
Segundo a mitologia do candomblé, a função do Màrìwò é espantar as energias negativas e espíritos perturbadores, tendo esta função, a Orixá Oyá Igbalé (mais conhecida como Iansã do Balé), a divindade que preside sobre os Eguns, carrega-o também sobre as suas vestes.
Todo integrante do culto aos Egungun é chamado de Màrìwò
O Màrìwò é encontrado nas portas e nas janelas do terreiro e também no assentemento e nas vestes do orixá Ogún e de Oyá Igbalé.
Segundo a mitologia do candomblé, a função do Màrìwò é espantar as energias negativas e espíritos perturbadores, tendo esta função, a Orixá Oyá Igbalé (mais conhecida como Iansã do Balé), a divindade que preside sobre os Eguns, carrega-o também sobre as suas vestes.
Todo integrante do culto aos Egungun é chamado de Màrìwò
Nação Cabinda
A nação Cabinda, originária de Angola, adotou o panteão dos Orixás Iorubas, embora estas divindades Bantus teriam como nome correto Inkince.
Os Inkinces são para os Bantus o mesmo que os Orixás para os Yorubás, e o mesmo que os Voduns são para os Jêjes. Não se trata da mesma divindade, cada Inkince, Orixá ou Vodum possui identidade própria e culturas totalmente distintas. A linguagem ritual originou-se predominantemente das línguas Kimbundo e Kikongo; são línguas muito parecidas e ainda utilizadas atualmente. O Kimbundo é o segundo idioma nacional em Angola. O Kikongo, provém do Congo, sendo também falado em Angola.
Aqui no Rio Grande do Sul a raiz forte da Cabinda foi o Sr. Valdemar Antonio dos Santos, filho do Orixá Xangô Kamucá Baruálofina; Dizem ter sido iniciado por um ex-escravo conhecido como “Nêgo Gululu”. Uma de suas descendentes foi a Sra. Madalena de Oxum, que se destacou grandiosamente dentro desta nação.
Outros que iniciaram pelas mãos de Valdemar de Xangô, e alguns, com sua morte passaram para as mãos de Mãe Madalena de Oxum: Pai Tati de Bará, Mãe Palmira de Oxum, Ramão de Ogum, Moacir de Xangô (tinha o apelido de Guri Bontito), Pai Mario de Ogum e Pai Nascimento de Sakpatá, oriundo de outra nação. Depois foram surgindo outros ícones da nação Cabinda, onde podemos citar Pai Romário de Oxalá, filho de santo de Mãe Madalena de Oxum; Mãe Olê de Xangô, mulher de Pai Tati de Bará; Pai Henrique de Oxum, enteado e filho de santo de Mãe Palmira de Oxum; Pai Adão de Bará de Exu Biomi; Pai Cleon de Oxalá; Antonio Carlos de Xangô, Alabê e Babalorixá, Mãe Marlene de Oxum, filha de santo de Pai Romário; Pai Paulo Tadeu de Xangô; Pai Genercy de Xangô; Hélio de Xangô, filho de santo de Pai Adão de Bará; Didi de Xangô; João Carlos de Oxalá, de Pelotas; Juarez de Bará; Pai Gabriel de Oxum, que foi um grande Babalorixá da Nação Cabinda, filho de santo de Romário de Oxalá; Lurdes do Ogum; Enio de Oxum, Luiz Vó da Oxum Docô e mãe Sonia de Oxum também da casa de Pai Romário; Ydy de Oxum, Pai Raul de Xangô herdeiro espiritual de Pai Henrique de Oxum, entre muitos outros que conservam, ainda, os fundamentos desta Nação tão importante nos rituais Africanos do Sul.
Os praticantes da Nação Cabinda também se valem dos rituais da Nação Ijexá, já que esta última é atualmente a modalidade ritual predominante aqui no Rio Grande do Sul; a diferença se dá basicamente no respeito à memória de seus ancestrais e a outros fatores como o início dos fundamentos da Nação Cabinda, que é justamente onde termina os das outras Nações: o cemitério.
O Orixá Xangô é considerado Rei desta nação e o culto aos Eguns é tão forte que na maioria dos terreiros de Cabinda, se encontra o assentamento de Balé (culto aos Eguns); Os filhos de Oxum, Yemanja e Oxalá, podem entrar e sair de cemitérios quando necessário for, sem nenhum prejuízo a sua feitura, já nas outras nações estes só entram no cemitério em extrema necessidade; Se estiver acontecendo uma festa num terreiro de Cabinda, e se o Orixá Xangô, tendo recebido oferendas de quatro pés, e vier a falecer algum membro da casa ou da família religiosa, não ficará a obrigação prejudicada, conforme acontece nos outros terreiros, nos quais teriam que interromper toda a obrigação.
Os Orixás cultuados na Nação Cabinda são os mesmos da Nação Ijexá.
Nação Jêje
Quando se fala em Nação Jêje, aqui no sul do Brasil, logo se lembra do Pai de um dos pais de santo mais famosos desta nação que foi o Pai Joãozinho de Bará (Exu Bý), morou no Mont Serrat, “exportou o batuque para além das fronteiras do Brasil, para países como Uruguai e Argentina. Era filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Aganju, iniciada pelo príncipe Custódio de Xapanã. O Jêje, assim como o Ijexá, teve várias raízes. Além do pessoal oriundo do terreiro de Custódio de Xapanã, sabe-se de outras vertentes puras desta nação oriunda do antigo Dahomé, hoje Benin. Podemos mencionar neste trabalho de resgate de nossas raízes religiosas a figura da Yalorixá Isolina de Xangô Ainã, das mais antigas na nação Jêje, avó materna de Pai Pedro de Iemanjá. Foi ela quem iniciou verdadeiramente o neto José Pedro Barbosa de Lima nos rituais de nação.
Do terreiro de pai João podemos dizer que sua primeira filha de santo foi a sra. Vandina de Oxum e depois dela vieram outros importantes adeptos do ritual Jêje que se tornaram Babalorixás e Yalorixás onde podemos destacar alguns como a tia Nica do Bará, Alzira de Xangô, Dêde de Oxum, tio Cristóvao de Oxum e sua irmã Conceição, Valdomiro de Bará Lodê, muito respeitado e temido por todos, foi um dos maiores feiticeiros que se teve conhecimento no Rio Grande do Sul; dona Cótinha de Xangô, Valina de Oyá, irmã de Vandina de Oxum; Pai Pirica de Xangô, mãe Jurema de Xangô, tamboreira, teve sua iniciação pelas mãos de Paulino de Oxalá do Ijexá, e com a morte deste passou para o terreiro de pai João; Evinha de Xangô, também, uma das melhores tamboreiras do Sul; tia Licinha de Oyá, Aurora de Ogum, vó de pai Pirica de Xangô; tia Eva de Bará, João vó da Oxum Docô; Rosália de Odé, Landa do Bará, Tirôni de Xapanã; Reni de Iansã, filha de criação de pai João; Pequeno de Bará Lodê, esposo de Reni de Iansã; tia Tereza de Oxalá, filha consanguínea de mãe Alzira de Xangô; tia Jaci de Yemanjá; Valdir de Xangô; Mesquita de Xangô; Nadir de Ogum; Zé de Xangô, tio de Valdir de Xangô; pai Nelson de Xangô, pai de santo de Vinícios de Oxalá; Zé da Sáia de Xangô; Ziza de Odé; Zaida de Oxalá; Julieta de Odé; Patinha de Bará; Marta de Bará, famosa por sua vidência, também praticava o culto à Umbanda; as mulheres grávidas, faziam filas na porta de sua casa para saber o sexo do bebê; mãe Leda de Xangô, também famosa por seus feitos na Umbanda e vidente das melhores, tenho muitos agradecimentos à esta grande mãe de santo; Santa de Yemanjá; mãe Catarina de Ogum; pai Tião de Bará; Elaine de Oxum; Cleusa de Oyá; Elza de Oxalá, morava no Rio de Janeiro, para onde pai João viajava frequentemente. Os terreiros de Jêje praticam junto o ritual de Ijexá (nagô), cujas rezas e rituais são utilizadas em quase todos os terreiros de Batuque do Rio Grande do Sul e nos países vizinhos, onde o ritual africano do sul foi evidenciado como Uruguai e Argentina. A linguagem ritual de Jêje é o Fon e a dança é feita em par; as pessoas dançam de par, uma de frente para outra e alternam os lugares conforme muda o ritmo dos tambores. Os tambores são em tamanho pequeno. Um tamboreiro toca com dois Aquidavís e o outro faz a marcação apenas com um. O acompanhamento é feito com um instrumento denominado “Gãn”. Os terreiros mais tradicionais não usam o agê (xequerê para alguns) quando tocam Jêje puro. Joãozinho de Bará e sua irmã Licinha tocavam juntos, dizem que o ritual ficava muito mais belo quando os dois se juntavam para ritmar os tambores de Jêje.
Joãozinho do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo, ensinava os filhos a tirar as rezas dos Orixás e a tocar tambor; ele ensinava os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os aquidavís, e com certeza logo aprendiam. Ele foi uma árvore que deu muitos frutos. Ainda há alguns terreiros que conseguem fazer o ritual Jêje, destas podemos citar a casa de pai Pirica, Jorginho de Bará, Pai Nelson de Xangô, Tião de Bará e seus respectivos descendentes, que também completam seus rituais com as rezas da nação Ijexá de linguagem Yorubá, mas são nestes terreiros que ainda se vê acontecer o ritual jêje-nagô à moda antiga. O que é chamado de nação Jêje é o ritual africano formado pelos povos fons vindo da região de Daomé, hoje Benin. Os povos Jêjes, chegados ao Brasil, em sua grande maioria se estabeleceram em São Luiz do Maranhão, onde ainda existe a Casa das Minas, Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), Rio de Janeiro e para o Rio Grande do Sul sabe-se que vieram alguns descendentes do Daomé, inclusive um príncipe. O Daomé foi colônia de diversos países , e quando passou a ser propriedade da Grã-Bretanha, os Ingleses tiveram que entrar em acordo com os Reis e príncipes negros que governavam as terras. Um desses acordos resultou a vinda de um príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina; este escolheu o Brasil, inicialmente fixou-se em Rio Grande e, mais tarde foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa Africana. De Bagé veio para Porto Alegre, adotou como nome Custódio Joaquim de Almeida, conhecido no meio religioso como Príncipe Cústódio. Seu ilê era frequentado por figuras importantes da época, inclusive foi ele quem fez o assentamento de um Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos adeptos do culto africano fazem reverencia cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás.
Nação Oyó
A maioria dos rituais africanos praticados dentro do Rio Grande do Sul, vem do interior da África, principalmente das regiões da Nigéria onde encontramos as cidades de Ìlèsà, cujo povo é conhecido como da nação Ijexá e Oyó, a terra de Xangô, o Obá (Rei) de Oyó. No Brasil a vida útil do negro, escravo, era muito curta, pois passavam a maior parte de suas vidas trabalhando para seus servos; fora as epidemias e outras doenças, na época incuráveis, que acabaram matando centenas dos nossos antepassados. Devido a estas e outras dificuldades, nossos antigos sacerdotes acabaram levando para o túmulo muitos conhecimentos dos rituais sagrados africanos; Contudo ainda conseguimos guardar boa parte dos fundamentos das diversas nações vindas da África, berço histórico do Brasil; entre estes fundamentos temos a nação Oyó cujas tradições de seus rituais permanecem vivos aqui em Porto Alegre, e em algumas cidades do interior do estado. Para nós Rio-grandenses é um privilégio ter a presença desta nação, pois quase não se ouve falar de Oyó em outras partes do Brasil, pois raras foram as vezes em que os interessados na captura de escravos conseguiram atingir as localidades do interior da Nigéria, como as cidades de Oyó e Ilexá.
Uma das fontes da nação Oyó na cidade de Porto Alegre foi a Sra. Ermínia Manoela de Araújo, conhecida como mãe Donga de Oxum. Era filha de Oxum (Osun) com Ossãe (Osányìn); morava na colônia africana, nas imediações onde é hoje o Auditório Araújo Viana.
Dona Ermínia nasceu no dia cinco de maio de 1889, filha de uma grande Yalorixá da linhagem de Xangô; era uma negra de grande sabedoria, e seguia as tradições religiosas de acordo com o que herdou de seus genitores, que praticavam as culturas de Oyó e Ijexá juntos, já naquela época, até por que são nações de muita proximidade dentro do território nigeriano, inclusive a língua Yorubá é o idioma falado pelos dois povos, com apenas algumas diferenças no dialeto.
Nas aldeias africanas os assentamentos de Orixás eram feitos para servir uma comunidade inteira, até mesmo uma cidade, e toda população se dedicavam aquele Orixá cultuado na região; os assentamentos, os rituais, as obrigações ficavam de uma geração para outra; tem lugares que ainda hoje, conservam assentamentos de Orixás com quatrocentos anos ou mais, eu mesmo visitei um terreiro em Salvador que mantém um Xangô Ogodô, trazido da África, cujo assentamento foi feito a mais de duzentos anos. Foi esta tradição que deu origem ao Xangô Aganjú do Povo. As tradições deste ritual foram passados à mãe Donga, e não é apenas um okutá de Xangô, é sim um conjunto de Orixás (Irúnmòle), que foram preparados para servir a comunidade inteira daquela família religiosa de tradição Oyó da bacia de mãe Donga de Oxum, e ser passado pelas gerações vindouras. E assim aconteceu; os assentamentos após passar por vários terreiros de Oyó, hoje estão, nas mãos de uma descendente direta de mãe Donga, a Yalorixá Nélia de Ossãe, que humildemente tem a guarda destes assentamentos em seu terreiro. Antigamente era escolhido um Axogum (Asògún), ou seja, um homem que teria a função de fazer o sacrifício dos animais para este ritual; um deles foi o senhor Mário Lopes, que após um derrame passou o cargo ao Sr. Rolim de Oxalá, que morou na rua Lucas de Oliveira, e antes de falecer passou a responsabilidade para o sr. Jorge de Xapanã; após sua morte não se teve uma pessoa exclusivamente para fazer os sacrifícios para Xangô Aganjú do Povo, hoje a responsabilidade da matança é da pessoa que tem a guarda dos assentamentos em seu terreiro, e a data da festa é sempre o dia vinte e dois de julho, que antigamente movimentava todo o povo de santo de Porto Alegre e arredores.
Ermínia Manoela de Araújo teve quatro filhos: Maria Rosaura de Araújo Souza, ficou conhecida como mãe Rosália de Xangô, nasceu em 8 de abril de 1911 e faleceu em 05 de agosto de 1989; Luiza de Araújo Souza, conhecida como tia Luiza de Ogum, nasceu em 25 de novembro de 1915 e morreu em 19 de julho de 1994; Mário de Araújo Souza, conhecido como Mário Bocão, filho de Odé, não temos certeza das datas de seu nascimento e morte; e a outra filha era Lurdes de Araújo Souza, cujo Orixá era Xapanã, também não temos certeza das datas de seu nascimento e morte. Dona Ermínia (Donga de Oxum) contraiu a gripe espanhola e faleceu em 1918, deixando os quatro filhos pequenos, tia Rosália de Xangô com seis anos e sua irmã Luiza de Ogum com dois anos de idade, e os outros dois filhos também pequenos. Em Porto alegre, foi criado um cemitério especialmente para as vitimas da gripe espanhola, que matou em todo país cerca de 300 mil pessoas.
O único filho de santo que Dona Donga de Oxum deixou pronto com todos os assentamentos foi o Sr. Antoninho de Oxum, que herdou além das tradições religiosas, também todos os seu filhos de ventre e de axé (filhos de santo); as informações sobre a vida de mãe Donga me foram passadas pela Yalorixá Nélia de Ossãe, filha carnal de tia Luiza de Ogum.
Dona Donga tinha uma cunhada que também seguia as tradições da nação Oyó, chamada dona Leopoldina de Oxalá, que também passou ser filha de santo e auxiliar de Pai Antoninho, junto com uma outra senhora chamada carinhosamente de Velha, que também foi uma luz neste antigo terreiro. Antoninho de Oxum trabalhava fora e ainda arrumava tempo para se dedicar a inúmeros filhos de santo e consulentes que o procuravam; teve dois filhos carnais, e outros tantos de criação, entre elas dona "dona Maria Garçoneta" que morava nas imediações da Igreja Nsra. Do Trabalho, tive a felicidade participar de um batuque em seu ilê, na Vila Ipiranga.
Em tempos passados os Babalorixás e Yalorixás, além da prática religiosa, dedicavam-se à caridade, a maioria tinha muitos filhos de criação, inclusive se um indivíduo estivesse passando necessidades, era acolhido no terreiro até que tivesse condições de sobrevivência, aquele ia embora e já dava lugar a outro.
Hoje, em alguns casos, é difícil até mesmo a própria sobrevivência dos sacerdotes, já não da mais para seguir o exemplo de amparar os necessitados nos terreiros.
A maioria do pessoal que escreve sobre a religião africana no Rio Grande do Sul, cita o Príncipe Custódio como introdutor dos rituais de Batuque aqui no sul, não é bem assim, pois o negro se faz presente neste Estado muito antes da família de Osuanlele (Príncipe Custódio) ser retirada em 1897 de Benin (antigo Daomé), já no censo da população do Rio Grande do Sul, feita no ano de 1814, nos mostra uma população negra expressiva perfazendo um total de 36,7% de afro-brasileiros, contra um total de 45,6% de brancos no estado, outro dado relevante é que pesquisadores, sérios, situam o período inicial do Batuque nesta região entre os anos de 1833 e 1859, na mesma época em que o Candomblé ganhava espaço na Bahia. O lendário Príncipe Custódio só pisa em solo gaúcho no ano de 1899, na cidade de Rio Grande, e já encontra aqui rituais religiosos de origem africana, popularmente denominada de Batuque. Ele contribuiu sim com nossa religião, com seus contatos políticos, pois Custódio, vinha de uma família nobre, sua saída da África foi política; ele sabia como se destacar e fazia bom uso de sua sabedoria religiosa, o que ajudou a travar as perseguições as casas de culto africano. As pesquisas realizadas para saber sobre as nações Oyó, Cabinda, Ijexá e Jêje nos comprovam que o Batuque se estabeleceu aqui no Rio Grande do Sul há quase dois séculos;
Ainda falando da nação Oyó outra contemporânea de mãe Donga de Oxum foi mãe Andrezza Ferreira da Silva, que foi pronta na religião por um velho babalorixá que ainda tinha a sua volta alguns africanos nativos, e ela teria vivido de 1882 a 1951 em Porto Alegre.
Dos descendentes religiosos da raiz de Pai Antoninho de Oxum, os que mais se destacaram foram: a yalorixá Rosália de Xangô, que morreu com 79 anos de idade; morou alguns anos na rua Souza Lobo, na vila jardim, onde tive o privilégio de participar de um ritual de Batuque em seu ilê; sua irmã de ventre e de axé que foi tia Luiza de Ogum que morreu com 78 anos, morou na avenida Saturnino de Brito, 408 na vila jardim, deixou dois filhos, uma é Nelia de Ossãe, que é quem mantém vivo o ritual do Xangô Aganjú do Povo em Porto Alegre, e o outro filho já é falecido. Outra mãe de santo que se destacou muito, uma das mais importantes, depois de Antoninho, foi a sra. Lídia Gonçalves da Rocha, popularmente conhecida como mãe "Moça de Oxum", que entrou para a religião africana aos cuidados de pai Antoninho de Oxum por motivos de doença e se tornou a mais destacada yalorixá da nação Oyó dos últimos tempos; podemos citar também, Cecília de Xangô Aganjú; mãe Leopoldina de Oxalá que era cunhada de mãe Donga de Oxum; Mocinha de Oxalá; Mário "bocão" se destacou como Alabê (tamboreiro) da nação Oyó e também aprendeu a tocar Jêje com os aquidavis; Jorgina de Xapanã; Dilina de Oxum; mãe Manoela Mendonça de Oxum; Pai Máximo de Odé, que também era tamboreiro; pai Máximo de Odé também foi pai de santo de Tia Valesca, esposa de pai Antoninho; Mijica de Yemanjá; Benjamim de Oxalá; Camarada de Yemanjá; mãe Quininha de Oyá, mãe Andressa de Oxum; mãe Manoelinha de Oxum, mãe Miguela de Xangô, esta Yalorixá foi uma das ultimas a fazer durante os toques, a fogueira de Xangô, e paramentava todos os Orixás com suas vestes e indumentárias; A mãe Oxum de pai Antoninho também se paramentava quando "incorporada" em seu filho, usava suas vestes com muitas pedrarias. Doralice da Silva Alves, conhecida como Chininha de Oxalá, era casada com pai Máximo de Odé, ela também tinha o apelido de "Caquinha" e aprontou outros bons descendentes do Oyó como a mãe Vera de Ossãe e Sarinha de Xangô, que completou 60 anos de assentamento de seu pai Xangô no dia 18 de outubro de 2004; outros da raiz Oyó que podemos citar são as pessoas de Guilhermina de Yemanjá, que era cozinheira da casa de Antoninho, e também fez "pirão" na casa de muita gente antiga do Oyó; João Gumercindo Saraiva, esposo de dona Doralvina; Yatolá de Oyá, pai Darci de Oxalá, entre outros; Felisberto de Ossãe. Outras pessoas que também se destacaram na nação Oyó foram: mãe Apolinária Batista, Olga da Iansã, Fábio de Oxum, Tim de Ogum, mãe Albertina de Obá; Edelvira de Oxalá, pai Acimar de Xangô; Luiz de Bará; Paulinho de Xangô (filho de santo de mãe Rosália de xangô);; Esperança de Oyá; Toninho de Xangô, herdeiro espiritual de pai Acimar de Xangô. Vários informantes dizem que pai Joãozinho de Bará, também teve uma breve passagem pelas mãos de pai Antoninho de Oxum.
Pai Antoninho de Oxum morou no Mont'Serrat, na cidade de Porto Alegre, e segundo consta faleceu no ano de 1932.
E mais recente, na história do Oyó, podemos citar alguns descendentes da geração de mãe Moça de Oxum, que também contribuem ou contribuíram para continuidade dos rituais de Oyó como: Laudelina de Bará; Valdomiro de Oxalá, alabê, Zeca Neto de Oxalá; Carola de Oxum; Eva de Oxum; Leinha de Oxum, (falecida em fevereiro de 2005) e Odete de Oxum entre outros.
Há uma outra grande raiz da nação Oyó que derivou de uma famosa mãe de santo chamada Emília fontes de Araújo, Mãe Emília de Oyá Ladjá. Era descendente de uma família nobre da África, morou na rua Visconde do Herval em Porto Alegre, era contemporânea de Antoninho da Oxum, porém não tinham ligações de bacia, apenas elos de nação. Segundo informações coletadas junto a Pai Paulinho de Agandjú, Mãe Emília faleceu por volta de 1929 e deixou vários herdeiros de seu ritual, onde podemos citar: Mãe Alice de Oxum; Pai Alcebíades de Xangô; Vó Dóca de Yemanjá que morava na av. Praia de Belas esquina com a rua Rodolfo Gomes, Mãe Matilde Fabrício, mãe carnal de Mãe Nenéca de Xangô, que também é herdeira espiritual desta raiz do Oyó; Mãe Cadinha de Odé; Mãe Araci de Odé, que faleceu com 112 anos de idade, e seu Orixá Ode tinha 91 anos de assentamento. Dona Araci fez um ritual de entrega de Axé de Búzios na casa de mãe Ilda de Obá no qual eu estava presente, e até então nunca tinha assistido algo igual. As obrigações do ritual fúnebre de mãe Araci foram feitas por Pai Paulinho de Agandjú, por recomendações expressas da própria Araci, que deixou gravado sua exigência. Eram também da casa de Mãe Emília as pessoas de Negrinha de Odé; Ramiro de Ogum; Dona Rola, esposa de Pai Alcebíades de Xangô.
Mãe Alice de Oxum, se destaca também nesta ramificação do Oyó, deixando vários herdeiros espirituais, entre estes podemos citar a mãe Nicóla de Xangô Dadá, que morou na rua Cuibá, 95 e faleceu em 1975 aos 69 anos de idade, vitima de derrame. Mãe Nicóla deixou vários filhos de santo, um dos que mais se destacou e ainda hoje cumpre os rígidos rituais de sua raiz é a pessoa que nos passa estas informações, Pai Paulinho de Agandjú, com 64 de idade, e seu Orixá com 50 anos de assentamento. Com a morte de Mãe Nicóla, terminou de aprontar na religião alguns de seus descendentes como, Pai Adãozinho de Bará, um dos principais Alabês da Nação Oyó. Pai Paulinho fala com autoridade dos rituais que pratica, como a obrigação de Tumbê, Arikú e muitas outras que ainda mantém; e nos cita como sendo ordem de toque para os Orixás de seu terreiro a seguinte seqüência: Bará, Ogum, Xapanã, Odé, Ossãe, Orunmilá, Obokun, Xangô, Ibejis, Agandjú, Yemanjá, Otim, Obá, Nana Buruku, Yewa, Oxum, Oyá e Oxalá.
Alguns sacerdotes nos dão a informação no tocante aos rituais de Batuque da nação Oyó, dizendo que a ordem de toque para os Orixás em seus terreiros seguem quase a mesma seqüência da nação Ijexá: Bará, Ogum. Oyá, Xangô, Ibejis, Odé, Otim, Obá, Ossãe, Xapanã, Oxum, Yemanjá e Oxalá; e outros dizem que as casas antigas de Oyó, tocavam primeiro para os Orixás masculinos, e depois para as Yabás (Orixás femininos) na seguinte ordem: Bará, Ogum, Ossãe, Xapanã, Odé e Otim, Xangô, Ibejis, Obá, Oyá, Oxum, Yemanjá e Oxalá. O fato é que há varias fontes da mesma nação, cada uma seguindo os costumes de seu terreiro de origem, muitos se vendo num segmento de nação pura, outras mesclando com outras nações, e assimilando outras práticas em seus rituais.
Das antigas nações africanas que se fixaram no Rio Grande do Sul, e que foram submetidas, a variados graus de mudança e assimilação, ressalta a do Ijexá como a que melhor conservou a configuração africana original absorvendo outras nações. Os sacerdotes e iniciados por mais antigos que sejam, nos cultos africanos no Rio Grande do Sul, na maioria, se mesclaram com o Ijexá, esse processo, entretanto, não eliminou de todo a consciência histórica e certas tradições religiosas que predominam tanto no Oyó como também no Jêje e na Cabinda; se alguém tiver alguma informação que possa nos ajudar no resgate a história das nações africanas no Estado do Rio Grande do Sul, por favor entrar em contato via e-mail deste site, pois toda informação é bem vinda.
Homenagens
É preciso lembrar que o batuque continua. Já mencionei, na maioria, o pessoal da antiguidade que deu estrutura à religião, porém, além destes, não posso deixar de homenagear aqueles que nos dias de hoje, tanto os “velhos” como os “jovens” que se dedicam a cultuar e manter firme os fundamentos da nação dos Orixás no Rio Grande do Sul. Por enquanto vamos citar: Pai Ademar de Ogum e Ostilio de Oxalá, Babalorixás e alabês da Nação Ijexá; Marcelo do Oxalá, filho carnal de mãe Pedrinha da Iansã; Emilinha da Yemanjá; João do Oxalá, da bacia de mãe Ilda da Obá; Edemar da Yemanjá, neto de santo de mãe Preta de Oxalá da nação Ijexá; Tia Eva do Ossãe, filha carnal do Pai Idalino de Ogum; lonice de Oxum e tia Ione de Oxum, netas de Pai Idalino de Ogum; mãe Dora de Oxum da cidade de Alvorada (nação Jêje-Ijexá); Jorge de Bará (Jorginho filho de Pai Pirica, nação Jêje); Tião do Bará (nação Jêje), Jorge do Oxalá (nação Jêje-Ijexá); Didi de Xangô da bacia de Pai Adão de Bará; Marquinhos da Oxum, da bacia de Mãe Estela da Yemanjá e Maria da Oyá; Roberto do Ogum, da raiz de mãe Maria da Oyá; Pai Nazário de Bará, da bacia de Pai Mario de Oxum (nação cabinda); Alfredo de Xangô; mãe Nilza de Yemanjá e Yeda de Ogum; Jorge Verardi de Xangô, da bacia de Pai Leopoldo de Yansã; Renato de Ogum, da bacia de Menicio da Yemanjá; Dona Moza de Ogum, da bacia de Idalino de Ogum e Jovita de Xangô, Dona Moza foi esposa de Leopoldo da Yansã; Sirlei da Yemanjá, da bacia de mãe Preta de Oxalá; Maria Antonia de Oxalá, filha de mãe Apolinária, e seus filhos Junior de Bará e Rose de Ogum(nação Oyó); mãe Miguela de Bará da nação Ijexá-Jêje; mãe Santinha de Ogum, da bacia de mãe Estela de Yemanjá; Rosa de Yemanjá e Tereza de Oxum, da bacia de mãe Ovidia de Oxum; Neuza de Bará Ajelú, filha de Almiro de Bará (nação Ijexá); mãe Ofélia da Yemanjá, uma das mais antigas Yalorixás da nação Ijexá;; Janete de Yansã; Mãe Eva do Ogum, da bacia de Pai Idalino do ogum; Vera do Oxalá, filha carnal de mãe Albertina da Obá; Wilian da Yansã; Lola do Bará; Leci do Bará; Celso do Oxalá; Sandra do Ogum; Carlos do Bará; Nitinha de Oxum; Ondina de Xangô da nação Jêje; Marinho de Oxalá; Maria do Xangô; Alabê Marcos do Bará; Vera do Ogum;
Póstumas:
Pai Mauro de Xangô, Miguel de Xangô , da bacia de mãe Estela de Yemanjá; Salvahine da Oxum; Juvenal do Ossãe; Laerte da Yemanjá, da bacia de Menicio da Yemanjá e Olmira de Xangô; Pedrinha da Yansã; Sérgio do Ogum, da bacia de Almiro de Bará; Sérgio da Yansã e Renato de Ogum, da bacia da Catarina de Ogum; Marcelinho de Ogum, da bacia de Menicio da Yemanjá; Delurdes de Xapanã, da bacia da mãe Olmira de Xangô; Luiz Carlos da Oxum, da bacia de Pai Romário de Oxalá; Pai Paulinho da Yemanjá, da bacia de mãe Arina de Bará; Clemir de Bará; Pai Pity de Xangô; Suca de Yansã; Alice de Oxalá, da bacia de Mãe Olmira; Jorge do Ogum, da bacia de Almiro de Bará; Sodré da Yansã; Celso de Bará, da bacia de Tião de Bará; Vó Dora da Yansã; mãe Jovita de Xangô; Pai Hugo da Yemanjá; Tureba de Ogum; mãe Otilia de Ossãe, Pai Chico de Ogum, e outros tantos que se foram para o Orum, mas continuam vivos na memória de seus amigos e descendentes.
Candomblé
O Candomblé é um segmento religioso que pratica as tradições, ritos e crenças africanas, trazidos pelos antepassados, cujos rituais tem origens nas culturas Jêje, Ketu, Angola, entre outras nações que fazem parte das religiões afro-brasileiras.
A cultura religiosa africana foi desenvolvida no Brasil através do conhecimento de sacerdotes negros, que com parte de seu povo, foram capturados e escravizados, juntamente com seus Orixás, entre 1532 e 1888.
Com o "fim" da escravatura em 1888, o candomblé se expandiu consideravelmente, e prosperou muito desde então. Hoje, cerca de 3 milhões de brasileiros declaram ser seguidores das religiões afro, mas acredito que o número seja bem maior, visto que, conforme o local e ocasião os seguidores dizem ser católicos, com medo da discriminação; (os católicos, de acordo com o censo somam 75%, enquanto os que praticam as religiões afro-brasileiras aparecem com 1,5% da população brasileira).
Os negros escravos pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os Yorubá (Nagôs), os Ewe, os Fon, e os Bantos, que contribuíram não só com seus rituais religiosos, mas, também com a música, dança, alimentação, língua e outras manifestações culturais como o samba, capoeira, em fim a contribuição cultural negra é inestimável. O negro escravizado ao invés de se isolar, aprendeu a conviver entre grupos étnicos diferentes. A religião africana ao chegar no Brasil sofreu uma transformação imposta pela nova fronteira e pela nova sociedade em transformação. O homem africano foi proibido de praticar seus ritos, no entanto nossos Orixás mais importantes chegaram até hoje com a proteção do sincretismo católico, contudo, o negro conseguiu preservar as crenças étnicas principalmente os ritos de iniciação, os cânticos em linguagens africanas, o culto aos antepassados entre outras tradições. Através do tempo os vários cultos foram se transformando até assumirem uma postura mais ou menos fiel a sua origem.
Os Orixás da Mitologia Yorubá, foram criados por um Deus supremo chamado Olorum (Olóòrun) ou Olodumare (Olódùmarè); já os Voduns da Mitologia Fon ou Mitologia Ewe, foram criados por Mawu e Lisa; e os Nkisis (inquices) da Mitologia Banto, foram criados por Zambi, Deus supremo e criador.
Candomblé de Ketu
Ketu é o nome de um antigo reino da África, na região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria. Seu rei tem o nome de alaketu, de onde vem o sobrenome da conhecida ialorixá Olga de Alaketo. Também indica o nome do povo dessa região, que veio como escravo para o Brasil. Em termos de identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura iorubana. Em geral, membros de origem ketu são responsáveis por boa parte dos terreiros mais tradicionais da Bahia. É a maior e mais popular nação do Candomblé, e a diferença das outras nações está no idioma utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e símbolos dos Orixás, e nas cantigas; Os fundamentos são passados oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá (masculino) Yalorixá (feminino). Os rituais mais conhecidos são: Padê, Sacrifício, Oferenda, lavar contas, Ossé, Xirê, Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de Oxum e Axexê. Uma outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou Baba Ojé, que faz o uso de um ixãn para dominar os Eguns; conforme informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Balbino de Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande do Sul, sempre, é o próprio Sacerdote de orixá quem faz os rituais de Eguns.
Os cargos principais na nação Ketu são:
- Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé
- Iyakekerê: mãe pequena
- Babakekerê: pai pequeno
- Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.
- Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação.
- Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.
- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de santo.
- Iaô: filha de santo (que já incorpora Orixá).
- Abian: novato.
- Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.
- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.
- Ogan: tocadores de atabaques.
- Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.
Os Orixás cultuados na nação Ketu são: Exu, Ogum, Oxossi, Logunedé, Xangô, Obaluayê, Oxumaré, Ossaim, Oyá ou Iansã, Oxum, Iemanjá, Nana, Ewa, Oba, Axabó (Orixá feminino da família de Xangô),Oxalá, Ibeji, Irôco, Ifá ou Orunmila.
Na nação Ketu, existente principalmente na Bahia, predominam os Orixás de origem Yorubá, e os terreiros mais conhecidos são: a Casa Branca do Engenho Velho, o Ilê Axé Opô Afonjá, o Gantois; o Candomblé de Alaketu e o Ilê Axé Opô Aganjú localizado em Lauro de Freitas. O Candomblé de origem ketu já se espalhou por todos os grandes centros urbanos do Brasil e também para o exterior, e nota-se um movimento de recuperação de raízes africanas, que rejeita o sincretismo católico, procurando reaprender o yorubá como língua original e tenta reproduzir os rituais que estavam perdidos ao longo do tempo, há casos em que muitos sacerdotes procuram viajar até a África para descobrir mais sobre a cultura dos Orixás.
Candomblé de Angola
Religião afro-brasileira, de origem banto, que compreende as nações de Angola e Congo (Cassanges, Kikongos, Kimbundo, Umbundo e Kiocos), e se desenvolveu entre os escravos africanos que falavam a linguagem Kimbundo e Kikongo e são facilmente reconhecidos pela maneira diferente de cantar, dançar e percutir seus tambores.
Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância é para homem Tata Nkisi (tata de inquinces) e para mulher Mametu Nkisi (Mametu de inquices), que correspondem ao Babalorixá e a Yalorixá dos Yorubás, e o Deus supremo é Zambi (Nzambi) ou Zambiapongo (Ndala Karitanga).
O Candomblé de Caboclo é uma modalidade desta nação, e cultua os antepassados indígenas. Há uma nação que faz parte do Batuque do Rio Grande do Sul que descende de Angola, que é a Cabinda.
Os rituais da nação Angola começam com o Massangá, que é o batismo na cabeça do iniciado, feito com água doce e Obi; Bori com sacrifício de animais para o uso do sangue (menga); ritual de raspagem, conhecido como feitura de santo; ritual de obrigação de 1 ano; ritual de obrigação de 3 anos, onde muda o grau de iniciação; ritual de obrigação de 5 anos, com o uso de frutas, obrigação de 7 anos, quando o iniciado recebe seu cargo, é elevado ao grau de Tata Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora). Após 7 anos de obrigações, será renovado a cada ano com o rito de Obi ou Bori, conforme o caso, e de 7 em 7 anos se repete as obrigações para conservar o individuo forte, se transformando em Kukala Ni Nguzu, que quer dizer um ser forte. Além dos búzios, outro sistema antigo de consulta é o Ngombo, no qual o adivinhador recebe o nome de Kambuna.
Os principais Nkisi são: Aluvaiá (também conhecido como: Nkuyu Nfinda, Tata Nfinda, Tona e Cubango), Bombo Njila(Bombojira), Vangira(feminino), Pambu Njila, Pambuguera; Nkisi Nkosi Mukumbe, Roxi Mukumbe, Burê; Nkisi Kabila, Mutalambô, Gongobila, Lambaranguange; Nkise Katendê; Nkisi Zaze (Nsasi, Mukiamamuilo, Kibuco, Kiassubangango) Loango; Nkisi Kaviungo ou Kavungo, Kafungê; Nkise Angorô e Angoroméa; Nkisi Kitembo ou Tempo; Nkisi Tere-Kompenso; Nkisi Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula; Nikisi Kisimbi, Samba; Nkisi Kaitumbá, Mikaiá; Nkisi Zumbarandá; Nkise Wunge; Nkisi Lembá Dilê, Lembarenganga, jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda; Nkisi Nwunji, Nkisi Kaitumbá, Mikaiá, Kukueto; Nkisi Ndanda Lunda; Nkisi Kaiangu; Kariepembe, Pungu Wanga; Kobayende; Pungu Kasimba; Nkita Kiamasa; Nkita Kuna; Lukankazi, Luganbe, Nzambi Bilongo; Mutalambô, Katalombô, Gunza, Nkuyo Watariamba;
Os cargos e divisão do poder espiritual são:
Mam'etu ria Mukixi - Sacerdotisa chefe (Angola)
Nengua ia Nkisi - Sacerdotisa chefe (Congo)
Tat'etu ria Mukixi - Sacerdote chefe (Angola)
Dise ia Nkisi - Sacerdote chefe (Congo)
Tata Kivonda - Pai sacrificador de animais (Congo)
Kambodu Pokó - Sacrificador de animais (Angola)
Muxikiangoma - Tocador de atabaque
Njimbidi - Cantador (Angola)
Ntodi - Cantador (Congo)
Candomblé Jêje
Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil, enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axantis, Gans, Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como destino São Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também importou os rituais desta nação.
O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a quem são subordinados, assim como Olodumaré o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a grande mãe criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem quatorze destes deuses, que eram sete pares de gêmeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons.
O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Jêje, e no Maranhão Tambor de Mina.
Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em certos grupos, é de mulheres como filhas de santo. Os devotos têm que se submeter a longo processo de iniciação. Os detalhes dos rituais são pouco comentados, não há rituias públicos de iniciação; a cada comunidade, apenas duas ou três pessoas se dedicam ao ritual completo de iniciação. Em geral as Vodunsis dão poucas informações sobre os rituias relacionados com o culto, os segredos são mantidos a sete chaves.
Assim como os Orixás do Batuque, os Voduns incorporados, conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos, deixam recados e mantêm os olhos abertos. È comum no culto jêje fazer provas com os iniciados incorporados com os Voduns, como, por exemplo, mergulhar a mão no azeite de dendê fervendo.
Algumas casas de jêje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa, formando o que se chama de cultura Jêje-Nagô. A exemplo do candomblé, as instalações dos terreiros contam com um barracão central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes famílias de divindades, onde são mantidos os assentamentos. O forte sincretismo prevê, também a instalação de uma pequena capela com altar católico, há uma cozinha, quartos para dormir e se vestir e quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. há também a casa de Legba, onde são feitas grandes obrigações.
A iniciação jêje requer um longo período de confinamento, que pode durar de seis meses a um ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende as tradições religiosas jêje como: danças, cantigas, preparo das comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de segredo e obediência. As entidades são assentadas, recebem sacrifícios de animais , comidas, bebidas e outros presentes. Os assentamentos são preparados em pedras, que representam um "imã" que tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de segredo recobertos com jarras, louças e ferramentas. Existem, também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal marcados por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. È comum ter assentamentos no centro do barracão de danças; assim como em outras nações, no culto jêje também são feitos rituais de limpezas, banhos com ervas e muitas preces. Nos rituais antigos o contato com os voduns dependia muito da vidência das Vodunsis, e a adivinhação era feita através da interpretação dos sonhos, consulta com os Voduns e exame da luz de velas, atualmente é comum o uso dos Búzios para consultar as divindades.
As casas de jêje, além do culto aos Voduns, também incorporam em seus rituais alguns orixás nagôs. O panteão jêje é numeroso, sendo os Voduns agrupados em famílias como: Dambirá, Davice, savaluno e Queviossô.
As atividades religiosas requerem um extenso calendário com rituais reservados aos iniciados, e em festas públicas que duram um, três ou sete dias; no final das obrigações todos comem as comidas preparadas com a carne dos animais oferecidos em sacrifício às divindades.
Mawu é o ser supremo dos povos Ewe e Fon, criador do mundo, dos seres vivos e das divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino) forman a divindade dupla Mawu-Lissá cujos Voduns são filhos e descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
A casa de jêje chama-se Kwe, e o local destinado ao culto dos Voduns é chamado Hunkpame, que é o templo onde está dentro a divindade; é chefiado por um sacerdote ou sacerdotisa, que são responsáveis pelos ensinamentos aos futuros Vodunsis.
No Rio Grande do Sul, os terreiros que ainda mantém firme a cultura Jêje, nota-se a conservação de certas obrigações, à exemplo, nos assentamentos de Ogum Avagã cujas ferramentas usadas são as mesmas para o assentamento de Gu no Dahomé, e algumas não tem o uso do okutá; e também há nomes de Orixás que usam o mesmo dos Voduns, como por exemplo Dã, cujo Orixá de uma famosa Yalorixá da nação Jêje chamava-se Dã e um outro antigo Babalorixá de Porto Alegre pertencente a esta mesma nação, tinha o assentamento de Sobô; (Sobô é nome de um Vodun do Dahomé). Dos pais e mães de santos atuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo Vodun com o tempo deixou de existir; mas é certo que a linguagem usada nos cantos rituais e o uso dos aquidavís para percussão dos tambores, o uso do Gã (instrumento de percussão), entre outros fatos refletem muito os fundamentos do antigo Dahomé.
Há casos em que as tradições culturais africanas resistem, mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação direta do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante.
O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se incorporado ou associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Vodu no Rio Grande do Sul, certas práticas da religião do antigo Dahomé, hoje Benin, pode ser detectadas no Batuque do Rio Grande do Sul, principalmente nos terreiros que fazem parte da raiz do falecido Joãozinho de Bará (Esú Biyí).
Povo Nagô
Estudando os cultos africanos, podemos concluir que a maioria das religiões afro-brasileiras são frutos de uma forte nação chamada de nagô, também denominada Yorubá. Na década de 1930, quando realmente o candomblé ganhava espaço na Bahia, dois grandes líderes religiosos se destacam abrindo caminhos para religião e a comunidade negra em geral, são eles a Yalorixá Eugênia Ana dos Santos, a famosa Aninha de Xangô do Axé Opô Afonjá e o Babalawo Martiniano Eliseu do Bonfim. Estes dois são atualmente os nomes mais lembrados na tradição oral dos terreiros da Bahia, eram reconhecidos como detentores legítimos do saber religioso; conheciam bem suas origens étnicas e culturais. Seres queridos, respeitados e temidos, e são lembrados com muita reverência nos terreiros de candomblé baianos.
A Yalorixá Eugênia dos Santos, Aninha, nascida em 13 de junho de 1869, era filha de Sérgio dos Santos chamado de aniió e Lucinha Maria da Conceição, chamada de Azambrió na linguagem grunce. Aninha dizia que sua seita era Nagô puro, filha de santo de Marcelina Obatossi, que por sua vez era "prima e filha de santo de Ia Nasso", uma das fundadoras da casa branca do engenho velho (o primeiro terreiro de candomblé da Bahia). Depois de certos desentendimentos, Aninha sai do engenho velho com seu pessoal e vai para uma roça no Rio vermelho onde funcionava a roça de Joaquim Vieira de Xangô (Oba Sãiyá), um dos maiores conhecedores da religião africana da época. Logo Aninha funda o seu terreiro, a casa de Xangô Afonjá, com seu amigo e irmão de santo tio Joaquim, que morreria pouco depois. Aninha passou a ter a ajuda confiável de Martiniano e dos conhecimentos da velha Maria Bada; e com sua boa vontade , seu espírito batalhador e ajuda de todos que a acompanhavam construiu seu ilê axé, chamado Opô Afonjá que deu origem a outras grandes personalidades do candomblé: Maria Bibiana do espírito Santo, Senhora de Oxum Muiwá que recebeu em 1952, o título honorífico de Iyanassô pelo Aláàfin Oyó, da Nigéria; Marcelina da Silva, Oba Tossi; Ondina Valéria Pimentel, filha do Balé Xangô José Teodoro Pimentel; Isolina A. de Araújo; Mestre Didi; entre outros grandes, também, posso citar o meu amigo pessoal Albino Daniel de Paula (Obaraim) filho de santo de mãe Senhora, que foi o único homem a se tornar Babalorixá no Opô Afonjá, e segue firme na prática dos antigos fundamentos. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, era descendente direta da família Asìpá (axipá), e foi depois de mãe Aninha, a mais importante yalorixá do Opô Afonjá.
Martiniano Eliseu do Bonfim foi um membro muito influente dos candomblés da Bahia, desde os fins do século XIX. Era filho de pais africanos, que haviam comprado sua própria liberdade; foi enviado pelo pai mais ou menos aos quatorze anos, a Lagos, Nigéria, e estudou as tradições religiosas africanas de seus antepassados. Voltou à Bahia, onde seus conhecimentos foram reconhecidos e o conduziu rapidamente a fama. Seu pai era da tribo egbá, foi trazido para o Brasil cerca de 1820 e liberto em 1942. O nome de sua mãe era Manjegbassa, era da nação Ijexá, e tinha as marcas da nação no rosto (marcas tribais dos iorubas). Seus pais lhe deram ao nascer o nome de Ojeladê. Martiniano era conhecido e chamado, nos terreiros, inclusive de culto aos eguns, por seu nome nagô Ojeladê. Ficou em lagos durante onze anos; para ele "África" era Lagos, eram os nagôs, os iorubas, sua nação. A ida à África era um importante elemento legitimador de prestigio e gerador de conhecimentos. Martiniano Eliseu do Bonfim e Eugênia Ana dos Santos eram grandes amigos, e é sabido que o Babalawo colaborou largamente com a Yalorixá, inclusive na estruturação do grupo dos Obás ou Ministros de Xangô, no Axé do Opô Afonjá; recebeu de Aninha o honroso título de Ajimudá, o que marcou o profundo respeito e consideração que a yalorixá tinha pelo sábio Babalawo e vice-versa. Estes fatos mostram que muitos rituais praticados hoje em terreiros baianos seguem algumas raízes, também, da nação Ijexá oriunda da Nigéria. Outro contemporâneo de Martiniano e Aninha foi Eduardo Ijexá, que também se destacou como grande Babalawo dos candomblés baianos; como se vê a nação Ijexá tem muitos frutos espalhados por solo brasileiro.
Aqui no Rio Grande do Sul, o maior destaque da nação Ijexá foi o sr. Manoel Antonio Matias, Manézinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896. O Orixá de Manézinho trouxe a maioria das rezas cantadas nos dias de hoje nos batuques. O pai Xapanã "chegava no mundo" e pegava o tambor para tocar e ensinar as rezas (cantigas de Orixás) para seus filhos de santo. Era conhecido como mão pelada, pelo poder de seus Feitiços, viajava muito, pois adquiriu fama em todo território sulino. Dizem os antigos sacerdotes que Manézinho fazia um breve muito poderoso que em seguida endireitava a vida das pessoas que usavam. até seu pai de santo, Paulino de Oxalá, temia o Xapanã Jubiteiú de Manézinho. Outra famosa Yalorixá da Nação Ijexá foi tia Antonia de Bará, filha do Pai Paulino de Oxalá Efan, porém, aprendeu todos os rituais de nação, no terreiro de Manézinho. Tia Antonia faleceu aos 96 anos de idade no dia primeiro de dezembro de mil novecentos e noventa e oito e deixa como herdeiras de seu axé as yalorixás Maria Helena de Xangô e Lurdes de Ogum, suas filhas de ventre.
Toda a religião de origem africana tem o mesmo propósito em sua crença, em qualquer nação africana, o ritual em sua essência é quase o mesmo, usando as mesmas determinações, como o sacrifício de animais, toques de atabaques, cânticos na linguagem de origem, rigidez nos rituais de iniciação imutáveis em qualquer nação africana, fato que deveria contribuir mais para a aproximação dos terreiros em vez da rivalidade que se instalou nos cultos através dos tempos, acho até que todas as religiões deveriam se unir visando o bem comum da humanidade, visto que, há tantas desgraças, "temos recebido tantos recados" como aquele terrível acontecimento que abalou a Ásia no final de 2004, e vem se repetindo assiduamente e ainda assim, não procuramos entender o que os seres superiores estão nos mostrando.
A nação Cabinda, originária de Angola, adotou o panteão dos Orixás Iorubas, embora estas divindades Bantus teriam como nome correto Inkince.
Os Inkinces são para os Bantus o mesmo que os Orixás para os Yorubás, e o mesmo que os Voduns são para os Jêjes. Não se trata da mesma divindade, cada Inkince, Orixá ou Vodum possui identidade própria e culturas totalmente distintas. A linguagem ritual originou-se predominantemente das línguas Kimbundo e Kikongo; são línguas muito parecidas e ainda utilizadas atualmente. O Kimbundo é o segundo idioma nacional em Angola. O Kikongo, provém do Congo, sendo também falado em Angola.
Aqui no Rio Grande do Sul a raiz forte da Cabinda foi o Sr. Valdemar Antonio dos Santos, filho do Orixá Xangô Kamucá Baruálofina; Dizem ter sido iniciado por um ex-escravo conhecido como “Nêgo Gululu”. Uma de suas descendentes foi a Sra. Madalena de Oxum, que se destacou grandiosamente dentro desta nação.
Outros que iniciaram pelas mãos de Valdemar de Xangô, e alguns, com sua morte passaram para as mãos de Mãe Madalena de Oxum: Pai Tati de Bará, Mãe Palmira de Oxum, Ramão de Ogum, Moacir de Xangô (tinha o apelido de Guri Bontito), Pai Mario de Ogum e Pai Nascimento de Sakpatá, oriundo de outra nação. Depois foram surgindo outros ícones da nação Cabinda, onde podemos citar Pai Romário de Oxalá, filho de santo de Mãe Madalena de Oxum; Mãe Olê de Xangô, mulher de Pai Tati de Bará; Pai Henrique de Oxum, enteado e filho de santo de Mãe Palmira de Oxum; Pai Adão de Bará de Exu Biomi; Pai Cleon de Oxalá; Antonio Carlos de Xangô, Alabê e Babalorixá, Mãe Marlene de Oxum, filha de santo de Pai Romário; Pai Paulo Tadeu de Xangô; Pai Genercy de Xangô; Hélio de Xangô, filho de santo de Pai Adão de Bará; Didi de Xangô; João Carlos de Oxalá, de Pelotas; Juarez de Bará; Pai Gabriel de Oxum, que foi um grande Babalorixá da Nação Cabinda, filho de santo de Romário de Oxalá; Lurdes do Ogum; Enio de Oxum, Luiz Vó da Oxum Docô e mãe Sonia de Oxum também da casa de Pai Romário; Ydy de Oxum, Pai Raul de Xangô herdeiro espiritual de Pai Henrique de Oxum, entre muitos outros que conservam, ainda, os fundamentos desta Nação tão importante nos rituais Africanos do Sul.
Os praticantes da Nação Cabinda também se valem dos rituais da Nação Ijexá, já que esta última é atualmente a modalidade ritual predominante aqui no Rio Grande do Sul; a diferença se dá basicamente no respeito à memória de seus ancestrais e a outros fatores como o início dos fundamentos da Nação Cabinda, que é justamente onde termina os das outras Nações: o cemitério.
O Orixá Xangô é considerado Rei desta nação e o culto aos Eguns é tão forte que na maioria dos terreiros de Cabinda, se encontra o assentamento de Balé (culto aos Eguns); Os filhos de Oxum, Yemanja e Oxalá, podem entrar e sair de cemitérios quando necessário for, sem nenhum prejuízo a sua feitura, já nas outras nações estes só entram no cemitério em extrema necessidade; Se estiver acontecendo uma festa num terreiro de Cabinda, e se o Orixá Xangô, tendo recebido oferendas de quatro pés, e vier a falecer algum membro da casa ou da família religiosa, não ficará a obrigação prejudicada, conforme acontece nos outros terreiros, nos quais teriam que interromper toda a obrigação.
Os Orixás cultuados na Nação Cabinda são os mesmos da Nação Ijexá.
Nação Jêje
Quando se fala em Nação Jêje, aqui no sul do Brasil, logo se lembra do Pai de um dos pais de santo mais famosos desta nação que foi o Pai Joãozinho de Bará (Exu Bý), morou no Mont Serrat, “exportou o batuque para além das fronteiras do Brasil, para países como Uruguai e Argentina. Era filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Aganju, iniciada pelo príncipe Custódio de Xapanã. O Jêje, assim como o Ijexá, teve várias raízes. Além do pessoal oriundo do terreiro de Custódio de Xapanã, sabe-se de outras vertentes puras desta nação oriunda do antigo Dahomé, hoje Benin. Podemos mencionar neste trabalho de resgate de nossas raízes religiosas a figura da Yalorixá Isolina de Xangô Ainã, das mais antigas na nação Jêje, avó materna de Pai Pedro de Iemanjá. Foi ela quem iniciou verdadeiramente o neto José Pedro Barbosa de Lima nos rituais de nação.
Do terreiro de pai João podemos dizer que sua primeira filha de santo foi a sra. Vandina de Oxum e depois dela vieram outros importantes adeptos do ritual Jêje que se tornaram Babalorixás e Yalorixás onde podemos destacar alguns como a tia Nica do Bará, Alzira de Xangô, Dêde de Oxum, tio Cristóvao de Oxum e sua irmã Conceição, Valdomiro de Bará Lodê, muito respeitado e temido por todos, foi um dos maiores feiticeiros que se teve conhecimento no Rio Grande do Sul; dona Cótinha de Xangô, Valina de Oyá, irmã de Vandina de Oxum; Pai Pirica de Xangô, mãe Jurema de Xangô, tamboreira, teve sua iniciação pelas mãos de Paulino de Oxalá do Ijexá, e com a morte deste passou para o terreiro de pai João; Evinha de Xangô, também, uma das melhores tamboreiras do Sul; tia Licinha de Oyá, Aurora de Ogum, vó de pai Pirica de Xangô; tia Eva de Bará, João vó da Oxum Docô; Rosália de Odé, Landa do Bará, Tirôni de Xapanã; Reni de Iansã, filha de criação de pai João; Pequeno de Bará Lodê, esposo de Reni de Iansã; tia Tereza de Oxalá, filha consanguínea de mãe Alzira de Xangô; tia Jaci de Yemanjá; Valdir de Xangô; Mesquita de Xangô; Nadir de Ogum; Zé de Xangô, tio de Valdir de Xangô; pai Nelson de Xangô, pai de santo de Vinícios de Oxalá; Zé da Sáia de Xangô; Ziza de Odé; Zaida de Oxalá; Julieta de Odé; Patinha de Bará; Marta de Bará, famosa por sua vidência, também praticava o culto à Umbanda; as mulheres grávidas, faziam filas na porta de sua casa para saber o sexo do bebê; mãe Leda de Xangô, também famosa por seus feitos na Umbanda e vidente das melhores, tenho muitos agradecimentos à esta grande mãe de santo; Santa de Yemanjá; mãe Catarina de Ogum; pai Tião de Bará; Elaine de Oxum; Cleusa de Oyá; Elza de Oxalá, morava no Rio de Janeiro, para onde pai João viajava frequentemente. Os terreiros de Jêje praticam junto o ritual de Ijexá (nagô), cujas rezas e rituais são utilizadas em quase todos os terreiros de Batuque do Rio Grande do Sul e nos países vizinhos, onde o ritual africano do sul foi evidenciado como Uruguai e Argentina. A linguagem ritual de Jêje é o Fon e a dança é feita em par; as pessoas dançam de par, uma de frente para outra e alternam os lugares conforme muda o ritmo dos tambores. Os tambores são em tamanho pequeno. Um tamboreiro toca com dois Aquidavís e o outro faz a marcação apenas com um. O acompanhamento é feito com um instrumento denominado “Gãn”. Os terreiros mais tradicionais não usam o agê (xequerê para alguns) quando tocam Jêje puro. Joãozinho de Bará e sua irmã Licinha tocavam juntos, dizem que o ritual ficava muito mais belo quando os dois se juntavam para ritmar os tambores de Jêje.
Joãozinho do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo, ensinava os filhos a tirar as rezas dos Orixás e a tocar tambor; ele ensinava os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os aquidavís, e com certeza logo aprendiam. Ele foi uma árvore que deu muitos frutos. Ainda há alguns terreiros que conseguem fazer o ritual Jêje, destas podemos citar a casa de pai Pirica, Jorginho de Bará, Pai Nelson de Xangô, Tião de Bará e seus respectivos descendentes, que também completam seus rituais com as rezas da nação Ijexá de linguagem Yorubá, mas são nestes terreiros que ainda se vê acontecer o ritual jêje-nagô à moda antiga. O que é chamado de nação Jêje é o ritual africano formado pelos povos fons vindo da região de Daomé, hoje Benin. Os povos Jêjes, chegados ao Brasil, em sua grande maioria se estabeleceram em São Luiz do Maranhão, onde ainda existe a Casa das Minas, Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), Rio de Janeiro e para o Rio Grande do Sul sabe-se que vieram alguns descendentes do Daomé, inclusive um príncipe. O Daomé foi colônia de diversos países , e quando passou a ser propriedade da Grã-Bretanha, os Ingleses tiveram que entrar em acordo com os Reis e príncipes negros que governavam as terras. Um desses acordos resultou a vinda de um príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina; este escolheu o Brasil, inicialmente fixou-se em Rio Grande e, mais tarde foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa Africana. De Bagé veio para Porto Alegre, adotou como nome Custódio Joaquim de Almeida, conhecido no meio religioso como Príncipe Cústódio. Seu ilê era frequentado por figuras importantes da época, inclusive foi ele quem fez o assentamento de um Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos adeptos do culto africano fazem reverencia cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás.
Nação Oyó
A maioria dos rituais africanos praticados dentro do Rio Grande do Sul, vem do interior da África, principalmente das regiões da Nigéria onde encontramos as cidades de Ìlèsà, cujo povo é conhecido como da nação Ijexá e Oyó, a terra de Xangô, o Obá (Rei) de Oyó. No Brasil a vida útil do negro, escravo, era muito curta, pois passavam a maior parte de suas vidas trabalhando para seus servos; fora as epidemias e outras doenças, na época incuráveis, que acabaram matando centenas dos nossos antepassados. Devido a estas e outras dificuldades, nossos antigos sacerdotes acabaram levando para o túmulo muitos conhecimentos dos rituais sagrados africanos; Contudo ainda conseguimos guardar boa parte dos fundamentos das diversas nações vindas da África, berço histórico do Brasil; entre estes fundamentos temos a nação Oyó cujas tradições de seus rituais permanecem vivos aqui em Porto Alegre, e em algumas cidades do interior do estado. Para nós Rio-grandenses é um privilégio ter a presença desta nação, pois quase não se ouve falar de Oyó em outras partes do Brasil, pois raras foram as vezes em que os interessados na captura de escravos conseguiram atingir as localidades do interior da Nigéria, como as cidades de Oyó e Ilexá.
Uma das fontes da nação Oyó na cidade de Porto Alegre foi a Sra. Ermínia Manoela de Araújo, conhecida como mãe Donga de Oxum. Era filha de Oxum (Osun) com Ossãe (Osányìn); morava na colônia africana, nas imediações onde é hoje o Auditório Araújo Viana.
Dona Ermínia nasceu no dia cinco de maio de 1889, filha de uma grande Yalorixá da linhagem de Xangô; era uma negra de grande sabedoria, e seguia as tradições religiosas de acordo com o que herdou de seus genitores, que praticavam as culturas de Oyó e Ijexá juntos, já naquela época, até por que são nações de muita proximidade dentro do território nigeriano, inclusive a língua Yorubá é o idioma falado pelos dois povos, com apenas algumas diferenças no dialeto.
Nas aldeias africanas os assentamentos de Orixás eram feitos para servir uma comunidade inteira, até mesmo uma cidade, e toda população se dedicavam aquele Orixá cultuado na região; os assentamentos, os rituais, as obrigações ficavam de uma geração para outra; tem lugares que ainda hoje, conservam assentamentos de Orixás com quatrocentos anos ou mais, eu mesmo visitei um terreiro em Salvador que mantém um Xangô Ogodô, trazido da África, cujo assentamento foi feito a mais de duzentos anos. Foi esta tradição que deu origem ao Xangô Aganjú do Povo. As tradições deste ritual foram passados à mãe Donga, e não é apenas um okutá de Xangô, é sim um conjunto de Orixás (Irúnmòle), que foram preparados para servir a comunidade inteira daquela família religiosa de tradição Oyó da bacia de mãe Donga de Oxum, e ser passado pelas gerações vindouras. E assim aconteceu; os assentamentos após passar por vários terreiros de Oyó, hoje estão, nas mãos de uma descendente direta de mãe Donga, a Yalorixá Nélia de Ossãe, que humildemente tem a guarda destes assentamentos em seu terreiro. Antigamente era escolhido um Axogum (Asògún), ou seja, um homem que teria a função de fazer o sacrifício dos animais para este ritual; um deles foi o senhor Mário Lopes, que após um derrame passou o cargo ao Sr. Rolim de Oxalá, que morou na rua Lucas de Oliveira, e antes de falecer passou a responsabilidade para o sr. Jorge de Xapanã; após sua morte não se teve uma pessoa exclusivamente para fazer os sacrifícios para Xangô Aganjú do Povo, hoje a responsabilidade da matança é da pessoa que tem a guarda dos assentamentos em seu terreiro, e a data da festa é sempre o dia vinte e dois de julho, que antigamente movimentava todo o povo de santo de Porto Alegre e arredores.
Ermínia Manoela de Araújo teve quatro filhos: Maria Rosaura de Araújo Souza, ficou conhecida como mãe Rosália de Xangô, nasceu em 8 de abril de 1911 e faleceu em 05 de agosto de 1989; Luiza de Araújo Souza, conhecida como tia Luiza de Ogum, nasceu em 25 de novembro de 1915 e morreu em 19 de julho de 1994; Mário de Araújo Souza, conhecido como Mário Bocão, filho de Odé, não temos certeza das datas de seu nascimento e morte; e a outra filha era Lurdes de Araújo Souza, cujo Orixá era Xapanã, também não temos certeza das datas de seu nascimento e morte. Dona Ermínia (Donga de Oxum) contraiu a gripe espanhola e faleceu em 1918, deixando os quatro filhos pequenos, tia Rosália de Xangô com seis anos e sua irmã Luiza de Ogum com dois anos de idade, e os outros dois filhos também pequenos. Em Porto alegre, foi criado um cemitério especialmente para as vitimas da gripe espanhola, que matou em todo país cerca de 300 mil pessoas.
O único filho de santo que Dona Donga de Oxum deixou pronto com todos os assentamentos foi o Sr. Antoninho de Oxum, que herdou além das tradições religiosas, também todos os seu filhos de ventre e de axé (filhos de santo); as informações sobre a vida de mãe Donga me foram passadas pela Yalorixá Nélia de Ossãe, filha carnal de tia Luiza de Ogum.
Dona Donga tinha uma cunhada que também seguia as tradições da nação Oyó, chamada dona Leopoldina de Oxalá, que também passou ser filha de santo e auxiliar de Pai Antoninho, junto com uma outra senhora chamada carinhosamente de Velha, que também foi uma luz neste antigo terreiro. Antoninho de Oxum trabalhava fora e ainda arrumava tempo para se dedicar a inúmeros filhos de santo e consulentes que o procuravam; teve dois filhos carnais, e outros tantos de criação, entre elas dona "dona Maria Garçoneta" que morava nas imediações da Igreja Nsra. Do Trabalho, tive a felicidade participar de um batuque em seu ilê, na Vila Ipiranga.
Em tempos passados os Babalorixás e Yalorixás, além da prática religiosa, dedicavam-se à caridade, a maioria tinha muitos filhos de criação, inclusive se um indivíduo estivesse passando necessidades, era acolhido no terreiro até que tivesse condições de sobrevivência, aquele ia embora e já dava lugar a outro.
Hoje, em alguns casos, é difícil até mesmo a própria sobrevivência dos sacerdotes, já não da mais para seguir o exemplo de amparar os necessitados nos terreiros.
A maioria do pessoal que escreve sobre a religião africana no Rio Grande do Sul, cita o Príncipe Custódio como introdutor dos rituais de Batuque aqui no sul, não é bem assim, pois o negro se faz presente neste Estado muito antes da família de Osuanlele (Príncipe Custódio) ser retirada em 1897 de Benin (antigo Daomé), já no censo da população do Rio Grande do Sul, feita no ano de 1814, nos mostra uma população negra expressiva perfazendo um total de 36,7% de afro-brasileiros, contra um total de 45,6% de brancos no estado, outro dado relevante é que pesquisadores, sérios, situam o período inicial do Batuque nesta região entre os anos de 1833 e 1859, na mesma época em que o Candomblé ganhava espaço na Bahia. O lendário Príncipe Custódio só pisa em solo gaúcho no ano de 1899, na cidade de Rio Grande, e já encontra aqui rituais religiosos de origem africana, popularmente denominada de Batuque. Ele contribuiu sim com nossa religião, com seus contatos políticos, pois Custódio, vinha de uma família nobre, sua saída da África foi política; ele sabia como se destacar e fazia bom uso de sua sabedoria religiosa, o que ajudou a travar as perseguições as casas de culto africano. As pesquisas realizadas para saber sobre as nações Oyó, Cabinda, Ijexá e Jêje nos comprovam que o Batuque se estabeleceu aqui no Rio Grande do Sul há quase dois séculos;
Ainda falando da nação Oyó outra contemporânea de mãe Donga de Oxum foi mãe Andrezza Ferreira da Silva, que foi pronta na religião por um velho babalorixá que ainda tinha a sua volta alguns africanos nativos, e ela teria vivido de 1882 a 1951 em Porto Alegre.
Dos descendentes religiosos da raiz de Pai Antoninho de Oxum, os que mais se destacaram foram: a yalorixá Rosália de Xangô, que morreu com 79 anos de idade; morou alguns anos na rua Souza Lobo, na vila jardim, onde tive o privilégio de participar de um ritual de Batuque em seu ilê; sua irmã de ventre e de axé que foi tia Luiza de Ogum que morreu com 78 anos, morou na avenida Saturnino de Brito, 408 na vila jardim, deixou dois filhos, uma é Nelia de Ossãe, que é quem mantém vivo o ritual do Xangô Aganjú do Povo em Porto Alegre, e o outro filho já é falecido. Outra mãe de santo que se destacou muito, uma das mais importantes, depois de Antoninho, foi a sra. Lídia Gonçalves da Rocha, popularmente conhecida como mãe "Moça de Oxum", que entrou para a religião africana aos cuidados de pai Antoninho de Oxum por motivos de doença e se tornou a mais destacada yalorixá da nação Oyó dos últimos tempos; podemos citar também, Cecília de Xangô Aganjú; mãe Leopoldina de Oxalá que era cunhada de mãe Donga de Oxum; Mocinha de Oxalá; Mário "bocão" se destacou como Alabê (tamboreiro) da nação Oyó e também aprendeu a tocar Jêje com os aquidavis; Jorgina de Xapanã; Dilina de Oxum; mãe Manoela Mendonça de Oxum; Pai Máximo de Odé, que também era tamboreiro; pai Máximo de Odé também foi pai de santo de Tia Valesca, esposa de pai Antoninho; Mijica de Yemanjá; Benjamim de Oxalá; Camarada de Yemanjá; mãe Quininha de Oyá, mãe Andressa de Oxum; mãe Manoelinha de Oxum, mãe Miguela de Xangô, esta Yalorixá foi uma das ultimas a fazer durante os toques, a fogueira de Xangô, e paramentava todos os Orixás com suas vestes e indumentárias; A mãe Oxum de pai Antoninho também se paramentava quando "incorporada" em seu filho, usava suas vestes com muitas pedrarias. Doralice da Silva Alves, conhecida como Chininha de Oxalá, era casada com pai Máximo de Odé, ela também tinha o apelido de "Caquinha" e aprontou outros bons descendentes do Oyó como a mãe Vera de Ossãe e Sarinha de Xangô, que completou 60 anos de assentamento de seu pai Xangô no dia 18 de outubro de 2004; outros da raiz Oyó que podemos citar são as pessoas de Guilhermina de Yemanjá, que era cozinheira da casa de Antoninho, e também fez "pirão" na casa de muita gente antiga do Oyó; João Gumercindo Saraiva, esposo de dona Doralvina; Yatolá de Oyá, pai Darci de Oxalá, entre outros; Felisberto de Ossãe. Outras pessoas que também se destacaram na nação Oyó foram: mãe Apolinária Batista, Olga da Iansã, Fábio de Oxum, Tim de Ogum, mãe Albertina de Obá; Edelvira de Oxalá, pai Acimar de Xangô; Luiz de Bará; Paulinho de Xangô (filho de santo de mãe Rosália de xangô);; Esperança de Oyá; Toninho de Xangô, herdeiro espiritual de pai Acimar de Xangô. Vários informantes dizem que pai Joãozinho de Bará, também teve uma breve passagem pelas mãos de pai Antoninho de Oxum.
Pai Antoninho de Oxum morou no Mont'Serrat, na cidade de Porto Alegre, e segundo consta faleceu no ano de 1932.
E mais recente, na história do Oyó, podemos citar alguns descendentes da geração de mãe Moça de Oxum, que também contribuem ou contribuíram para continuidade dos rituais de Oyó como: Laudelina de Bará; Valdomiro de Oxalá, alabê, Zeca Neto de Oxalá; Carola de Oxum; Eva de Oxum; Leinha de Oxum, (falecida em fevereiro de 2005) e Odete de Oxum entre outros.
Há uma outra grande raiz da nação Oyó que derivou de uma famosa mãe de santo chamada Emília fontes de Araújo, Mãe Emília de Oyá Ladjá. Era descendente de uma família nobre da África, morou na rua Visconde do Herval em Porto Alegre, era contemporânea de Antoninho da Oxum, porém não tinham ligações de bacia, apenas elos de nação. Segundo informações coletadas junto a Pai Paulinho de Agandjú, Mãe Emília faleceu por volta de 1929 e deixou vários herdeiros de seu ritual, onde podemos citar: Mãe Alice de Oxum; Pai Alcebíades de Xangô; Vó Dóca de Yemanjá que morava na av. Praia de Belas esquina com a rua Rodolfo Gomes, Mãe Matilde Fabrício, mãe carnal de Mãe Nenéca de Xangô, que também é herdeira espiritual desta raiz do Oyó; Mãe Cadinha de Odé; Mãe Araci de Odé, que faleceu com 112 anos de idade, e seu Orixá Ode tinha 91 anos de assentamento. Dona Araci fez um ritual de entrega de Axé de Búzios na casa de mãe Ilda de Obá no qual eu estava presente, e até então nunca tinha assistido algo igual. As obrigações do ritual fúnebre de mãe Araci foram feitas por Pai Paulinho de Agandjú, por recomendações expressas da própria Araci, que deixou gravado sua exigência. Eram também da casa de Mãe Emília as pessoas de Negrinha de Odé; Ramiro de Ogum; Dona Rola, esposa de Pai Alcebíades de Xangô.
Mãe Alice de Oxum, se destaca também nesta ramificação do Oyó, deixando vários herdeiros espirituais, entre estes podemos citar a mãe Nicóla de Xangô Dadá, que morou na rua Cuibá, 95 e faleceu em 1975 aos 69 anos de idade, vitima de derrame. Mãe Nicóla deixou vários filhos de santo, um dos que mais se destacou e ainda hoje cumpre os rígidos rituais de sua raiz é a pessoa que nos passa estas informações, Pai Paulinho de Agandjú, com 64 de idade, e seu Orixá com 50 anos de assentamento. Com a morte de Mãe Nicóla, terminou de aprontar na religião alguns de seus descendentes como, Pai Adãozinho de Bará, um dos principais Alabês da Nação Oyó. Pai Paulinho fala com autoridade dos rituais que pratica, como a obrigação de Tumbê, Arikú e muitas outras que ainda mantém; e nos cita como sendo ordem de toque para os Orixás de seu terreiro a seguinte seqüência: Bará, Ogum, Xapanã, Odé, Ossãe, Orunmilá, Obokun, Xangô, Ibejis, Agandjú, Yemanjá, Otim, Obá, Nana Buruku, Yewa, Oxum, Oyá e Oxalá.
Alguns sacerdotes nos dão a informação no tocante aos rituais de Batuque da nação Oyó, dizendo que a ordem de toque para os Orixás em seus terreiros seguem quase a mesma seqüência da nação Ijexá: Bará, Ogum. Oyá, Xangô, Ibejis, Odé, Otim, Obá, Ossãe, Xapanã, Oxum, Yemanjá e Oxalá; e outros dizem que as casas antigas de Oyó, tocavam primeiro para os Orixás masculinos, e depois para as Yabás (Orixás femininos) na seguinte ordem: Bará, Ogum, Ossãe, Xapanã, Odé e Otim, Xangô, Ibejis, Obá, Oyá, Oxum, Yemanjá e Oxalá. O fato é que há varias fontes da mesma nação, cada uma seguindo os costumes de seu terreiro de origem, muitos se vendo num segmento de nação pura, outras mesclando com outras nações, e assimilando outras práticas em seus rituais.
Das antigas nações africanas que se fixaram no Rio Grande do Sul, e que foram submetidas, a variados graus de mudança e assimilação, ressalta a do Ijexá como a que melhor conservou a configuração africana original absorvendo outras nações. Os sacerdotes e iniciados por mais antigos que sejam, nos cultos africanos no Rio Grande do Sul, na maioria, se mesclaram com o Ijexá, esse processo, entretanto, não eliminou de todo a consciência histórica e certas tradições religiosas que predominam tanto no Oyó como também no Jêje e na Cabinda; se alguém tiver alguma informação que possa nos ajudar no resgate a história das nações africanas no Estado do Rio Grande do Sul, por favor entrar em contato via e-mail deste site, pois toda informação é bem vinda.
Homenagens
É preciso lembrar que o batuque continua. Já mencionei, na maioria, o pessoal da antiguidade que deu estrutura à religião, porém, além destes, não posso deixar de homenagear aqueles que nos dias de hoje, tanto os “velhos” como os “jovens” que se dedicam a cultuar e manter firme os fundamentos da nação dos Orixás no Rio Grande do Sul. Por enquanto vamos citar: Pai Ademar de Ogum e Ostilio de Oxalá, Babalorixás e alabês da Nação Ijexá; Marcelo do Oxalá, filho carnal de mãe Pedrinha da Iansã; Emilinha da Yemanjá; João do Oxalá, da bacia de mãe Ilda da Obá; Edemar da Yemanjá, neto de santo de mãe Preta de Oxalá da nação Ijexá; Tia Eva do Ossãe, filha carnal do Pai Idalino de Ogum; lonice de Oxum e tia Ione de Oxum, netas de Pai Idalino de Ogum; mãe Dora de Oxum da cidade de Alvorada (nação Jêje-Ijexá); Jorge de Bará (Jorginho filho de Pai Pirica, nação Jêje); Tião do Bará (nação Jêje), Jorge do Oxalá (nação Jêje-Ijexá); Didi de Xangô da bacia de Pai Adão de Bará; Marquinhos da Oxum, da bacia de Mãe Estela da Yemanjá e Maria da Oyá; Roberto do Ogum, da raiz de mãe Maria da Oyá; Pai Nazário de Bará, da bacia de Pai Mario de Oxum (nação cabinda); Alfredo de Xangô; mãe Nilza de Yemanjá e Yeda de Ogum; Jorge Verardi de Xangô, da bacia de Pai Leopoldo de Yansã; Renato de Ogum, da bacia de Menicio da Yemanjá; Dona Moza de Ogum, da bacia de Idalino de Ogum e Jovita de Xangô, Dona Moza foi esposa de Leopoldo da Yansã; Sirlei da Yemanjá, da bacia de mãe Preta de Oxalá; Maria Antonia de Oxalá, filha de mãe Apolinária, e seus filhos Junior de Bará e Rose de Ogum(nação Oyó); mãe Miguela de Bará da nação Ijexá-Jêje; mãe Santinha de Ogum, da bacia de mãe Estela de Yemanjá; Rosa de Yemanjá e Tereza de Oxum, da bacia de mãe Ovidia de Oxum; Neuza de Bará Ajelú, filha de Almiro de Bará (nação Ijexá); mãe Ofélia da Yemanjá, uma das mais antigas Yalorixás da nação Ijexá;; Janete de Yansã; Mãe Eva do Ogum, da bacia de Pai Idalino do ogum; Vera do Oxalá, filha carnal de mãe Albertina da Obá; Wilian da Yansã; Lola do Bará; Leci do Bará; Celso do Oxalá; Sandra do Ogum; Carlos do Bará; Nitinha de Oxum; Ondina de Xangô da nação Jêje; Marinho de Oxalá; Maria do Xangô; Alabê Marcos do Bará; Vera do Ogum;
Póstumas:
Pai Mauro de Xangô, Miguel de Xangô , da bacia de mãe Estela de Yemanjá; Salvahine da Oxum; Juvenal do Ossãe; Laerte da Yemanjá, da bacia de Menicio da Yemanjá e Olmira de Xangô; Pedrinha da Yansã; Sérgio do Ogum, da bacia de Almiro de Bará; Sérgio da Yansã e Renato de Ogum, da bacia da Catarina de Ogum; Marcelinho de Ogum, da bacia de Menicio da Yemanjá; Delurdes de Xapanã, da bacia da mãe Olmira de Xangô; Luiz Carlos da Oxum, da bacia de Pai Romário de Oxalá; Pai Paulinho da Yemanjá, da bacia de mãe Arina de Bará; Clemir de Bará; Pai Pity de Xangô; Suca de Yansã; Alice de Oxalá, da bacia de Mãe Olmira; Jorge do Ogum, da bacia de Almiro de Bará; Sodré da Yansã; Celso de Bará, da bacia de Tião de Bará; Vó Dora da Yansã; mãe Jovita de Xangô; Pai Hugo da Yemanjá; Tureba de Ogum; mãe Otilia de Ossãe, Pai Chico de Ogum, e outros tantos que se foram para o Orum, mas continuam vivos na memória de seus amigos e descendentes.
Candomblé
O Candomblé é um segmento religioso que pratica as tradições, ritos e crenças africanas, trazidos pelos antepassados, cujos rituais tem origens nas culturas Jêje, Ketu, Angola, entre outras nações que fazem parte das religiões afro-brasileiras.
A cultura religiosa africana foi desenvolvida no Brasil através do conhecimento de sacerdotes negros, que com parte de seu povo, foram capturados e escravizados, juntamente com seus Orixás, entre 1532 e 1888.
Com o "fim" da escravatura em 1888, o candomblé se expandiu consideravelmente, e prosperou muito desde então. Hoje, cerca de 3 milhões de brasileiros declaram ser seguidores das religiões afro, mas acredito que o número seja bem maior, visto que, conforme o local e ocasião os seguidores dizem ser católicos, com medo da discriminação; (os católicos, de acordo com o censo somam 75%, enquanto os que praticam as religiões afro-brasileiras aparecem com 1,5% da população brasileira).
Os negros escravos pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os Yorubá (Nagôs), os Ewe, os Fon, e os Bantos, que contribuíram não só com seus rituais religiosos, mas, também com a música, dança, alimentação, língua e outras manifestações culturais como o samba, capoeira, em fim a contribuição cultural negra é inestimável. O negro escravizado ao invés de se isolar, aprendeu a conviver entre grupos étnicos diferentes. A religião africana ao chegar no Brasil sofreu uma transformação imposta pela nova fronteira e pela nova sociedade em transformação. O homem africano foi proibido de praticar seus ritos, no entanto nossos Orixás mais importantes chegaram até hoje com a proteção do sincretismo católico, contudo, o negro conseguiu preservar as crenças étnicas principalmente os ritos de iniciação, os cânticos em linguagens africanas, o culto aos antepassados entre outras tradições. Através do tempo os vários cultos foram se transformando até assumirem uma postura mais ou menos fiel a sua origem.
Os Orixás da Mitologia Yorubá, foram criados por um Deus supremo chamado Olorum (Olóòrun) ou Olodumare (Olódùmarè); já os Voduns da Mitologia Fon ou Mitologia Ewe, foram criados por Mawu e Lisa; e os Nkisis (inquices) da Mitologia Banto, foram criados por Zambi, Deus supremo e criador.
Candomblé de Ketu
Ketu é o nome de um antigo reino da África, na região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria. Seu rei tem o nome de alaketu, de onde vem o sobrenome da conhecida ialorixá Olga de Alaketo. Também indica o nome do povo dessa região, que veio como escravo para o Brasil. Em termos de identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura iorubana. Em geral, membros de origem ketu são responsáveis por boa parte dos terreiros mais tradicionais da Bahia. É a maior e mais popular nação do Candomblé, e a diferença das outras nações está no idioma utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e símbolos dos Orixás, e nas cantigas; Os fundamentos são passados oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá (masculino) Yalorixá (feminino). Os rituais mais conhecidos são: Padê, Sacrifício, Oferenda, lavar contas, Ossé, Xirê, Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de Oxum e Axexê. Uma outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou Baba Ojé, que faz o uso de um ixãn para dominar os Eguns; conforme informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Balbino de Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande do Sul, sempre, é o próprio Sacerdote de orixá quem faz os rituais de Eguns.
Os cargos principais na nação Ketu são:
- Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé
- Iyakekerê: mãe pequena
- Babakekerê: pai pequeno
- Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.
- Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação.
- Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.
- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de santo.
- Iaô: filha de santo (que já incorpora Orixá).
- Abian: novato.
- Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.
- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.
- Ogan: tocadores de atabaques.
- Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.
Os Orixás cultuados na nação Ketu são: Exu, Ogum, Oxossi, Logunedé, Xangô, Obaluayê, Oxumaré, Ossaim, Oyá ou Iansã, Oxum, Iemanjá, Nana, Ewa, Oba, Axabó (Orixá feminino da família de Xangô),Oxalá, Ibeji, Irôco, Ifá ou Orunmila.
Na nação Ketu, existente principalmente na Bahia, predominam os Orixás de origem Yorubá, e os terreiros mais conhecidos são: a Casa Branca do Engenho Velho, o Ilê Axé Opô Afonjá, o Gantois; o Candomblé de Alaketu e o Ilê Axé Opô Aganjú localizado em Lauro de Freitas. O Candomblé de origem ketu já se espalhou por todos os grandes centros urbanos do Brasil e também para o exterior, e nota-se um movimento de recuperação de raízes africanas, que rejeita o sincretismo católico, procurando reaprender o yorubá como língua original e tenta reproduzir os rituais que estavam perdidos ao longo do tempo, há casos em que muitos sacerdotes procuram viajar até a África para descobrir mais sobre a cultura dos Orixás.
Candomblé de Angola
Religião afro-brasileira, de origem banto, que compreende as nações de Angola e Congo (Cassanges, Kikongos, Kimbundo, Umbundo e Kiocos), e se desenvolveu entre os escravos africanos que falavam a linguagem Kimbundo e Kikongo e são facilmente reconhecidos pela maneira diferente de cantar, dançar e percutir seus tambores.
Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância é para homem Tata Nkisi (tata de inquinces) e para mulher Mametu Nkisi (Mametu de inquices), que correspondem ao Babalorixá e a Yalorixá dos Yorubás, e o Deus supremo é Zambi (Nzambi) ou Zambiapongo (Ndala Karitanga).
O Candomblé de Caboclo é uma modalidade desta nação, e cultua os antepassados indígenas. Há uma nação que faz parte do Batuque do Rio Grande do Sul que descende de Angola, que é a Cabinda.
Os rituais da nação Angola começam com o Massangá, que é o batismo na cabeça do iniciado, feito com água doce e Obi; Bori com sacrifício de animais para o uso do sangue (menga); ritual de raspagem, conhecido como feitura de santo; ritual de obrigação de 1 ano; ritual de obrigação de 3 anos, onde muda o grau de iniciação; ritual de obrigação de 5 anos, com o uso de frutas, obrigação de 7 anos, quando o iniciado recebe seu cargo, é elevado ao grau de Tata Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora). Após 7 anos de obrigações, será renovado a cada ano com o rito de Obi ou Bori, conforme o caso, e de 7 em 7 anos se repete as obrigações para conservar o individuo forte, se transformando em Kukala Ni Nguzu, que quer dizer um ser forte. Além dos búzios, outro sistema antigo de consulta é o Ngombo, no qual o adivinhador recebe o nome de Kambuna.
Os principais Nkisi são: Aluvaiá (também conhecido como: Nkuyu Nfinda, Tata Nfinda, Tona e Cubango), Bombo Njila(Bombojira), Vangira(feminino), Pambu Njila, Pambuguera; Nkisi Nkosi Mukumbe, Roxi Mukumbe, Burê; Nkisi Kabila, Mutalambô, Gongobila, Lambaranguange; Nkise Katendê; Nkisi Zaze (Nsasi, Mukiamamuilo, Kibuco, Kiassubangango) Loango; Nkisi Kaviungo ou Kavungo, Kafungê; Nkise Angorô e Angoroméa; Nkisi Kitembo ou Tempo; Nkisi Tere-Kompenso; Nkisi Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula; Nikisi Kisimbi, Samba; Nkisi Kaitumbá, Mikaiá; Nkisi Zumbarandá; Nkise Wunge; Nkisi Lembá Dilê, Lembarenganga, jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda; Nkisi Nwunji, Nkisi Kaitumbá, Mikaiá, Kukueto; Nkisi Ndanda Lunda; Nkisi Kaiangu; Kariepembe, Pungu Wanga; Kobayende; Pungu Kasimba; Nkita Kiamasa; Nkita Kuna; Lukankazi, Luganbe, Nzambi Bilongo; Mutalambô, Katalombô, Gunza, Nkuyo Watariamba;
Os cargos e divisão do poder espiritual são:
Mam'etu ria Mukixi - Sacerdotisa chefe (Angola)
Nengua ia Nkisi - Sacerdotisa chefe (Congo)
Tat'etu ria Mukixi - Sacerdote chefe (Angola)
Dise ia Nkisi - Sacerdote chefe (Congo)
Tata Kivonda - Pai sacrificador de animais (Congo)
Kambodu Pokó - Sacrificador de animais (Angola)
Muxikiangoma - Tocador de atabaque
Njimbidi - Cantador (Angola)
Ntodi - Cantador (Congo)
Candomblé Jêje
Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil, enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axantis, Gans, Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como destino São Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também importou os rituais desta nação.
O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a quem são subordinados, assim como Olodumaré o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a grande mãe criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem quatorze destes deuses, que eram sete pares de gêmeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons.
O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Jêje, e no Maranhão Tambor de Mina.
Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em certos grupos, é de mulheres como filhas de santo. Os devotos têm que se submeter a longo processo de iniciação. Os detalhes dos rituais são pouco comentados, não há rituias públicos de iniciação; a cada comunidade, apenas duas ou três pessoas se dedicam ao ritual completo de iniciação. Em geral as Vodunsis dão poucas informações sobre os rituias relacionados com o culto, os segredos são mantidos a sete chaves.
Assim como os Orixás do Batuque, os Voduns incorporados, conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos, deixam recados e mantêm os olhos abertos. È comum no culto jêje fazer provas com os iniciados incorporados com os Voduns, como, por exemplo, mergulhar a mão no azeite de dendê fervendo.
Algumas casas de jêje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa, formando o que se chama de cultura Jêje-Nagô. A exemplo do candomblé, as instalações dos terreiros contam com um barracão central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes famílias de divindades, onde são mantidos os assentamentos. O forte sincretismo prevê, também a instalação de uma pequena capela com altar católico, há uma cozinha, quartos para dormir e se vestir e quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. há também a casa de Legba, onde são feitas grandes obrigações.
A iniciação jêje requer um longo período de confinamento, que pode durar de seis meses a um ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende as tradições religiosas jêje como: danças, cantigas, preparo das comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de segredo e obediência. As entidades são assentadas, recebem sacrifícios de animais , comidas, bebidas e outros presentes. Os assentamentos são preparados em pedras, que representam um "imã" que tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de segredo recobertos com jarras, louças e ferramentas. Existem, também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal marcados por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. È comum ter assentamentos no centro do barracão de danças; assim como em outras nações, no culto jêje também são feitos rituais de limpezas, banhos com ervas e muitas preces. Nos rituais antigos o contato com os voduns dependia muito da vidência das Vodunsis, e a adivinhação era feita através da interpretação dos sonhos, consulta com os Voduns e exame da luz de velas, atualmente é comum o uso dos Búzios para consultar as divindades.
As casas de jêje, além do culto aos Voduns, também incorporam em seus rituais alguns orixás nagôs. O panteão jêje é numeroso, sendo os Voduns agrupados em famílias como: Dambirá, Davice, savaluno e Queviossô.
As atividades religiosas requerem um extenso calendário com rituais reservados aos iniciados, e em festas públicas que duram um, três ou sete dias; no final das obrigações todos comem as comidas preparadas com a carne dos animais oferecidos em sacrifício às divindades.
Mawu é o ser supremo dos povos Ewe e Fon, criador do mundo, dos seres vivos e das divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino) forman a divindade dupla Mawu-Lissá cujos Voduns são filhos e descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
A casa de jêje chama-se Kwe, e o local destinado ao culto dos Voduns é chamado Hunkpame, que é o templo onde está dentro a divindade; é chefiado por um sacerdote ou sacerdotisa, que são responsáveis pelos ensinamentos aos futuros Vodunsis.
No Rio Grande do Sul, os terreiros que ainda mantém firme a cultura Jêje, nota-se a conservação de certas obrigações, à exemplo, nos assentamentos de Ogum Avagã cujas ferramentas usadas são as mesmas para o assentamento de Gu no Dahomé, e algumas não tem o uso do okutá; e também há nomes de Orixás que usam o mesmo dos Voduns, como por exemplo Dã, cujo Orixá de uma famosa Yalorixá da nação Jêje chamava-se Dã e um outro antigo Babalorixá de Porto Alegre pertencente a esta mesma nação, tinha o assentamento de Sobô; (Sobô é nome de um Vodun do Dahomé). Dos pais e mães de santos atuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo Vodun com o tempo deixou de existir; mas é certo que a linguagem usada nos cantos rituais e o uso dos aquidavís para percussão dos tambores, o uso do Gã (instrumento de percussão), entre outros fatos refletem muito os fundamentos do antigo Dahomé.
Há casos em que as tradições culturais africanas resistem, mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação direta do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante.
O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se incorporado ou associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Vodu no Rio Grande do Sul, certas práticas da religião do antigo Dahomé, hoje Benin, pode ser detectadas no Batuque do Rio Grande do Sul, principalmente nos terreiros que fazem parte da raiz do falecido Joãozinho de Bará (Esú Biyí).
Povo Nagô
Estudando os cultos africanos, podemos concluir que a maioria das religiões afro-brasileiras são frutos de uma forte nação chamada de nagô, também denominada Yorubá. Na década de 1930, quando realmente o candomblé ganhava espaço na Bahia, dois grandes líderes religiosos se destacam abrindo caminhos para religião e a comunidade negra em geral, são eles a Yalorixá Eugênia Ana dos Santos, a famosa Aninha de Xangô do Axé Opô Afonjá e o Babalawo Martiniano Eliseu do Bonfim. Estes dois são atualmente os nomes mais lembrados na tradição oral dos terreiros da Bahia, eram reconhecidos como detentores legítimos do saber religioso; conheciam bem suas origens étnicas e culturais. Seres queridos, respeitados e temidos, e são lembrados com muita reverência nos terreiros de candomblé baianos.
A Yalorixá Eugênia dos Santos, Aninha, nascida em 13 de junho de 1869, era filha de Sérgio dos Santos chamado de aniió e Lucinha Maria da Conceição, chamada de Azambrió na linguagem grunce. Aninha dizia que sua seita era Nagô puro, filha de santo de Marcelina Obatossi, que por sua vez era "prima e filha de santo de Ia Nasso", uma das fundadoras da casa branca do engenho velho (o primeiro terreiro de candomblé da Bahia). Depois de certos desentendimentos, Aninha sai do engenho velho com seu pessoal e vai para uma roça no Rio vermelho onde funcionava a roça de Joaquim Vieira de Xangô (Oba Sãiyá), um dos maiores conhecedores da religião africana da época. Logo Aninha funda o seu terreiro, a casa de Xangô Afonjá, com seu amigo e irmão de santo tio Joaquim, que morreria pouco depois. Aninha passou a ter a ajuda confiável de Martiniano e dos conhecimentos da velha Maria Bada; e com sua boa vontade , seu espírito batalhador e ajuda de todos que a acompanhavam construiu seu ilê axé, chamado Opô Afonjá que deu origem a outras grandes personalidades do candomblé: Maria Bibiana do espírito Santo, Senhora de Oxum Muiwá que recebeu em 1952, o título honorífico de Iyanassô pelo Aláàfin Oyó, da Nigéria; Marcelina da Silva, Oba Tossi; Ondina Valéria Pimentel, filha do Balé Xangô José Teodoro Pimentel; Isolina A. de Araújo; Mestre Didi; entre outros grandes, também, posso citar o meu amigo pessoal Albino Daniel de Paula (Obaraim) filho de santo de mãe Senhora, que foi o único homem a se tornar Babalorixá no Opô Afonjá, e segue firme na prática dos antigos fundamentos. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, era descendente direta da família Asìpá (axipá), e foi depois de mãe Aninha, a mais importante yalorixá do Opô Afonjá.
Martiniano Eliseu do Bonfim foi um membro muito influente dos candomblés da Bahia, desde os fins do século XIX. Era filho de pais africanos, que haviam comprado sua própria liberdade; foi enviado pelo pai mais ou menos aos quatorze anos, a Lagos, Nigéria, e estudou as tradições religiosas africanas de seus antepassados. Voltou à Bahia, onde seus conhecimentos foram reconhecidos e o conduziu rapidamente a fama. Seu pai era da tribo egbá, foi trazido para o Brasil cerca de 1820 e liberto em 1942. O nome de sua mãe era Manjegbassa, era da nação Ijexá, e tinha as marcas da nação no rosto (marcas tribais dos iorubas). Seus pais lhe deram ao nascer o nome de Ojeladê. Martiniano era conhecido e chamado, nos terreiros, inclusive de culto aos eguns, por seu nome nagô Ojeladê. Ficou em lagos durante onze anos; para ele "África" era Lagos, eram os nagôs, os iorubas, sua nação. A ida à África era um importante elemento legitimador de prestigio e gerador de conhecimentos. Martiniano Eliseu do Bonfim e Eugênia Ana dos Santos eram grandes amigos, e é sabido que o Babalawo colaborou largamente com a Yalorixá, inclusive na estruturação do grupo dos Obás ou Ministros de Xangô, no Axé do Opô Afonjá; recebeu de Aninha o honroso título de Ajimudá, o que marcou o profundo respeito e consideração que a yalorixá tinha pelo sábio Babalawo e vice-versa. Estes fatos mostram que muitos rituais praticados hoje em terreiros baianos seguem algumas raízes, também, da nação Ijexá oriunda da Nigéria. Outro contemporâneo de Martiniano e Aninha foi Eduardo Ijexá, que também se destacou como grande Babalawo dos candomblés baianos; como se vê a nação Ijexá tem muitos frutos espalhados por solo brasileiro.
Aqui no Rio Grande do Sul, o maior destaque da nação Ijexá foi o sr. Manoel Antonio Matias, Manézinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896. O Orixá de Manézinho trouxe a maioria das rezas cantadas nos dias de hoje nos batuques. O pai Xapanã "chegava no mundo" e pegava o tambor para tocar e ensinar as rezas (cantigas de Orixás) para seus filhos de santo. Era conhecido como mão pelada, pelo poder de seus Feitiços, viajava muito, pois adquiriu fama em todo território sulino. Dizem os antigos sacerdotes que Manézinho fazia um breve muito poderoso que em seguida endireitava a vida das pessoas que usavam. até seu pai de santo, Paulino de Oxalá, temia o Xapanã Jubiteiú de Manézinho. Outra famosa Yalorixá da Nação Ijexá foi tia Antonia de Bará, filha do Pai Paulino de Oxalá Efan, porém, aprendeu todos os rituais de nação, no terreiro de Manézinho. Tia Antonia faleceu aos 96 anos de idade no dia primeiro de dezembro de mil novecentos e noventa e oito e deixa como herdeiras de seu axé as yalorixás Maria Helena de Xangô e Lurdes de Ogum, suas filhas de ventre.
Toda a religião de origem africana tem o mesmo propósito em sua crença, em qualquer nação africana, o ritual em sua essência é quase o mesmo, usando as mesmas determinações, como o sacrifício de animais, toques de atabaques, cânticos na linguagem de origem, rigidez nos rituais de iniciação imutáveis em qualquer nação africana, fato que deveria contribuir mais para a aproximação dos terreiros em vez da rivalidade que se instalou nos cultos através dos tempos, acho até que todas as religiões deveriam se unir visando o bem comum da humanidade, visto que, há tantas desgraças, "temos recebido tantos recados" como aquele terrível acontecimento que abalou a Ásia no final de 2004, e vem se repetindo assiduamente e ainda assim, não procuramos entender o que os seres superiores estão nos mostrando.
O lorogun acontece propositadamente no período da quaresma católica, logo depois do carnaval, terminando justamente no sábado de aleluia (primeiro sábado da lua cheia), onde começa o início do ano litúrgico (Ano Novo) para o povo do santo.
O encerramento do ano litúrgico acontece durante os quarenta dias que antecedem a Páscoa no católicismo, com o Lorogun, em homenagem a Oxalá.
Neste ritual não acontece sacrifício animal, embora seja oferecida comida ritual não só aos Deuses, mas à todos os participantes, servidos diretamente por todos os orixás do terreiro, extraordinariamente vestidos com roupas estampadas, menos os orixás funfuns que sempre estão com os seus vestes brancos.
A comida é comportada em duas capangas à tira colo e distribuida a todos os presentes, depois estas capangas são penduradas na árvore sagrada do terreiro.
Em seguida, todos os orixás saem com um ichã devida enrolado com tecidos ou papéis e começam simbolicamente uma luta, parecido com maculelê, este mesmo objeto é levado e depositado aos pés da árvore sagrada do terreiro.
Neste momento todos os orixás seguram nas mãos uma quantidade de folha sagrada, que são passada no corpo de todos os presentes, inclusive uns aos outros, formando um verdadeiro alarido, dando uma impressão de briga ”guerra” que é interrompida com a manifestação de Oxalá, imediatamente tudo volta a calmaria e todos dançam sob um grande alá (pano branco), os cânticos sagrado deste orixá da paz.
O encerramento do ano litúrgico acontece durante os quarenta dias que antecedem a Páscoa no católicismo, com o Lorogun, em homenagem a Oxalá.
Neste ritual não acontece sacrifício animal, embora seja oferecida comida ritual não só aos Deuses, mas à todos os participantes, servidos diretamente por todos os orixás do terreiro, extraordinariamente vestidos com roupas estampadas, menos os orixás funfuns que sempre estão com os seus vestes brancos.
A comida é comportada em duas capangas à tira colo e distribuida a todos os presentes, depois estas capangas são penduradas na árvore sagrada do terreiro.
Em seguida, todos os orixás saem com um ichã devida enrolado com tecidos ou papéis e começam simbolicamente uma luta, parecido com maculelê, este mesmo objeto é levado e depositado aos pés da árvore sagrada do terreiro.
Neste momento todos os orixás seguram nas mãos uma quantidade de folha sagrada, que são passada no corpo de todos os presentes, inclusive uns aos outros, formando um verdadeiro alarido, dando uma impressão de briga ”guerra” que é interrompida com a manifestação de Oxalá, imediatamente tudo volta a calmaria e todos dançam sob um grande alá (pano branco), os cânticos sagrado deste orixá da paz.
O Batuque do Rio Grande do Sul
Para entender a riqueza das formas de expressão do componente africano em solo sulino é necessário verificar a formação histórica do Rio Grande do Sul, principalmente na cidade de Porto Alegre.
A pesquisa histórica sobre o atual Rio Grande do Sul data do início do século XIX. O grande estímulo foi a transferência da sede do império português para o Brasil, que neste momento deixou de ser colônia.
A primeira obra de caráter histórico foi Anais da Capitania de São Pedro, de José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo. O primeiro volume de seu trabalho foi publicado em 1819, ainda quando o Rio Grande do Sul era capitania. A figura de Fernandes Pinheiro personifica exemplarmente o que significa pesquisar e “fazer historia” no Rio Grande do Sul na época.
Um dos historiadores que sucederam Fernandes Pinheiro na tarefa de pesquisa e publicação de trabalhos historiográficos sobre o Rio Grande do Sul foi Antônio Álvares Pereira Coruja, tendo publicado varias obras desde a década de 1830. Coruja produziu lições da história do Brasil e sobre a história do cotidiano de Porto Alegre. O professor Coruja descreve os primeiros tempos da cidade de Porto Alegre.
Ao explicar a origem da denominação beco do leite, lembra que ali residiu o alfaiate Manoel Leite, conhecido por ser “amigo de boas patuscadas aos domingos com os rapazes e caixeiros”. Menciona a famosa casa em que moravam “moças cantadeira, e que dizem que cantavam bem, aonde aos domingos iam moços passear”. Informa que, no Candomblé de Mãe Rita, os negros se reuniam no domingo à tarde para cantos e danças.
Coruja é um dos primeiros a dar notícias sobre rituais da religião africana, citando a casa de Mãe Rita, a primeira mãe de santo que se tem registro na cidade de Porto Alegre. Nesta época já se tem vestígios da estruturação do Batuque em Porto Alegre, e no Rio Grande do Sul.
No ano de 1997 a Companhia Estadual de energia Elétrica CEEE, publica um almanaque com o título História Ilustrada de Porto Alegre. Em um dos capítulos menciona os Batuques da Mãe Rita com o seguinte conteúdo:
Até a segunda década do século 19, nas procissões de Nossa Senhora do Rosário e nos dias de Natal, os negros costumavam expressar sua religiosidade da forma mais espontânea: dançando na frente da igreja matriz, com guizos e ao som de tambores, marimbas e urucungos. Exibiam a mesma naturalidade mostrada nos Batuques do terreiro de Mãe Rita, a mãe de santo da época – a primeira que se tem noticia na cidade.
Nenhuma autoridade religiosa da Matriz, como era chamada a igreja Madre de Deus, havia se importado até então com esta manifestação de ecletismo religioso. A exceção foi o vigário José Inácio dos Santos Pereira. Ele proibiu que executassem rituais africanos ali, com a alegação oficial de que a vizinhança reclamava do barulho. Mas os negros se consideravam expulsos. E partiram para um empreendimento arrojadíssimo: a construção de sua própria igreja, ou melhor, um templo católico em que se sentissem à vontade.
Durante dez anos, de 1817 a 1827, eles trabalharam na obra: à noite, os escravos; em horas vagas do dia, os negros alforriados. Enfim, na festiva noite de 24 de dezembro de 1827, receberam com lágrimas nos olhos a imagem da padroeira, que se encontrava na Matriz. Estava inaugurada a igreja Nossa Senhora do Rosário, na então Rua da Bandeira, mais tarde denominada Rua do Rosário e, por fim, por certa ironia, Rua Vigário José Inácio, homenagem ao sobrinho do padre que expulsara os negros.
Na verdade, o novo templo não foi resultado de mera ação de voluntarismo. Foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, entidade fundada em 1786, na qual os negros eram maioria, que comprou o terreno e comandou a construção. Enquanto duraram os trabalhos, as festas se resumiram ao de sempre: batuques nas tardes de domingo fora do centro urbano, em frente ao matadouro, mais ou menos onde é hoje a esquina das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires.
Embora tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, no início dos anos 50, a antiga igreja foi demolida, para ser substituída pela atual – a pedido de religiosos católicos e por decreto do então presidente Getúlio Vargas.
A presença do negro no estado do Rio Grande do Sul se expressa na própria história deste estado que, em seus principais momentos, de um modo ou de outro, contou com o testemunho e a ativa participação dos afrodescendentes.
Com os primeiros colonizadores, já vieram escravos, que chegaram a ser um terço da população da província na metade do século 19.
Por volta do ano de 1600, traficantes portugueses já traziam escravos do Rio de Janeiro para revender no Rio da Prata. “Desembarcavam a carga em vários pontos da costa, na barra do Rio Grande ou mais abaixo no Chuí. Estes escravos vieram do famoso Mercado do Valongo, de onde se originaram quase 90% dos negros introduzidos no Rio Grande.
A fundação de Porto Alegre estava inserida na expansão dos domínios portugueses ao Sul do Brasil, visando participar do comércio no Rio Prata. No século XVIII, a foz do Rio da Prata era um espaço estratégico a ser conquistado, pois por ela escoavam parte da prata e do ouro das minas mais ricas da América Espanhola. Ao mesmo tempo, a exploração do ouro nas Minas Gerais, no Brasil, criou a demanda de novos produtos, tais como animais de carga, couro para confeccionar diversos utensílios e carne (charque) para alimentação da escravaria. A descoberta pelos tropeiros paulistas e lagunenses do gado vacum e muar que se reproduzia livremente nos campos de Viamão, em conseqüência da dissolução das estâncias missioneiras do Tape, no século XVII, foi um fator decisivo para a colonização da planície costeira e das pastagens naturais do interior.
A primeira fase da conquista do território correspondeu ao apresamento deste gado e a construção de currais. Em 1740, era concedida a primeira carta de sesmaria nos Campos de Viamão. Os sesmeiros ou estancieiros que se instalaram próximos ao Guaíba – no lugar conhecido como Porto de Viamão – utilizaram o rio como meio de comunicação com o Rio Grande e o Rio Pardo: Vilas militares e postos avançados da conquista do território.
Segundo Achylles Porto Alegre, o povoamento da cidade iniciou pelos terrenos que correspondem às atuais ruas Waschington Luis, Andradas, General Salustiano, Vasco Alves, Duque de Caxias, a antiga Beira do Guaíba até o Beco do Bragança (atual Marechal Floriano) e o Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria).
Em 1778, são construídas as fortificações que tiveram um importante significado na organização do espaço urbano. O abastecimento de água era feito diretamente do Guaíba, inexistiam ruas calçadas, esgoto, limpeza pública ou iluminação. As primeiras ruas a receberem calçamento, chafarizes para abastecimento de água, limpeza, policiamento e iluminação de candeeiros a óleo de peixe foram a Rua da Graça e Rua da Praia (atual Andradas), Rua da Ponte e Rua do Cotovelo (atual Riachuelo), Rua da Igreja e Rua do Hospital (atual Duque de Caxias) em 1779.
Os becos tinham percurso acidentado, estreito e curto, não tinham a mesma estrutura das ruas principais, onde se localizavam os sobrados de pedra e cal. Ao contrário, os becos caracterizavam-se pelos casebres modestos de taipa e palha onde morava a população pobre composta de mascates, taverneiros, artesãos, marinheiros, carregadores, prostitutas e negros libertos.
Os negros, mesmo, em cativeiro conseguiam praticar seus rituais de obrigações aos Orixás, os libertos citados anteriormente se sobressaiam, nesta época, no resguardo de sua religiosidade mesmo em posição inferior na sociedade.
O povoado cresceu e seu novo status político exigiu construções mais duradouras. Trouxeram-se telhas e tijolos de laguna e importaram-se vidros; as primeiras olarias surgiram apenas no século XIX.
Em fins do séc. XVIII e inicio do séc. XIX, os “largos” eram por excelência, espaços de reunião e de atualização das sociabilidades publicas. Existiam os largos da Quitanda, dos Ferreiros, do Pelourinho e do Arsenal. As socialidades públicas, neste período, estavam ligadas as comemorações das festas religiosas. As festas do Divino, da Páscoa, da Quaresma e, principalmente, a dos Navegantes pelo caráter portuário de Porto Alegre. Nelas reunia-se toda a população, ricos e pobres, senhores e escravos. Tal reunião era característica da tradição católica portuguesa e açoriana, mas já aparecia mesclada com traços da cultura afro-brasileira dos negros acompanhando seus senhores.
Era no Largo da Quitanda, atual Praça da Alfândega, que se praticava o comércio, principalmente de amendoim, lenha, hortifrutigranjeiros, carnes e ovos. Foi neste ponto da margem do Guaíba que surgiu, em 1804, o primeiro trapiche para embarque e desembarque de mercadorias e pessoas. Em torno deste cais se reuniram os comerciantes e as quitandeiras com seus tabuleiros, na maior parte composta de negros, como assinalaria o viajante francês Saint-Hilaire, em 1820.
De acordo com as informações de pessoas antigas no meio do batuque, nesta época as “negras minas” que vendiam neste mercado, já tinham o assentamento de um Bará, para dar proteção e movimento nas quitandas. Esta tradição de assentar o Bará nos mercados vem da África, principalmente da região dos yorubás.
No ano de 1820, com o início da construção da Alfândega, as quitandeiras começaram a ser removidas para o Largo do Paraíso (atual praça XV de Novembro). Entretanto, como as resistências foram muitas, a Câmara permitiu que elas continuassem a ocupar o ângulo oeste do Largo da Quitanda, bem como os Largos do Paraíso e do pelourinho.
O Largo do Pelourinho, em frente à Igreja das Dores (1807), era o lugar de ritualização da ordem na sociedade colonial. Neste largo foi construído o pelourinho onde se açoitavam os escravos. Existiam outros na vila, mas sua localização tornou-se difícil de definir. Ao que tudo indica, o largo serviu ao comércio miúdo com a saída das quitandeiras do Largo da Quitanda.
Em 1814, Porto Alegre possuía seis mil habitantes e a Província 70 mil. Em 1822, a capital é elevada a categoria de cidade.
Em 1829, surgia o primeiro Código de Posturas Policias para disciplinar a ocupação do espaço urbano; designavam-se lugares de coleta d’água, lavagem da roupa dos hospitais, despejos dos esgotos, lixo, etc. Em 1837, uma série de novas disposições procurava dar conta da situação de cerco da cidade. Vários artigos tratavam da questão do controle da mão-de-obra escrava que alcançava mais de 1/3 da população de Porto Alegre.
Em 1842, o Governador da Província Saturnino de Souza sente a necessidade de construir um mercado para organizar o comércio na capital, até então feito em barracas desordenadamente espalhadas entre o Largo da Alfândega e do Paraíso. O lugar escolhido foi o Largo do Paraíso, onde atualmente se encontra o Chalé da Praça XV. Construí-se também uma doca próxima (no lugar da atual Praça Parobé) com espaço para estacionamento de carretas e carroças, no sentido de facilitar o abastecimento do mercado.
O antigo Largo do Paraíso passa por um significativo processo de transformação. O primeiro mercado tornara-se pequeno para as exigências da cidade. Em 1865, o Conselho Municipal decide pela construção de outro, no alinhamento do Caminho Novo (o primeiro andar do atual Mercado Público). O novo mercado, inaugurado em 1869 tornou-se a maior obra arquitetônica da cidade, com 72 bancas internas e 80 externas. É neste Mercado que o famoso Príncipe Custódio “assentou” um Bará. A Mãe Jurema de Xangô, uma das mais antigas do estado, nos conta que bem antes de se falar no Príncipe Custódio, o pai de santo dela, Paulino de Oxalá, já mandava os filhos de santo, em saída de obrigações, levarem moedas no Bará que tinha assentado numa banca do Mercado Público. O mesmo comentário foi feito de Mãe Antonia do Bará, que faleceu aos 96 anos de idade no ano de 1998.
Outro antigo Pai de Santo chamado Silvio Brito (Bino de Ogum) nos informa que sua bisavó Maria Pinheiro da Silva, filha do Orixá Ogum, Yalorixá da Nação Ijexá, também fazia comentários a respeito do Bará que as “negras minas” tinham assentado, ainda nas bancas improvisadas, onde vendiam suas mercadorias.
Os africanos chegaram às terras gaúchas com os primeiros tropeiros. Mais tarde, chegaram aos milhares para trabalhar nas charqueadas, nas fazendas, nas residências. Seus descendentes juntamente com os descendentes de outros povos, aqui se miscigenaram, formando os mestiços, dando origem a população de nosso estado.
A Sociedade Libertadora, fundada em Porto Alegre no dia 29 de agosto de 1876, empenhou-se na libertação das crianças nascidas de mães escravas. Muitos jornais deixaram de anunciar a fuga de escravos e passaram a defender a sua libertação. Em 1833, foi criado o Centro Abolicionista.
Entre 12 e 18 de agosto de 1884, promoveu-se a Jornada Abolicionista: pessoas dedicadas à causa batiam de porta em porta pedindo a alforria dos escravos. No dia 7 de setembro de 1884, a Câmara Municipal declarou que em Porto Alegre não havia mais escravos.
Inicia-se uma nova luta pela sobrevivência deste povo sofrido. Muitos tiveram que comprar sua liberdade, trabalhando de graça para o patrão de um a cinco anos.
Os negros se aglomeraram por diversos locais da cidade. O principal foi o Campo do Bom Fim, que mais tarde passou a se chamar Campo da Redenção. Sem comida, roupa e remédio, que antes eram atribuições de seus donos iniciando um processo de marginalização. Os senhores deram baixa na coletoria, não pagaram mais impostos sobre os negros, mas continuavam a usá-los como escravos.
Surge a Colônia Africana, grande concentração de população negra e desvalida, que compreendia os bairros do Mont’Serrat, Rio Branco e parte do Bom Fim. O bairro Mont’Serrat ficou conhecido como “Bacia”, devido ao número expressivo de casas de religião, onde se praticavam os cultos de origem africana.
Como aconteceu com a maioria das populações de baixa renda, pouco a pouco estes primeiros habitantes da região foram afastados para bairros distantes, em função da valorização dos terrenos que eram mais próximos da área central.
Havia outros pontos da cidade, como o Areal da Baronesa e a Ilhota, que eram fortes núcleos de negros, ali se constituíram, pouco depois da escravatura. O bairro hoje é conhecido como Cidade Baixa onde compreende as áreas antes denominadas de: Arraial da Baronesa, Emboscadas, Areal da Baronesa. No século XIX era denominado Arraial da Baronesa, por alusão a uma grande extensão territorial de propriedade da dona Maria Emília da Silva Pereira, Baronesa do Gravataí. Faziam parte da área, também, propriedades rurais, que usavam mão de obra escrava. Em fuga os escravos se escondiam nos matos que faziam parte do arraial, sendo “batizado” de território das “Emboscadas”.
Após um incêndio que destruiu a propriedade, em 1879, a Baronesa loteou e vendeu suas terras. O território passa ser habitado principalmente por negros. Tendo em vista a quantidade de areia na região, o local passa se chamar “Areal da Baronesa”.
A imprensa falava mal do arrabalde, contando histórias de desordens que ali ocorreram. No território tinha jogos de maneira geral, cancha de osso, além da prostituição, e falava-se muito sobre valentões invencíveis que enfrentavam os “ratos brancos” da Polícia Municipal.
O cronista Aquiles de Porto Alegre, que conheceu a zona, ainda antes de ser loteada, informa que era um “matagal cerradíssimo onde os negros fugidos iam esconder-se de seus cruéis e desumanos senhores”. O escravo que se revoltava contra tirania de seu dono procurava aquele lugar para esconderijo, por que a mataria era espessa, e eles encontravam ali para alimentar-se, o araçá, a cereja, a pitanga, o maracujá, o joá, o ananás e tantas outras frutas silvestres...” ainda conforme Aquiles, a população porto-alegrense também chamava esse arrabalde de “Banda Oriental”, pelas frequentes desordens que ali se davam, “principalmente no Beco da Preta, que era um dos seus tantos corredores escuros”.
O Areal da Baronesa ficou muito famoso por ser reduto de grandes carnavalescos da cidade. Neste local o negro fazia os melhores carnavais da cidade. Não diferente da Colônia Africana, a baronesa foi vencida pela especulação imobiliária na década de 60, e os negros foram empurrados para a periferia da cidade.
Junto com o Areal da Baronesa, outro local insalubre a “Ilhota” formava uma espécie de cinturão negro e pobre na cidade de Porto Alegre, nesta área ocorriam frequentes inundações. Destes dois territórios, saíram inúmeros músicos e compositores, solistas e jogadores de futebol que ficaram nacionalmente conhecidos, como Lupicínio Rodrigues e o jogador Tesourinha.
Mesmo ocupada por moradores muito pobres a “Ilhota” deixou sua marca na memória da cidade, sobretudo nas crônicas de carnaval, samba e batuque.
No início da década de 60 e intensificações nos anos 70 a população de baixa renda que residia nestas vilas próximas ao centro foram transferidas para a Restinga, hoje um dos maiores bairros da cidade de Porto Alegre.
Mesmo com todas as dificuldades, o negro conseguiu manter o culto aos Orixás. Hoje no estado do Rio Grande do Sul, existem mais de 70 mil casas que seguem as tradições de origem africana.
Uma das nações de origem africana mais cultuada no Rio Grande do Sul é o Ijexá, cujas raízes são inúmeras. Tenho procurado informações que nos mostrem um pouco da história dos indivíduos que contribuíram para a permanência de nossos rituais religiosos aqui no sul. Nesta caminhada conheci pessoas que engrandeceram este trabalho com suas preciosas informações, agradeço a cada um que me abriu a porta colaborando com as pesquisas, que tem o único propósito de informar como se deu a estrutura religiosa africanista na cidade de Porto Alegre. A capital gaúcha se destaca entre as cidades brasileiras pela pobreza em testemunhos concretos de suas origens. Ficaram, entretanto, alguns traços imateriais de um passado distante que tentamos resgatar neste trabalho.
Origem da Nação Ijexá
Ìjèsà
Ilexá é uma cidade histórica, situada no Estado de Osun (Oxum). Localizado no sudoeste da Nigéria. Cujo povo ficou conhecido como nação Ijexá; Localiza-se na interseção de Ilê Ifé, Oshogbo e Akure. A cidade é uma das mais tradicionais da história do povo yorubá, já chegou a ser a capital do reino de Oyó, nos tempos do império; e no século XIX com a queda de Oyó, Ilexá se tornou sujeito a Ibadan. Das cidades e aldeias desta região da Nigéria, Ilexá é a maior, com uma população com mais de cem mil habitantes nos dias de hoje; é um centro agrícola e comercial, cujos principais produtos são: o cacau, noz de cola, óleo de palma e inhame. Ilexá possui 18 escolas secundárias e também uma academia de educação do estado, e tem um grau de unidade cultural e lingüística que se distingue dos outros povos. A cidade tem rede de estradas que contribui para o sistema de esferas comerciais que ativa a distribuição de produtos dentro e fora da região.
As tradições de fundação de Ijexá, como um dos reinos importantes da região de ijeshaland surge de uma migração dinástica de Ilê Ifé, o centro sagrado da mitologia yorubá. A versão padrão de tradição entre os ijexás, diz que a origem deste povo vem de um jovem, filho de Oduduwa, chamado Obokun. O povo se autodenomina como Omo Obokun (crianças de Obokun).
A história conta que Obokun, era o filho mais novo de oduduwa. Ele se ofereceu para ir buscar água no mar para curar a cegueira do pai. Em seu retorno ele foi informado que seu pai estava morto, e ele pediu sua parte na herança. Foi lhe dito que todas as heranças, incluindo coroas, foram dadas à seus irmãos mais velhos. E para ele ficou apenas uma espada, Ida Ajasegun (espada da conquista) com a qual Obokun se tornou um grande guerreiro e inicio seu patrimônio em Ijexá.
Em outras histórias de Ijexá afirma-se que o local da cidade já estava ocupado por assentamentos dispersos por uma população indígena conhecida como Okesa, cujo líder é considerado como antepassado de Ogedengbe Obanla de Ijeshaland, um líder guerreiro que morreu em 1910. A cidade possui um memorial para este líder por que ele desempenhou um papel vital durante a guerra (kiriji) do século XIX, o que impediu Ijexá e outras cidades de serem conquistadas e dominadas por Ibadan e outras regiões poderosas.
Sem dúvida, a Nação Ijexá foi a que mais se destacou na cidade de Porto Alegre. Sou descendente da raiz de Pai Paulino de Oxalá Efan, Babalorixá, que teve todas suas obrigações feitas pelas mãos de duas negras, ex-escravas, oriundas da região de Ilexá na Nigéria. Uma recebeu o nome no Brasil de Margarida, era filha de Oxalá, e sua irmã chamava-se de Inácia. Em quanto viveram participaram de todas as obrigações na casa de Pai Paulino. Mãe Jurema de Xangô, é quem me passa as informações sobre quem fez a iniciação de Pai Paulino, e não lembra com certeza qual o Orixá de Mãe Inácia. Pai Paulino, oriundo de pelotas, morou na Avenida Berlim 418, em Porto Alegre, onde iniciou muitos filhos de santo que se tornaram sacerdotes e sacerdotisas da religião africana em Porto Alegre e outras localidades do Estado do Rio Grande do Sul. Foi um sacerdote muito rígido, não era assim tão fácil receber um axé de suas mãos, o filho de santo tinha que mostrar merecimento. Mesmo com vários anos de iniciação ele só liberava para trabalhar na religião depois de ter certeza de que aquela pessoa estava realmente hábil para executar os rituais. Os filhos de santo dele que tiveram maior destaque foram: Manoel Antonio Matias, conhecido como Manézinho de Xapanã, Idalino Moreira conhecido como Pai Idalino de Ogum, Pedro Fagundes, tamboreiro; Maria Antônia Ferreira de Assis, conhecida no meio religioso como Mãe Antônia de Bará; Jurema de Xangô; Julia de Xapanã; Ruquina de Oxalá; Joana de Xapanã; Barbosa de Ogum; Gasparina de Oxum, entre muitos outros.
Manoel Antônio Matias - Manézinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896, numa localidade denominada Caconde,interior do RS, casado com Dona Eugênia de Oxalá. Teve sua iniciação feita por Pai Paulino de Oxalá Efan, da Nação Ijexá, morou no Mont’Serrat, na rua Reingantes, e segundo dona Terezinha de Xangô, neta de Jôba de Xapanã, ele também morou na Avenida Carlos Gomes, onde veio a falecer em 30 de março de 1948. Foi um dos maiores Babalorixás do Rio Grande do Sul. Seu Orixá trouxe muitas rezas que faz parte dos rituais da nação Ijexá, e também usadas por outras. Assim como seu Babalorixá Paulino, não fazia aprontamento de filhos de santo que não tivessem merecimento. Manézinho deixou muitos filhos de santo que se destacaram dentro da religião, entre elas podemos citar: Mãe Olmira de Xangô, minha avó e madrinha; Mãe Antonieta do Bará e Mãe Ondina de Xapanã; Mãe Ester Ferreira, conhecida como Estela de Yemanjá, cunhada de Manézinho; Maria Valdomira do Nascimento, conhecida como Mãe Miróca de Xangô; Pai Ademar do Ogum; Mãe Maria do Bará Lodê, foi esposa de Idalino de Ogum; Mãe Diva de Yemanjá; Dorvalina de Xangô; Alziro de Oxum, irmão carnal de Mãe Ondina de Xapanã; Merenciana de Odé; Alice de Oxalá, filha carnal de Mãe Ondina de Xapanã; Mãe Rosalina de Bará; João de Oxalá, tamboreiro; Zéca Pinheiro de Xapanã; Mãe Julia de Oxum; Maria Joaquina de Xapanã, esta senhora entrou para casa de Pai Manezinho cega e foi curada, se tornou uma grande Yalorixá; João de Xangô; Mãe Julieta de Oxalá; Mãe Jovelina da Oyá; Pai Brandão do Ogum, esposo da Albertina surda da Oxum; Mãe Picuxinha do Bará; Pai Venceslau de Oxum; Pai Nelson da Yemanjá; Avelina de Xangô e seu esposo Nininho de Ogum; Adão de Bará e Maria de Xangô, irmãos consangüíneos de Pai Tuia de Bará; Mãe China de Oxalá; Pai Albino de Xangô; Mãe Nóca de Oxum, mãe carnal de Pai Tônho de Oxalá; Lavinho de Ogum e Noracema de Xangô, filhos carnais de Mãe Jôba de Xapanã; Carmelita de Xapanã; Luiza do Ogum; Amélia de Xapanã, mãe do tamboreiro “Tesoura de Ogum” entre outros.
Maria Antônia Ferreira de Assis - Mãe Antônia do Bará, nasceu em São Sebastião do Caí, veio para Porto Alegre com 2 anos de casada. Ficou muito doente e foi internada no hospital da Santa Casa. Estava esperando para ser operada, mas, não se sabe de onde, surgiu no quarto um senhor negro. Vendo o estado em que ela se encontrava, alertou o marido dizendo que tirasse Antônia imediatamente do hospital e a levasse na casa de um “curandeiro” que morava no Mont’Serrat. Ele deu o endereço da casa de Pai Manézinho de Xapanã. Seguindo o conselho daquele senhor o casal foi à procura do babalorixá, que ao consultar os orixás conclui que Antônia teria que ser iniciada na religião. Manézinho faz os primeiros trabalhos e, já quase curada encaminha à casa de Pai Paulino de Oxalá, onde foram feitas as obrigações de assentamento de Orixás para Mãe Antônia de Bará. Nesta época Pai Manoel tinha em casa somente o Orixá Bará e o axé de Búzios, como era costume na época as obrigações vinham aos poucos, se montava uma estrutura bem sólida para depois começar ter filhos de santo. Após fazer as obrigações para Mãe Antônia, Pai Paulino à leva, novamente, à casa de Manézinho para ajudá-lo e aprender com ele todos os fundamentos da religião, nesta época as obrigações de Pai Manoel já estavam completas em seu Ilê. E foi no terreiro de Manézinho de Xapanã que a famosa Mãe Antônia de Bará aprendeu muito sobre os fundamentos da religião africana.
Idalino Moreira - Pai Idalino de Ogum, um dos mais afamados Babalorixás do Rio Grande do Sul, era filho de Dona Francelina de Xangô, que faleceu aos 125 anos de idade. Idalino Perdeu seu pai muito cedo, e de acordo com informações de sua enteada Cenira de Xapanã, ficou aos cuidados do Príncipe Custódio. Pai Idalino começa sua trajetória religiosa sendo filho de santo de Custódio Joaquim de Almeida, da Nação Jêje. Com a morte de Custódio, ainda não tinha todos os axés, então vai ser filho de santo de Pai Paulino de Oxalá Efan, da Nação Ijexá.
Dona Francelina, mãe de Idalino
Pai Idalino teve três casamentos e vários filhos, um deles foi o famoso Babalorixá Turéba de Ogum. Seu ultimo relacionamento foi com dona Maria do Bará Lodê, filha de santo de Pai Manézinho de Xapanã. Residiu muitos anos no Mont’Serrat, e depois mudou-se para vila Bom Jesus onde permaneceu até sua morte. Seguindo as Nações Jêje e Ijexá, teve grande destaque no Batuque do Rio Grande do Sul. Muitos Babalorixás e Yalorixás o procuravam em busca de sua sabedoria. Foi contemporâneo e muito amigo do Pai Alfredo Sarará de Xangô, pai carnal de Pai Pedro da Yemanjá; Pai Idalino de Ogum trabalhava na construção civil como servente de pedreiro, levou uma vida humilde, com grande dedicação ao culto dos Orixás, falava perfeitamente o dialeto africano, não deixava fotografar nem filmar o quarto de santo. Era tamboreiro, tocava para os Orixás e para os Eguns. Pai Idalino nasceu em 09 de novembro de 1872 e faleceu em 1987 com 115 anos de idade.
Jurema de Xangô - Mãe Jurema de Xangô, nasceu no dia 5 de outubro de 1923, filha de Maria da Glória do Ogum, seu pai era espírita e faleceu quando ela tinha 9 anos. Fez o assentamento de seus Orixás em 1933, com 10 anos de idade pelas mãos do saudoso Paulino de Oxalá Efan, da nação Ijexá.
Mãe Jurema trabalhou 20 anos com Mãe Antonia de Bará. Morou ao lado da casa de Pai Idalino do Ogum na vila Bom Jesus, com quem trabalhava e ajudava na religião. Com a morte de pai Paulino foi ser filha de santo de Pai Joãozinho do Bará da Nação Jêje, e passou a cultuar os rituais das duas nações predominantes no Estado, Jêje e Ijexá. Mãe Jurema conta que era pequena, e sua madrinha, dona Dorcinda de Obá, uma negra mina descendente de escravos, a levava na casa de Pai Antoninho de Oxum, da Nação Oyó,onde acompanhava as festas para o Xangô do Povo, que duravam 32 dias. Conheceu muitas pessoas famosas dentro do Batuque como a Mãe Tola de Yemanjá, mãe carnal do Pai Pedro da Yemanjá, seu esposo Alfredo Sarará de Xangô, entre muitos outros. Mãe Jurema conta que o batuque na casa de Pai Paulino começava às 2 horas da tarde, e às 8 da noite já estava concluída todas as obrigações.
Alfredo Elpídio de Lima - Alfredo Sarará, filho de Xangô, Babalorixá de grande importância para o Batuque do Rio Grande do Sul. Era filho de santo de Janjão de Xangô da Nação Ijexá. De acordo com Mãe Jurema de Xangô, Janjão era um negro muito feiticeiro, ela o conheceu numa festa de batuque na casa de Mãe Etelvina de Bará. Mãe Etelvina foi outra grande Yalorixá da antiguidade dentro da nação Ijexá. Pai Alfredo de Xangô morava na Leopoldo Bier, em Porto Alegre, era casado com a Yalorixá da Nação Jêje Glória Isolina Barbosa, mais conhecida como Ya Tolá de Yemanjá e teve com ela os filhos: Pedro de Yemanjá, Miguelina de Xangô, tinha o apelido de “quito”, Alfredinho, tamboreiro, Miguel de Xangô, tinha o apelido de “Cara Furada”, e a mais nova era Ironita de Oxum.
Pedro de Yemanjá
José Pedro Barbosa de Lima - Nasci na cidade de Olinda, lá em Pernambuco, por volta de 1912. Cheguei ao Rio Grande do Sul com três anos de idade e, aos dez, como muitos outros negros, já trabalhava aqui ao lado, no porto, ajudando a descarregar a carne dos navios que atracavam, ganhando, como pagamento, miúdos de boi e outras partes menos nobres. Depois de alguns anos, me tornei estivador profissional.
Nesta época, o trabalho na estiva era controlado pelo sindicato da categoria. Só os estivadores sindicalizados podiam carregar e descarregar as embarcações. Isso nos garantia uma situação razoavelmente confortável. A gente trabalhava dois, três dias por semana, mas valia a pena, já que o sujeito ganhava quase que por quinze ou um mês até. Então tinha este fator que era muito bacana: o sujeito podia não ta trabalhando, mas chegava ali e arrumava serviço.
Eu, e vários outros trabalhadores do porto íamos diariamente ao Mercado para descansar e nos divertir. Algumas vezes, eu passava pelo Restaurante Treviso, onde se reunião para fazer noitadas grandes artistas vindos do Rio, como Francisco Alves e Carlos Galhardo; e pelo Bar Naval, ponto de encontro dos marítimos e estivadores. Mas eu não era um homem da noite, um boêmio, por causa da minha religião.
Em 25 de dezembro de 1925, me aprontei na religião e me tornei Pedro de Yemanjá. Desde então, eu fiquei ainda mais ligado ao Mercado. Afinal, ali no meio, ali ó, onde havia uma banca redonda, ali existe um Bará. O Bará é o dono dos caminhos e das encruzilhadas. Ele representa o trabalho, a fartura, o início de todas as coisas.
Fontes: Este texto é parte da entrevista que o Babalorixá Pedro da Yemanjá deu à Laura Dutra em 01/09/1992 (Acervo Memorial do Mercado).
Pai Pedro de Yemanjá foi iniciado na religião por sua avó consanguínea, Yalorixá Isolina de Xangô Ainã da Nação Jêje. Este saudoso sacerdote conhecia os fundamentos de todas as nações de batuque e também de eguns.
Ormira dos Santos - Mãe Olmira de Xangô foi iniciada na religião africana pelo saudoso Babalorixá Manézinho de Xapanã, da Nação Ijexá. Lavava roupa para fora e se dedicava ao culto dos Orixás com muito zelo. Era uma pessoa humilde, sabia muito bem os fundamentos da religião. iniciou muitos filhos de santo que se tornaram Babalorixás e Yalorixás bem destacados dentro do Batuque. Com a morte de pai Manézinho, muitos de seus filhos de santo passaram para o terreiro de Mãe Olmira, que ficava na rua Ariovaldo Pinheiro, 157, onde viveu até sua morte em 1987.
Artur Manoel dos Santos
Pai Tuia de Bará, nasceu em janeiro de 1942, no berço da religião africana. Começou sua vida religiosa aos dezoito anos, quando fez o assentamento de seus Orixás. Foi criado no meio de grandes sacerdotes do ritual. É afiliado de batismo de Manézinho de Xapanã e sua esposa Eugenia de Oxalá. Sua iniciação foi feita por Mãe Olmira de Xangô Aganjú, da Nação Ijexá, a qual lhe passou os verdadeiros fundamentos do culto aos Orixás e, também, dos Eguns. Seu pai carnal era o Babalorixá Nininho de Ogum, da casa de Pai Manézinho.
Pai Tuia de Bará comenta que antigamente o pessoal do “santo” era mais respeitado, pois se faziam respeitar. Se tivesse um trabalho despachado em um determinado lugar da natureza, as pessoas davam voltas longas, para se distanciar, em sinal de respeito, hoje em dia o pessoal vai em cima “bisbilhotar” para ver o que tem no axé. Diz que um sacerdote de orixá só iniciava um filho quando tinha certeza que este levaria adiante os ensinamentos, davam-se axés de Búzios e Facas, para quem tinha Dom. Pai Tuia de Bará morou 11 anos na casa de sua mãe de santo, só depois deste período é que abriu seu terreiro na Rua São Leopoldo em porto Alegre. Ele comenta que os atos religiosos eram bem diferentes, e que há poucos terreiros que seguem a risca o verdadeiro ritual. Sua trajetória dentro da religião faz com que inúmeros Babalorixás e Yalorixás o procurem quando estão com dúvidas. Este é um fato normal dentro do culto, quando há humildade.
Mãe Celestrina de Oxum
Mãe Celestrina de Oxum Docô foi aprontada na religião africana pelo Babalorixá Cudjobá de Xangô, da nação Ijexá.
Pai Bino de Ogum nos conta que sua bisavó, Yalorixá Maria do Ogum Onira, era contemporânea de Cudjobá de Xangô, e eram vizinhos na Rua Taquari, em Porto Alegre. Pai Cudjobá convidou dona Maria de Ogum para testemunhar uma obrigação de muito fundamento, feita pelo Babalorixá à um filho de santo. Estava presente dona Zenaide, tia de Pai Bino de Ogum, que relatou os detalhes desta obrigação à seu sobrinho. De acordo com os comentários que Mãe Maria de Ogum fazia, dona Celestrina de Oxum Docô, já era iniciada na religião, antes de ser filha de santo de Pai Cudjobá, e que ele teria sido um escravo proveniente do norte do Brasil.
Mãe Celestrina de Oxum trabalhava numa banca do mercado, onde vendia seus quitutes, e Hugo de Yemanjá, ainda jovem, auxiliava nos afazeres.
Pai Cudjobá de Xangô observava o jovem no dia a dia, e ele mesmo sugeriu a Mãe Celestrina o aprontamento de Pai Hugo de Yemanjá na religião.
Pai Hugo de Yemanjá
Hugo Antônio da Silva - Pai Hugo da Yemanjá, nascido em 29 de abril de 1904, casado com a Yalorixá Jovelina da Rosa Silva, conhecida no meio religioso como Jovelina de Xangô Aganjú. Dona Jovelina não podia ter filhos. O senhor Hugo teve uma segunda mulher chamada Lurdes, com quem teve 21 filhos; alguns faleceram ainda criança. Uma de suas filhas, Araci Silva Paixão é quem nos dá estas informações. Dona Araci era casada com o Babalorixá Airton Paixão de Xangô, filho de santo de Hugo de Yemanjá e diz que eles sempre comentavam que praticam as nações Ijexá com Jêje.
Dona Cândida era o nome da mãe consanguínea de Pai Hugo, e contava para os netos que seu filho Hugo com a idade de 12 anos, passou a ter um tipo de desmaio, perdia totalmente à consciência. Até que um dia, ao voltar a si, ele contou que ouvia sua mãe chamá-lo, mas não conseguia responder, nem voltar do lugar onde estava, e ele descreveu o local como se estivesse em uma aldeia da África.
Pai Hugo da Yemanjá foi iniciado na religião pela Yalorixá Celestrina de Oxum Docô da nação Ijexá, com 16 anos de idade e se tornou um importante Babalorixá no Estado do Rio Grande do Sul, deixou muitos filhos de Santo que também se destacaram no meio religioso, entre eles podemos citar: Airton Paixão de Xangô; Pai Marcos de Oxum; Pai Lélo de Xangô; Virginia de Odé; Bela de Oxalá; Rute de Yemanjá; Mãe Jovita de Xangô, Pedro China de Yemanjá; Maria da Glória Francisca de Souza, conhecida no meio religioso como Mãe Glorinha de Ossãe; Nicanor do Ossãe; Mãe Chininha de Yemanjá, que morou na rua Rodolfo Gomes; Edília de Bará; Mãe Maria de Xangô da rua Barão do Triunfo; Virginia de Oxum; Pai Dirceu de Xangô, pai carnal de Pai Bino de Ogum; entre outros.
Pai Hugo faleceu aos 53 anos de idade no ano de 1957.
Mãe Maria do Ogum Onira
Maria Pinheiro da Silva, conhecida como mãe Maria do Ogum, nascida em 06 de janeiro de 1888, foi outra importante Yalorixá da nação Ijexá. Filha de santo do saudoso Alfredo Sarará, com quem aprendeu os fundamentos da religião africana.
Era contemporânea de Idalino do Ogum, com quem mantinha relações de irmandade, pois foi das mãos de seu Pai de Santo, Alfredo Sarará, que Idalino de Ogum recebeu o Axé de Obé para sacrificar bois. Teve como filhas carnais a Yalorixá Edite de Oxum e Mãe Glorinha de Ossãe, que também seguiram a Nação Ijexá.
Mãe Maria do Ogum morou na Rua Taquari, próxima à casa de Cudjobá de Xangô, pai de santo de dona Celestrina de Oxum. E por último mudou-se para Rua Mathias José Bins, no bairro Chácara das Pedras.
Suas principais obrigações religiosas, inclusive os sacrifícios de bois para os Orixás, eram feitas num local denominado Casa Grande, ou Castelo, nas imediações onde é hoje o Palácio da Polícia. Neste local aconteciam os mais diversos rituais de religião aos comandos de Mãe Maria do Ogum e seus contemporâneos. Foi ela quem fez a iniciação de Turéba de Ogum aos 16 anos de idade.
Sua família, quase que na totalidade, são seguidores da religião afro-brasileira. Hoje seu representante é o Babalorixá Bino de Ogum, que mantém firme as tradições herdadas de seus antepassados, com o terreiro localizado na Rua Araponga, no bairro Chácara das Pedras em Porto Alegre.
Mãe Glorinha do Ossãe
Yalorixá Maria da Glória Francisca de Souza, conhecida no meio religioso como Mãe Glorinha do Ossãe. Teve sua iniciação no dia 17 de junho de 1925, nas mãos do Babalorixá Manoelzinho do Cavanhaque da Nação Ijexá, na falta deste passou a ser filha de Pai Hugo da Yemanjá, também do Ijexá. Mãe Glorinha do Ossãe nasceu no ano de 1909 no berço da religião africana, vem de uma descendência espiritual muito importante no culto aos Orixás dentro do Rio Grande do Sul. Era filha de ventre da Yalorixá Maria Pinheiro da Silva, Maria do Ogum Onira citada anteriormente.
Mãe Glorinha do Ossãe residia na Vicente da Fontoura, nos anos quarenta, e no inicio dos anos cinquenta passou a morar na Rua Araponga, no bairro Chácara das Pedras, e a partir de 1962 foi morar na Av. Bento Gonçalves, 3497 onde manteve seu terreiro por muitos anos. Ela contava aos netos, que na adolescência, morava com a família na Travessa do Carmo, e de vez em quando, via o Príncipe Custódio passar montado em seu cavalo.
Mãe Edite de Oxum
Imponente Yalorixá da nação Ijexá, iniciada pelo Babalorixá Alfredo Sarará. Após a morte de Pai Alfredo, passou suas obrigações às mãos de sua genitora, Mãe Maria Pinheiro da Silva.
Mãe Edite tinha uma vidência extraordinária. Além da Nação Ijexá, era também dirigente espiritual do Centro de Umbanda Rei Agostinho, na Rua Fernando Cortes, em Porto Alegre.
Babalorixá Silvio Brito - Pai Bino de Ogum
O Babalorixá Bino de Ogum representa hoje uma importante linhagem religiosa dentro do Estado do Rio Grande do Sul. Bisneto da Yalorixá Maria do Ogum Onira, neto da Yalorixá Glorinha do Ossãe, sobrinho de Mãe Edite de Oxum, e filho carnal de Pai Dirceu de Xangô Ogodô.
Traz em seu destino a missão de dar segmento às raízes africanistas de sua família carnal e religiosa. Foi iniciado e aprontado na religião por sua avó Glorinha do Ossãe, filha de Santo do Babalorixá Hugo da Yemanjá da Nação Ijexá.
Pai Bino de Ogum conviveu no meio de importantes Babalorixás e Yalorixás da antiguidade. Era frequentador assíduo da casa de Pai Turéba de Ogum, o qual foi iniciado na religião por sua bisavó Maria do Ogum Onira, com quem aprendeu muitos fundamentos da religião hoje praticados em seu terreiro na Rua Araponga em Porto Alegre.
Maria Barbosa Pontes - Yalorixá Preta de Oxalá, nasceu no berço da religião Africana. Com um ano de idade, Pai Paulino de Oxalá Efan fez o assentamento de seu Orixá, por motivos de saúde.
Mãe Pretinha como era carinhosamente chamada, dedicou-se desde nova aos cultos da religião e teve inúmeros filhos de santo que se tornaram importantes Babalorixás e yalorixás dentro e fora do Estado do Rio Grande do Sul.
Mãe Ondina de Xapanã
Mãe Ondina de Xapanã foi iniciada e aprontada na religião afro-brasileira por Manoel Antonio da Silva, Manézinho de Xapanã, da Nação Ijexá. Era mãe consanguínea de Mãe Táia de Xapanã que a substituiu na função de Yalorixá. Morou durante muitos anos no bairro Passo das Pedras, onde se dedicou à religião. Aprontou inúmeros filhos de santo, entre elas a famosa Darcila de Oyá, mãe de santo do saudoso Jaime da Yansã. Mãe Ondina ficou famosa pela rigidez nos dias de obrigação. Dentro de seu Ilê a religião era levada a sério, não podia ter deslizes, seu Orixá era enérgico assim como o Xapanã de pai Manézinho. Era temida por seus adversários pelo poder de seus feitiços
Yalorixá Ester Ferreira
Mãe Estela de Yemanjá
Mãe Estela de Yemanjá foi iniciada na religião pelo Babalorixá Manézinho de Xapanã da Nação Ijexá. Morou muitos na Rua Das Camélias na Vila Bom Jesus, em Porto Alegre, onde dedicou-se a cultuar a religião afro-brasileira. Era cunhada de pai Manézinho, e com ele aprendeu a lida com os orixás e Eguns. Teve muitos filhos de santo que se destacaram dentro do culto, entre eles podemos lembrar-nos da saudosa mãe Maria da Oyá; Pai Marquinhos da Oxum; mãe Ovidia de Oxum; Pai Miguel de Xangô, Pai Otaviano de Xangô entre outros. Passaram a seus cuidados após a morte de Manézinho: Mãe Miróca de Xangô, Pai Ademar de Ogum, Mãe Diva de Yemanjá, Delurdes de Oxum; Zilda de Oxum, entre outros. Sua raiz continua firme nas mãos da Yalorixá Santinha de Ogum entre outros descendentes.
Pai Leopoldo Da Yansã
Leopoldo Pires ao lado de seu filho de santo, Babalorixá Jorge Verardi de Xangô, presidente da Afrobras. Quem nos fala de Pai Leopoldo da Iansã é sua esposa, Yalorixá Malvina da Silva Pires, conhecida no meio religioso como Mãe Moza de Ogum. Ela nos informa que Pai Leopoldo nasceu em 02 de dezembro de 1912, filho de dona Joana Pires da Iansã, era tamboreiro e seguia a Nação Ijexá.
Dona Moza nasceu em General Câmara, veio para Porto Alegre para trabalhar na casa de Cezar Todeschini, cuidando de duas crianças. Conheceu o Sr. Leopoldo, com quem veio a se casar. Ele foi iniciado na casa de Pai Idalino de Ogum, depois foi ser filho de santo de mãe Andressa de Oxalá que o aprontou na religião com todos os axés. Dona Moza, também fez sua iniciação com Pai Idalino de Ogum; depois foi ser filha de mãe Jovita de Xangô, da bacia de Pai Hugo de yemanjá, onde completou suas obrigações dentro da religião.
Pai Lélo de Xangô
Manoel Irêno Cardoso, Pai Lélo de Xangô ao lado de sua esposa e da filha de santo Jussara de Yemanjá. Veio de santa Catarina com problemas sérios de saúde. Procurou todos os recursos possíveis em médicos, Igrejas e casas espíritas. Foi internado no Hospital São Pedro como louco. Sofreu por 11 anos, até que um conhecido o levou a casa de pai Hugo da Yemanjá.
O Babalorixá Hugo da Yemanjá, após consultar os Orixás através do jogo de Búzios orientou Lélo e sua esposa que o acompanhava, o que deveria ser feito e o valor que custaria. Dona fulana disse que eles não tinham “um tostão”. Pai Hugo, olhou para o cofre que estava aos pés da mãe Yemanjá, disse Omio minha mãe, me de licença, vou pegar o dinheiro para ajudar este filho necessitado, ele vai melhorar muito de vida e retornará com muito mais. E assim foram feitos os primeiros trabalhos, e pai Lélo foi melhorando. Foi iniciado na religião. A situação de ruim passou a ser favorável demais para Pai Lélo que já tinha sua casa e mais outras que alugava em Alvorada, onde levou pai Hugo para morar.
Com a morte de Pai Hugo, Lélo de Xangô, desorientado, ficou afastado da religião por 10 anos. Acabou sendo preso por uma calúnia. Antes de ser preso ele teve um sonho com Pai Hugo lhe dizendo entre outras coisas, que teria problemas sérios com a justiça, e o orientou a dar um carneiro para Xangô que seria liberto. Pai Lélo preso, ficou em desespero; lembrou-se do sonho e disse a si mesmo: Quando eu sair daqui, vou abrir minha casa e continuar a religião.
Pai Lélo ficou detido por 12 horas, e foi inocentado. Após este fato deu segmento a seu destino de ser Babalorixá.
Babalorixá Araci de Odé
Pai Araci de Odé foi um conceituado Babalorixá dentro da Nação Ijexá. Foi iniciado e aprontado na religião pelo saudoso Zeca Pinheiro de Xapanã, do terreiro de Pai Manézinho de Xapanã. Araci de Odé foi casado com Mãe Olmira de Xangô, com quem teve os filhos Laerte de Yemanjá e Zilá de Ogum.
Pai Araci morou muitos anos na cidade de Rio Pardo, onde iniciou muitos filhos de santo, que ainda dão segmento a suas tarefas dentro da religião africana.
Yalorixá Jôba de Xapanã
Angelina Nunes Silveira, nascida em 09 de outubro de 1887. Foi iniciada e aprontada na religião pelo saudoso Manézinho de Xapanã da Nação Ijexá. Mãe Jôba, seguiu os passos de seu Babalorixá e manteve seu terreiro por muitos anos na Av. Carlos Gomes, 759 em Porto Alegre.
Era benzedeira das mais procuradas. Fez muitas curas através de seu Orixá, que nem os médicos acreditavam que certas doenças, na época, poderiam ter solução.
Auxiliava nas obrigações, tanto na casa de seu pai Manézinho como de seu avô Paulino de Oxalá Efan. Mãe Jôba Faleceu em 1949.
Para entender a riqueza das formas de expressão do componente africano em solo sulino é necessário verificar a formação histórica do Rio Grande do Sul, principalmente na cidade de Porto Alegre.
A pesquisa histórica sobre o atual Rio Grande do Sul data do início do século XIX. O grande estímulo foi a transferência da sede do império português para o Brasil, que neste momento deixou de ser colônia.
A primeira obra de caráter histórico foi Anais da Capitania de São Pedro, de José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo. O primeiro volume de seu trabalho foi publicado em 1819, ainda quando o Rio Grande do Sul era capitania. A figura de Fernandes Pinheiro personifica exemplarmente o que significa pesquisar e “fazer historia” no Rio Grande do Sul na época.
Um dos historiadores que sucederam Fernandes Pinheiro na tarefa de pesquisa e publicação de trabalhos historiográficos sobre o Rio Grande do Sul foi Antônio Álvares Pereira Coruja, tendo publicado varias obras desde a década de 1830. Coruja produziu lições da história do Brasil e sobre a história do cotidiano de Porto Alegre. O professor Coruja descreve os primeiros tempos da cidade de Porto Alegre.
Ao explicar a origem da denominação beco do leite, lembra que ali residiu o alfaiate Manoel Leite, conhecido por ser “amigo de boas patuscadas aos domingos com os rapazes e caixeiros”. Menciona a famosa casa em que moravam “moças cantadeira, e que dizem que cantavam bem, aonde aos domingos iam moços passear”. Informa que, no Candomblé de Mãe Rita, os negros se reuniam no domingo à tarde para cantos e danças.
Coruja é um dos primeiros a dar notícias sobre rituais da religião africana, citando a casa de Mãe Rita, a primeira mãe de santo que se tem registro na cidade de Porto Alegre. Nesta época já se tem vestígios da estruturação do Batuque em Porto Alegre, e no Rio Grande do Sul.
No ano de 1997 a Companhia Estadual de energia Elétrica CEEE, publica um almanaque com o título História Ilustrada de Porto Alegre. Em um dos capítulos menciona os Batuques da Mãe Rita com o seguinte conteúdo:
Até a segunda década do século 19, nas procissões de Nossa Senhora do Rosário e nos dias de Natal, os negros costumavam expressar sua religiosidade da forma mais espontânea: dançando na frente da igreja matriz, com guizos e ao som de tambores, marimbas e urucungos. Exibiam a mesma naturalidade mostrada nos Batuques do terreiro de Mãe Rita, a mãe de santo da época – a primeira que se tem noticia na cidade.
Nenhuma autoridade religiosa da Matriz, como era chamada a igreja Madre de Deus, havia se importado até então com esta manifestação de ecletismo religioso. A exceção foi o vigário José Inácio dos Santos Pereira. Ele proibiu que executassem rituais africanos ali, com a alegação oficial de que a vizinhança reclamava do barulho. Mas os negros se consideravam expulsos. E partiram para um empreendimento arrojadíssimo: a construção de sua própria igreja, ou melhor, um templo católico em que se sentissem à vontade.
Durante dez anos, de 1817 a 1827, eles trabalharam na obra: à noite, os escravos; em horas vagas do dia, os negros alforriados. Enfim, na festiva noite de 24 de dezembro de 1827, receberam com lágrimas nos olhos a imagem da padroeira, que se encontrava na Matriz. Estava inaugurada a igreja Nossa Senhora do Rosário, na então Rua da Bandeira, mais tarde denominada Rua do Rosário e, por fim, por certa ironia, Rua Vigário José Inácio, homenagem ao sobrinho do padre que expulsara os negros.
Na verdade, o novo templo não foi resultado de mera ação de voluntarismo. Foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, entidade fundada em 1786, na qual os negros eram maioria, que comprou o terreno e comandou a construção. Enquanto duraram os trabalhos, as festas se resumiram ao de sempre: batuques nas tardes de domingo fora do centro urbano, em frente ao matadouro, mais ou menos onde é hoje a esquina das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires.
Embora tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, no início dos anos 50, a antiga igreja foi demolida, para ser substituída pela atual – a pedido de religiosos católicos e por decreto do então presidente Getúlio Vargas.
A presença do negro no estado do Rio Grande do Sul se expressa na própria história deste estado que, em seus principais momentos, de um modo ou de outro, contou com o testemunho e a ativa participação dos afrodescendentes.
Com os primeiros colonizadores, já vieram escravos, que chegaram a ser um terço da população da província na metade do século 19.
Por volta do ano de 1600, traficantes portugueses já traziam escravos do Rio de Janeiro para revender no Rio da Prata. “Desembarcavam a carga em vários pontos da costa, na barra do Rio Grande ou mais abaixo no Chuí. Estes escravos vieram do famoso Mercado do Valongo, de onde se originaram quase 90% dos negros introduzidos no Rio Grande.
A fundação de Porto Alegre estava inserida na expansão dos domínios portugueses ao Sul do Brasil, visando participar do comércio no Rio Prata. No século XVIII, a foz do Rio da Prata era um espaço estratégico a ser conquistado, pois por ela escoavam parte da prata e do ouro das minas mais ricas da América Espanhola. Ao mesmo tempo, a exploração do ouro nas Minas Gerais, no Brasil, criou a demanda de novos produtos, tais como animais de carga, couro para confeccionar diversos utensílios e carne (charque) para alimentação da escravaria. A descoberta pelos tropeiros paulistas e lagunenses do gado vacum e muar que se reproduzia livremente nos campos de Viamão, em conseqüência da dissolução das estâncias missioneiras do Tape, no século XVII, foi um fator decisivo para a colonização da planície costeira e das pastagens naturais do interior.
A primeira fase da conquista do território correspondeu ao apresamento deste gado e a construção de currais. Em 1740, era concedida a primeira carta de sesmaria nos Campos de Viamão. Os sesmeiros ou estancieiros que se instalaram próximos ao Guaíba – no lugar conhecido como Porto de Viamão – utilizaram o rio como meio de comunicação com o Rio Grande e o Rio Pardo: Vilas militares e postos avançados da conquista do território.
Segundo Achylles Porto Alegre, o povoamento da cidade iniciou pelos terrenos que correspondem às atuais ruas Waschington Luis, Andradas, General Salustiano, Vasco Alves, Duque de Caxias, a antiga Beira do Guaíba até o Beco do Bragança (atual Marechal Floriano) e o Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria).
Em 1778, são construídas as fortificações que tiveram um importante significado na organização do espaço urbano. O abastecimento de água era feito diretamente do Guaíba, inexistiam ruas calçadas, esgoto, limpeza pública ou iluminação. As primeiras ruas a receberem calçamento, chafarizes para abastecimento de água, limpeza, policiamento e iluminação de candeeiros a óleo de peixe foram a Rua da Graça e Rua da Praia (atual Andradas), Rua da Ponte e Rua do Cotovelo (atual Riachuelo), Rua da Igreja e Rua do Hospital (atual Duque de Caxias) em 1779.
Os becos tinham percurso acidentado, estreito e curto, não tinham a mesma estrutura das ruas principais, onde se localizavam os sobrados de pedra e cal. Ao contrário, os becos caracterizavam-se pelos casebres modestos de taipa e palha onde morava a população pobre composta de mascates, taverneiros, artesãos, marinheiros, carregadores, prostitutas e negros libertos.
Os negros, mesmo, em cativeiro conseguiam praticar seus rituais de obrigações aos Orixás, os libertos citados anteriormente se sobressaiam, nesta época, no resguardo de sua religiosidade mesmo em posição inferior na sociedade.
O povoado cresceu e seu novo status político exigiu construções mais duradouras. Trouxeram-se telhas e tijolos de laguna e importaram-se vidros; as primeiras olarias surgiram apenas no século XIX.
Em fins do séc. XVIII e inicio do séc. XIX, os “largos” eram por excelência, espaços de reunião e de atualização das sociabilidades publicas. Existiam os largos da Quitanda, dos Ferreiros, do Pelourinho e do Arsenal. As socialidades públicas, neste período, estavam ligadas as comemorações das festas religiosas. As festas do Divino, da Páscoa, da Quaresma e, principalmente, a dos Navegantes pelo caráter portuário de Porto Alegre. Nelas reunia-se toda a população, ricos e pobres, senhores e escravos. Tal reunião era característica da tradição católica portuguesa e açoriana, mas já aparecia mesclada com traços da cultura afro-brasileira dos negros acompanhando seus senhores.
Era no Largo da Quitanda, atual Praça da Alfândega, que se praticava o comércio, principalmente de amendoim, lenha, hortifrutigranjeiros, carnes e ovos. Foi neste ponto da margem do Guaíba que surgiu, em 1804, o primeiro trapiche para embarque e desembarque de mercadorias e pessoas. Em torno deste cais se reuniram os comerciantes e as quitandeiras com seus tabuleiros, na maior parte composta de negros, como assinalaria o viajante francês Saint-Hilaire, em 1820.
De acordo com as informações de pessoas antigas no meio do batuque, nesta época as “negras minas” que vendiam neste mercado, já tinham o assentamento de um Bará, para dar proteção e movimento nas quitandas. Esta tradição de assentar o Bará nos mercados vem da África, principalmente da região dos yorubás.
No ano de 1820, com o início da construção da Alfândega, as quitandeiras começaram a ser removidas para o Largo do Paraíso (atual praça XV de Novembro). Entretanto, como as resistências foram muitas, a Câmara permitiu que elas continuassem a ocupar o ângulo oeste do Largo da Quitanda, bem como os Largos do Paraíso e do pelourinho.
O Largo do Pelourinho, em frente à Igreja das Dores (1807), era o lugar de ritualização da ordem na sociedade colonial. Neste largo foi construído o pelourinho onde se açoitavam os escravos. Existiam outros na vila, mas sua localização tornou-se difícil de definir. Ao que tudo indica, o largo serviu ao comércio miúdo com a saída das quitandeiras do Largo da Quitanda.
Em 1814, Porto Alegre possuía seis mil habitantes e a Província 70 mil. Em 1822, a capital é elevada a categoria de cidade.
Em 1829, surgia o primeiro Código de Posturas Policias para disciplinar a ocupação do espaço urbano; designavam-se lugares de coleta d’água, lavagem da roupa dos hospitais, despejos dos esgotos, lixo, etc. Em 1837, uma série de novas disposições procurava dar conta da situação de cerco da cidade. Vários artigos tratavam da questão do controle da mão-de-obra escrava que alcançava mais de 1/3 da população de Porto Alegre.
Em 1842, o Governador da Província Saturnino de Souza sente a necessidade de construir um mercado para organizar o comércio na capital, até então feito em barracas desordenadamente espalhadas entre o Largo da Alfândega e do Paraíso. O lugar escolhido foi o Largo do Paraíso, onde atualmente se encontra o Chalé da Praça XV. Construí-se também uma doca próxima (no lugar da atual Praça Parobé) com espaço para estacionamento de carretas e carroças, no sentido de facilitar o abastecimento do mercado.
O antigo Largo do Paraíso passa por um significativo processo de transformação. O primeiro mercado tornara-se pequeno para as exigências da cidade. Em 1865, o Conselho Municipal decide pela construção de outro, no alinhamento do Caminho Novo (o primeiro andar do atual Mercado Público). O novo mercado, inaugurado em 1869 tornou-se a maior obra arquitetônica da cidade, com 72 bancas internas e 80 externas. É neste Mercado que o famoso Príncipe Custódio “assentou” um Bará. A Mãe Jurema de Xangô, uma das mais antigas do estado, nos conta que bem antes de se falar no Príncipe Custódio, o pai de santo dela, Paulino de Oxalá, já mandava os filhos de santo, em saída de obrigações, levarem moedas no Bará que tinha assentado numa banca do Mercado Público. O mesmo comentário foi feito de Mãe Antonia do Bará, que faleceu aos 96 anos de idade no ano de 1998.
Outro antigo Pai de Santo chamado Silvio Brito (Bino de Ogum) nos informa que sua bisavó Maria Pinheiro da Silva, filha do Orixá Ogum, Yalorixá da Nação Ijexá, também fazia comentários a respeito do Bará que as “negras minas” tinham assentado, ainda nas bancas improvisadas, onde vendiam suas mercadorias.
Os africanos chegaram às terras gaúchas com os primeiros tropeiros. Mais tarde, chegaram aos milhares para trabalhar nas charqueadas, nas fazendas, nas residências. Seus descendentes juntamente com os descendentes de outros povos, aqui se miscigenaram, formando os mestiços, dando origem a população de nosso estado.
A Sociedade Libertadora, fundada em Porto Alegre no dia 29 de agosto de 1876, empenhou-se na libertação das crianças nascidas de mães escravas. Muitos jornais deixaram de anunciar a fuga de escravos e passaram a defender a sua libertação. Em 1833, foi criado o Centro Abolicionista.
Entre 12 e 18 de agosto de 1884, promoveu-se a Jornada Abolicionista: pessoas dedicadas à causa batiam de porta em porta pedindo a alforria dos escravos. No dia 7 de setembro de 1884, a Câmara Municipal declarou que em Porto Alegre não havia mais escravos.
Inicia-se uma nova luta pela sobrevivência deste povo sofrido. Muitos tiveram que comprar sua liberdade, trabalhando de graça para o patrão de um a cinco anos.
Os negros se aglomeraram por diversos locais da cidade. O principal foi o Campo do Bom Fim, que mais tarde passou a se chamar Campo da Redenção. Sem comida, roupa e remédio, que antes eram atribuições de seus donos iniciando um processo de marginalização. Os senhores deram baixa na coletoria, não pagaram mais impostos sobre os negros, mas continuavam a usá-los como escravos.
Surge a Colônia Africana, grande concentração de população negra e desvalida, que compreendia os bairros do Mont’Serrat, Rio Branco e parte do Bom Fim. O bairro Mont’Serrat ficou conhecido como “Bacia”, devido ao número expressivo de casas de religião, onde se praticavam os cultos de origem africana.
Como aconteceu com a maioria das populações de baixa renda, pouco a pouco estes primeiros habitantes da região foram afastados para bairros distantes, em função da valorização dos terrenos que eram mais próximos da área central.
Havia outros pontos da cidade, como o Areal da Baronesa e a Ilhota, que eram fortes núcleos de negros, ali se constituíram, pouco depois da escravatura. O bairro hoje é conhecido como Cidade Baixa onde compreende as áreas antes denominadas de: Arraial da Baronesa, Emboscadas, Areal da Baronesa. No século XIX era denominado Arraial da Baronesa, por alusão a uma grande extensão territorial de propriedade da dona Maria Emília da Silva Pereira, Baronesa do Gravataí. Faziam parte da área, também, propriedades rurais, que usavam mão de obra escrava. Em fuga os escravos se escondiam nos matos que faziam parte do arraial, sendo “batizado” de território das “Emboscadas”.
Após um incêndio que destruiu a propriedade, em 1879, a Baronesa loteou e vendeu suas terras. O território passa ser habitado principalmente por negros. Tendo em vista a quantidade de areia na região, o local passa se chamar “Areal da Baronesa”.
A imprensa falava mal do arrabalde, contando histórias de desordens que ali ocorreram. No território tinha jogos de maneira geral, cancha de osso, além da prostituição, e falava-se muito sobre valentões invencíveis que enfrentavam os “ratos brancos” da Polícia Municipal.
O cronista Aquiles de Porto Alegre, que conheceu a zona, ainda antes de ser loteada, informa que era um “matagal cerradíssimo onde os negros fugidos iam esconder-se de seus cruéis e desumanos senhores”. O escravo que se revoltava contra tirania de seu dono procurava aquele lugar para esconderijo, por que a mataria era espessa, e eles encontravam ali para alimentar-se, o araçá, a cereja, a pitanga, o maracujá, o joá, o ananás e tantas outras frutas silvestres...” ainda conforme Aquiles, a população porto-alegrense também chamava esse arrabalde de “Banda Oriental”, pelas frequentes desordens que ali se davam, “principalmente no Beco da Preta, que era um dos seus tantos corredores escuros”.
O Areal da Baronesa ficou muito famoso por ser reduto de grandes carnavalescos da cidade. Neste local o negro fazia os melhores carnavais da cidade. Não diferente da Colônia Africana, a baronesa foi vencida pela especulação imobiliária na década de 60, e os negros foram empurrados para a periferia da cidade.
Junto com o Areal da Baronesa, outro local insalubre a “Ilhota” formava uma espécie de cinturão negro e pobre na cidade de Porto Alegre, nesta área ocorriam frequentes inundações. Destes dois territórios, saíram inúmeros músicos e compositores, solistas e jogadores de futebol que ficaram nacionalmente conhecidos, como Lupicínio Rodrigues e o jogador Tesourinha.
Mesmo ocupada por moradores muito pobres a “Ilhota” deixou sua marca na memória da cidade, sobretudo nas crônicas de carnaval, samba e batuque.
No início da década de 60 e intensificações nos anos 70 a população de baixa renda que residia nestas vilas próximas ao centro foram transferidas para a Restinga, hoje um dos maiores bairros da cidade de Porto Alegre.
Mesmo com todas as dificuldades, o negro conseguiu manter o culto aos Orixás. Hoje no estado do Rio Grande do Sul, existem mais de 70 mil casas que seguem as tradições de origem africana.
Uma das nações de origem africana mais cultuada no Rio Grande do Sul é o Ijexá, cujas raízes são inúmeras. Tenho procurado informações que nos mostrem um pouco da história dos indivíduos que contribuíram para a permanência de nossos rituais religiosos aqui no sul. Nesta caminhada conheci pessoas que engrandeceram este trabalho com suas preciosas informações, agradeço a cada um que me abriu a porta colaborando com as pesquisas, que tem o único propósito de informar como se deu a estrutura religiosa africanista na cidade de Porto Alegre. A capital gaúcha se destaca entre as cidades brasileiras pela pobreza em testemunhos concretos de suas origens. Ficaram, entretanto, alguns traços imateriais de um passado distante que tentamos resgatar neste trabalho.
Origem da Nação Ijexá
Ìjèsà
Ilexá é uma cidade histórica, situada no Estado de Osun (Oxum). Localizado no sudoeste da Nigéria. Cujo povo ficou conhecido como nação Ijexá; Localiza-se na interseção de Ilê Ifé, Oshogbo e Akure. A cidade é uma das mais tradicionais da história do povo yorubá, já chegou a ser a capital do reino de Oyó, nos tempos do império; e no século XIX com a queda de Oyó, Ilexá se tornou sujeito a Ibadan. Das cidades e aldeias desta região da Nigéria, Ilexá é a maior, com uma população com mais de cem mil habitantes nos dias de hoje; é um centro agrícola e comercial, cujos principais produtos são: o cacau, noz de cola, óleo de palma e inhame. Ilexá possui 18 escolas secundárias e também uma academia de educação do estado, e tem um grau de unidade cultural e lingüística que se distingue dos outros povos. A cidade tem rede de estradas que contribui para o sistema de esferas comerciais que ativa a distribuição de produtos dentro e fora da região.
As tradições de fundação de Ijexá, como um dos reinos importantes da região de ijeshaland surge de uma migração dinástica de Ilê Ifé, o centro sagrado da mitologia yorubá. A versão padrão de tradição entre os ijexás, diz que a origem deste povo vem de um jovem, filho de Oduduwa, chamado Obokun. O povo se autodenomina como Omo Obokun (crianças de Obokun).
A história conta que Obokun, era o filho mais novo de oduduwa. Ele se ofereceu para ir buscar água no mar para curar a cegueira do pai. Em seu retorno ele foi informado que seu pai estava morto, e ele pediu sua parte na herança. Foi lhe dito que todas as heranças, incluindo coroas, foram dadas à seus irmãos mais velhos. E para ele ficou apenas uma espada, Ida Ajasegun (espada da conquista) com a qual Obokun se tornou um grande guerreiro e inicio seu patrimônio em Ijexá.
Em outras histórias de Ijexá afirma-se que o local da cidade já estava ocupado por assentamentos dispersos por uma população indígena conhecida como Okesa, cujo líder é considerado como antepassado de Ogedengbe Obanla de Ijeshaland, um líder guerreiro que morreu em 1910. A cidade possui um memorial para este líder por que ele desempenhou um papel vital durante a guerra (kiriji) do século XIX, o que impediu Ijexá e outras cidades de serem conquistadas e dominadas por Ibadan e outras regiões poderosas.
Sem dúvida, a Nação Ijexá foi a que mais se destacou na cidade de Porto Alegre. Sou descendente da raiz de Pai Paulino de Oxalá Efan, Babalorixá, que teve todas suas obrigações feitas pelas mãos de duas negras, ex-escravas, oriundas da região de Ilexá na Nigéria. Uma recebeu o nome no Brasil de Margarida, era filha de Oxalá, e sua irmã chamava-se de Inácia. Em quanto viveram participaram de todas as obrigações na casa de Pai Paulino. Mãe Jurema de Xangô, é quem me passa as informações sobre quem fez a iniciação de Pai Paulino, e não lembra com certeza qual o Orixá de Mãe Inácia. Pai Paulino, oriundo de pelotas, morou na Avenida Berlim 418, em Porto Alegre, onde iniciou muitos filhos de santo que se tornaram sacerdotes e sacerdotisas da religião africana em Porto Alegre e outras localidades do Estado do Rio Grande do Sul. Foi um sacerdote muito rígido, não era assim tão fácil receber um axé de suas mãos, o filho de santo tinha que mostrar merecimento. Mesmo com vários anos de iniciação ele só liberava para trabalhar na religião depois de ter certeza de que aquela pessoa estava realmente hábil para executar os rituais. Os filhos de santo dele que tiveram maior destaque foram: Manoel Antonio Matias, conhecido como Manézinho de Xapanã, Idalino Moreira conhecido como Pai Idalino de Ogum, Pedro Fagundes, tamboreiro; Maria Antônia Ferreira de Assis, conhecida no meio religioso como Mãe Antônia de Bará; Jurema de Xangô; Julia de Xapanã; Ruquina de Oxalá; Joana de Xapanã; Barbosa de Ogum; Gasparina de Oxum, entre muitos outros.
Manoel Antônio Matias - Manézinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896, numa localidade denominada Caconde,interior do RS, casado com Dona Eugênia de Oxalá. Teve sua iniciação feita por Pai Paulino de Oxalá Efan, da Nação Ijexá, morou no Mont’Serrat, na rua Reingantes, e segundo dona Terezinha de Xangô, neta de Jôba de Xapanã, ele também morou na Avenida Carlos Gomes, onde veio a falecer em 30 de março de 1948. Foi um dos maiores Babalorixás do Rio Grande do Sul. Seu Orixá trouxe muitas rezas que faz parte dos rituais da nação Ijexá, e também usadas por outras. Assim como seu Babalorixá Paulino, não fazia aprontamento de filhos de santo que não tivessem merecimento. Manézinho deixou muitos filhos de santo que se destacaram dentro da religião, entre elas podemos citar: Mãe Olmira de Xangô, minha avó e madrinha; Mãe Antonieta do Bará e Mãe Ondina de Xapanã; Mãe Ester Ferreira, conhecida como Estela de Yemanjá, cunhada de Manézinho; Maria Valdomira do Nascimento, conhecida como Mãe Miróca de Xangô; Pai Ademar do Ogum; Mãe Maria do Bará Lodê, foi esposa de Idalino de Ogum; Mãe Diva de Yemanjá; Dorvalina de Xangô; Alziro de Oxum, irmão carnal de Mãe Ondina de Xapanã; Merenciana de Odé; Alice de Oxalá, filha carnal de Mãe Ondina de Xapanã; Mãe Rosalina de Bará; João de Oxalá, tamboreiro; Zéca Pinheiro de Xapanã; Mãe Julia de Oxum; Maria Joaquina de Xapanã, esta senhora entrou para casa de Pai Manezinho cega e foi curada, se tornou uma grande Yalorixá; João de Xangô; Mãe Julieta de Oxalá; Mãe Jovelina da Oyá; Pai Brandão do Ogum, esposo da Albertina surda da Oxum; Mãe Picuxinha do Bará; Pai Venceslau de Oxum; Pai Nelson da Yemanjá; Avelina de Xangô e seu esposo Nininho de Ogum; Adão de Bará e Maria de Xangô, irmãos consangüíneos de Pai Tuia de Bará; Mãe China de Oxalá; Pai Albino de Xangô; Mãe Nóca de Oxum, mãe carnal de Pai Tônho de Oxalá; Lavinho de Ogum e Noracema de Xangô, filhos carnais de Mãe Jôba de Xapanã; Carmelita de Xapanã; Luiza do Ogum; Amélia de Xapanã, mãe do tamboreiro “Tesoura de Ogum” entre outros.
Maria Antônia Ferreira de Assis - Mãe Antônia do Bará, nasceu em São Sebastião do Caí, veio para Porto Alegre com 2 anos de casada. Ficou muito doente e foi internada no hospital da Santa Casa. Estava esperando para ser operada, mas, não se sabe de onde, surgiu no quarto um senhor negro. Vendo o estado em que ela se encontrava, alertou o marido dizendo que tirasse Antônia imediatamente do hospital e a levasse na casa de um “curandeiro” que morava no Mont’Serrat. Ele deu o endereço da casa de Pai Manézinho de Xapanã. Seguindo o conselho daquele senhor o casal foi à procura do babalorixá, que ao consultar os orixás conclui que Antônia teria que ser iniciada na religião. Manézinho faz os primeiros trabalhos e, já quase curada encaminha à casa de Pai Paulino de Oxalá, onde foram feitas as obrigações de assentamento de Orixás para Mãe Antônia de Bará. Nesta época Pai Manoel tinha em casa somente o Orixá Bará e o axé de Búzios, como era costume na época as obrigações vinham aos poucos, se montava uma estrutura bem sólida para depois começar ter filhos de santo. Após fazer as obrigações para Mãe Antônia, Pai Paulino à leva, novamente, à casa de Manézinho para ajudá-lo e aprender com ele todos os fundamentos da religião, nesta época as obrigações de Pai Manoel já estavam completas em seu Ilê. E foi no terreiro de Manézinho de Xapanã que a famosa Mãe Antônia de Bará aprendeu muito sobre os fundamentos da religião africana.
Idalino Moreira - Pai Idalino de Ogum, um dos mais afamados Babalorixás do Rio Grande do Sul, era filho de Dona Francelina de Xangô, que faleceu aos 125 anos de idade. Idalino Perdeu seu pai muito cedo, e de acordo com informações de sua enteada Cenira de Xapanã, ficou aos cuidados do Príncipe Custódio. Pai Idalino começa sua trajetória religiosa sendo filho de santo de Custódio Joaquim de Almeida, da Nação Jêje. Com a morte de Custódio, ainda não tinha todos os axés, então vai ser filho de santo de Pai Paulino de Oxalá Efan, da Nação Ijexá.
Dona Francelina, mãe de Idalino
Pai Idalino teve três casamentos e vários filhos, um deles foi o famoso Babalorixá Turéba de Ogum. Seu ultimo relacionamento foi com dona Maria do Bará Lodê, filha de santo de Pai Manézinho de Xapanã. Residiu muitos anos no Mont’Serrat, e depois mudou-se para vila Bom Jesus onde permaneceu até sua morte. Seguindo as Nações Jêje e Ijexá, teve grande destaque no Batuque do Rio Grande do Sul. Muitos Babalorixás e Yalorixás o procuravam em busca de sua sabedoria. Foi contemporâneo e muito amigo do Pai Alfredo Sarará de Xangô, pai carnal de Pai Pedro da Yemanjá; Pai Idalino de Ogum trabalhava na construção civil como servente de pedreiro, levou uma vida humilde, com grande dedicação ao culto dos Orixás, falava perfeitamente o dialeto africano, não deixava fotografar nem filmar o quarto de santo. Era tamboreiro, tocava para os Orixás e para os Eguns. Pai Idalino nasceu em 09 de novembro de 1872 e faleceu em 1987 com 115 anos de idade.
Jurema de Xangô - Mãe Jurema de Xangô, nasceu no dia 5 de outubro de 1923, filha de Maria da Glória do Ogum, seu pai era espírita e faleceu quando ela tinha 9 anos. Fez o assentamento de seus Orixás em 1933, com 10 anos de idade pelas mãos do saudoso Paulino de Oxalá Efan, da nação Ijexá.
Mãe Jurema trabalhou 20 anos com Mãe Antonia de Bará. Morou ao lado da casa de Pai Idalino do Ogum na vila Bom Jesus, com quem trabalhava e ajudava na religião. Com a morte de pai Paulino foi ser filha de santo de Pai Joãozinho do Bará da Nação Jêje, e passou a cultuar os rituais das duas nações predominantes no Estado, Jêje e Ijexá. Mãe Jurema conta que era pequena, e sua madrinha, dona Dorcinda de Obá, uma negra mina descendente de escravos, a levava na casa de Pai Antoninho de Oxum, da Nação Oyó,onde acompanhava as festas para o Xangô do Povo, que duravam 32 dias. Conheceu muitas pessoas famosas dentro do Batuque como a Mãe Tola de Yemanjá, mãe carnal do Pai Pedro da Yemanjá, seu esposo Alfredo Sarará de Xangô, entre muitos outros. Mãe Jurema conta que o batuque na casa de Pai Paulino começava às 2 horas da tarde, e às 8 da noite já estava concluída todas as obrigações.
Alfredo Elpídio de Lima - Alfredo Sarará, filho de Xangô, Babalorixá de grande importância para o Batuque do Rio Grande do Sul. Era filho de santo de Janjão de Xangô da Nação Ijexá. De acordo com Mãe Jurema de Xangô, Janjão era um negro muito feiticeiro, ela o conheceu numa festa de batuque na casa de Mãe Etelvina de Bará. Mãe Etelvina foi outra grande Yalorixá da antiguidade dentro da nação Ijexá. Pai Alfredo de Xangô morava na Leopoldo Bier, em Porto Alegre, era casado com a Yalorixá da Nação Jêje Glória Isolina Barbosa, mais conhecida como Ya Tolá de Yemanjá e teve com ela os filhos: Pedro de Yemanjá, Miguelina de Xangô, tinha o apelido de “quito”, Alfredinho, tamboreiro, Miguel de Xangô, tinha o apelido de “Cara Furada”, e a mais nova era Ironita de Oxum.
Pedro de Yemanjá
José Pedro Barbosa de Lima - Nasci na cidade de Olinda, lá em Pernambuco, por volta de 1912. Cheguei ao Rio Grande do Sul com três anos de idade e, aos dez, como muitos outros negros, já trabalhava aqui ao lado, no porto, ajudando a descarregar a carne dos navios que atracavam, ganhando, como pagamento, miúdos de boi e outras partes menos nobres. Depois de alguns anos, me tornei estivador profissional.
Nesta época, o trabalho na estiva era controlado pelo sindicato da categoria. Só os estivadores sindicalizados podiam carregar e descarregar as embarcações. Isso nos garantia uma situação razoavelmente confortável. A gente trabalhava dois, três dias por semana, mas valia a pena, já que o sujeito ganhava quase que por quinze ou um mês até. Então tinha este fator que era muito bacana: o sujeito podia não ta trabalhando, mas chegava ali e arrumava serviço.
Eu, e vários outros trabalhadores do porto íamos diariamente ao Mercado para descansar e nos divertir. Algumas vezes, eu passava pelo Restaurante Treviso, onde se reunião para fazer noitadas grandes artistas vindos do Rio, como Francisco Alves e Carlos Galhardo; e pelo Bar Naval, ponto de encontro dos marítimos e estivadores. Mas eu não era um homem da noite, um boêmio, por causa da minha religião.
Em 25 de dezembro de 1925, me aprontei na religião e me tornei Pedro de Yemanjá. Desde então, eu fiquei ainda mais ligado ao Mercado. Afinal, ali no meio, ali ó, onde havia uma banca redonda, ali existe um Bará. O Bará é o dono dos caminhos e das encruzilhadas. Ele representa o trabalho, a fartura, o início de todas as coisas.
Fontes: Este texto é parte da entrevista que o Babalorixá Pedro da Yemanjá deu à Laura Dutra em 01/09/1992 (Acervo Memorial do Mercado).
Pai Pedro de Yemanjá foi iniciado na religião por sua avó consanguínea, Yalorixá Isolina de Xangô Ainã da Nação Jêje. Este saudoso sacerdote conhecia os fundamentos de todas as nações de batuque e também de eguns.
Ormira dos Santos - Mãe Olmira de Xangô foi iniciada na religião africana pelo saudoso Babalorixá Manézinho de Xapanã, da Nação Ijexá. Lavava roupa para fora e se dedicava ao culto dos Orixás com muito zelo. Era uma pessoa humilde, sabia muito bem os fundamentos da religião. iniciou muitos filhos de santo que se tornaram Babalorixás e Yalorixás bem destacados dentro do Batuque. Com a morte de pai Manézinho, muitos de seus filhos de santo passaram para o terreiro de Mãe Olmira, que ficava na rua Ariovaldo Pinheiro, 157, onde viveu até sua morte em 1987.
Artur Manoel dos Santos
Pai Tuia de Bará, nasceu em janeiro de 1942, no berço da religião africana. Começou sua vida religiosa aos dezoito anos, quando fez o assentamento de seus Orixás. Foi criado no meio de grandes sacerdotes do ritual. É afiliado de batismo de Manézinho de Xapanã e sua esposa Eugenia de Oxalá. Sua iniciação foi feita por Mãe Olmira de Xangô Aganjú, da Nação Ijexá, a qual lhe passou os verdadeiros fundamentos do culto aos Orixás e, também, dos Eguns. Seu pai carnal era o Babalorixá Nininho de Ogum, da casa de Pai Manézinho.
Pai Tuia de Bará comenta que antigamente o pessoal do “santo” era mais respeitado, pois se faziam respeitar. Se tivesse um trabalho despachado em um determinado lugar da natureza, as pessoas davam voltas longas, para se distanciar, em sinal de respeito, hoje em dia o pessoal vai em cima “bisbilhotar” para ver o que tem no axé. Diz que um sacerdote de orixá só iniciava um filho quando tinha certeza que este levaria adiante os ensinamentos, davam-se axés de Búzios e Facas, para quem tinha Dom. Pai Tuia de Bará morou 11 anos na casa de sua mãe de santo, só depois deste período é que abriu seu terreiro na Rua São Leopoldo em porto Alegre. Ele comenta que os atos religiosos eram bem diferentes, e que há poucos terreiros que seguem a risca o verdadeiro ritual. Sua trajetória dentro da religião faz com que inúmeros Babalorixás e Yalorixás o procurem quando estão com dúvidas. Este é um fato normal dentro do culto, quando há humildade.
Mãe Celestrina de Oxum
Mãe Celestrina de Oxum Docô foi aprontada na religião africana pelo Babalorixá Cudjobá de Xangô, da nação Ijexá.
Pai Bino de Ogum nos conta que sua bisavó, Yalorixá Maria do Ogum Onira, era contemporânea de Cudjobá de Xangô, e eram vizinhos na Rua Taquari, em Porto Alegre. Pai Cudjobá convidou dona Maria de Ogum para testemunhar uma obrigação de muito fundamento, feita pelo Babalorixá à um filho de santo. Estava presente dona Zenaide, tia de Pai Bino de Ogum, que relatou os detalhes desta obrigação à seu sobrinho. De acordo com os comentários que Mãe Maria de Ogum fazia, dona Celestrina de Oxum Docô, já era iniciada na religião, antes de ser filha de santo de Pai Cudjobá, e que ele teria sido um escravo proveniente do norte do Brasil.
Mãe Celestrina de Oxum trabalhava numa banca do mercado, onde vendia seus quitutes, e Hugo de Yemanjá, ainda jovem, auxiliava nos afazeres.
Pai Cudjobá de Xangô observava o jovem no dia a dia, e ele mesmo sugeriu a Mãe Celestrina o aprontamento de Pai Hugo de Yemanjá na religião.
Pai Hugo de Yemanjá
Hugo Antônio da Silva - Pai Hugo da Yemanjá, nascido em 29 de abril de 1904, casado com a Yalorixá Jovelina da Rosa Silva, conhecida no meio religioso como Jovelina de Xangô Aganjú. Dona Jovelina não podia ter filhos. O senhor Hugo teve uma segunda mulher chamada Lurdes, com quem teve 21 filhos; alguns faleceram ainda criança. Uma de suas filhas, Araci Silva Paixão é quem nos dá estas informações. Dona Araci era casada com o Babalorixá Airton Paixão de Xangô, filho de santo de Hugo de Yemanjá e diz que eles sempre comentavam que praticam as nações Ijexá com Jêje.
Dona Cândida era o nome da mãe consanguínea de Pai Hugo, e contava para os netos que seu filho Hugo com a idade de 12 anos, passou a ter um tipo de desmaio, perdia totalmente à consciência. Até que um dia, ao voltar a si, ele contou que ouvia sua mãe chamá-lo, mas não conseguia responder, nem voltar do lugar onde estava, e ele descreveu o local como se estivesse em uma aldeia da África.
Pai Hugo da Yemanjá foi iniciado na religião pela Yalorixá Celestrina de Oxum Docô da nação Ijexá, com 16 anos de idade e se tornou um importante Babalorixá no Estado do Rio Grande do Sul, deixou muitos filhos de Santo que também se destacaram no meio religioso, entre eles podemos citar: Airton Paixão de Xangô; Pai Marcos de Oxum; Pai Lélo de Xangô; Virginia de Odé; Bela de Oxalá; Rute de Yemanjá; Mãe Jovita de Xangô, Pedro China de Yemanjá; Maria da Glória Francisca de Souza, conhecida no meio religioso como Mãe Glorinha de Ossãe; Nicanor do Ossãe; Mãe Chininha de Yemanjá, que morou na rua Rodolfo Gomes; Edília de Bará; Mãe Maria de Xangô da rua Barão do Triunfo; Virginia de Oxum; Pai Dirceu de Xangô, pai carnal de Pai Bino de Ogum; entre outros.
Pai Hugo faleceu aos 53 anos de idade no ano de 1957.
Mãe Maria do Ogum Onira
Maria Pinheiro da Silva, conhecida como mãe Maria do Ogum, nascida em 06 de janeiro de 1888, foi outra importante Yalorixá da nação Ijexá. Filha de santo do saudoso Alfredo Sarará, com quem aprendeu os fundamentos da religião africana.
Era contemporânea de Idalino do Ogum, com quem mantinha relações de irmandade, pois foi das mãos de seu Pai de Santo, Alfredo Sarará, que Idalino de Ogum recebeu o Axé de Obé para sacrificar bois. Teve como filhas carnais a Yalorixá Edite de Oxum e Mãe Glorinha de Ossãe, que também seguiram a Nação Ijexá.
Mãe Maria do Ogum morou na Rua Taquari, próxima à casa de Cudjobá de Xangô, pai de santo de dona Celestrina de Oxum. E por último mudou-se para Rua Mathias José Bins, no bairro Chácara das Pedras.
Suas principais obrigações religiosas, inclusive os sacrifícios de bois para os Orixás, eram feitas num local denominado Casa Grande, ou Castelo, nas imediações onde é hoje o Palácio da Polícia. Neste local aconteciam os mais diversos rituais de religião aos comandos de Mãe Maria do Ogum e seus contemporâneos. Foi ela quem fez a iniciação de Turéba de Ogum aos 16 anos de idade.
Sua família, quase que na totalidade, são seguidores da religião afro-brasileira. Hoje seu representante é o Babalorixá Bino de Ogum, que mantém firme as tradições herdadas de seus antepassados, com o terreiro localizado na Rua Araponga, no bairro Chácara das Pedras em Porto Alegre.
Mãe Glorinha do Ossãe
Yalorixá Maria da Glória Francisca de Souza, conhecida no meio religioso como Mãe Glorinha do Ossãe. Teve sua iniciação no dia 17 de junho de 1925, nas mãos do Babalorixá Manoelzinho do Cavanhaque da Nação Ijexá, na falta deste passou a ser filha de Pai Hugo da Yemanjá, também do Ijexá. Mãe Glorinha do Ossãe nasceu no ano de 1909 no berço da religião africana, vem de uma descendência espiritual muito importante no culto aos Orixás dentro do Rio Grande do Sul. Era filha de ventre da Yalorixá Maria Pinheiro da Silva, Maria do Ogum Onira citada anteriormente.
Mãe Glorinha do Ossãe residia na Vicente da Fontoura, nos anos quarenta, e no inicio dos anos cinquenta passou a morar na Rua Araponga, no bairro Chácara das Pedras, e a partir de 1962 foi morar na Av. Bento Gonçalves, 3497 onde manteve seu terreiro por muitos anos. Ela contava aos netos, que na adolescência, morava com a família na Travessa do Carmo, e de vez em quando, via o Príncipe Custódio passar montado em seu cavalo.
Mãe Edite de Oxum
Imponente Yalorixá da nação Ijexá, iniciada pelo Babalorixá Alfredo Sarará. Após a morte de Pai Alfredo, passou suas obrigações às mãos de sua genitora, Mãe Maria Pinheiro da Silva.
Mãe Edite tinha uma vidência extraordinária. Além da Nação Ijexá, era também dirigente espiritual do Centro de Umbanda Rei Agostinho, na Rua Fernando Cortes, em Porto Alegre.
Babalorixá Silvio Brito - Pai Bino de Ogum
O Babalorixá Bino de Ogum representa hoje uma importante linhagem religiosa dentro do Estado do Rio Grande do Sul. Bisneto da Yalorixá Maria do Ogum Onira, neto da Yalorixá Glorinha do Ossãe, sobrinho de Mãe Edite de Oxum, e filho carnal de Pai Dirceu de Xangô Ogodô.
Traz em seu destino a missão de dar segmento às raízes africanistas de sua família carnal e religiosa. Foi iniciado e aprontado na religião por sua avó Glorinha do Ossãe, filha de Santo do Babalorixá Hugo da Yemanjá da Nação Ijexá.
Pai Bino de Ogum conviveu no meio de importantes Babalorixás e Yalorixás da antiguidade. Era frequentador assíduo da casa de Pai Turéba de Ogum, o qual foi iniciado na religião por sua bisavó Maria do Ogum Onira, com quem aprendeu muitos fundamentos da religião hoje praticados em seu terreiro na Rua Araponga em Porto Alegre.
Maria Barbosa Pontes - Yalorixá Preta de Oxalá, nasceu no berço da religião Africana. Com um ano de idade, Pai Paulino de Oxalá Efan fez o assentamento de seu Orixá, por motivos de saúde.
Mãe Pretinha como era carinhosamente chamada, dedicou-se desde nova aos cultos da religião e teve inúmeros filhos de santo que se tornaram importantes Babalorixás e yalorixás dentro e fora do Estado do Rio Grande do Sul.
Mãe Ondina de Xapanã
Mãe Ondina de Xapanã foi iniciada e aprontada na religião afro-brasileira por Manoel Antonio da Silva, Manézinho de Xapanã, da Nação Ijexá. Era mãe consanguínea de Mãe Táia de Xapanã que a substituiu na função de Yalorixá. Morou durante muitos anos no bairro Passo das Pedras, onde se dedicou à religião. Aprontou inúmeros filhos de santo, entre elas a famosa Darcila de Oyá, mãe de santo do saudoso Jaime da Yansã. Mãe Ondina ficou famosa pela rigidez nos dias de obrigação. Dentro de seu Ilê a religião era levada a sério, não podia ter deslizes, seu Orixá era enérgico assim como o Xapanã de pai Manézinho. Era temida por seus adversários pelo poder de seus feitiços
Yalorixá Ester Ferreira
Mãe Estela de Yemanjá
Mãe Estela de Yemanjá foi iniciada na religião pelo Babalorixá Manézinho de Xapanã da Nação Ijexá. Morou muitos na Rua Das Camélias na Vila Bom Jesus, em Porto Alegre, onde dedicou-se a cultuar a religião afro-brasileira. Era cunhada de pai Manézinho, e com ele aprendeu a lida com os orixás e Eguns. Teve muitos filhos de santo que se destacaram dentro do culto, entre eles podemos lembrar-nos da saudosa mãe Maria da Oyá; Pai Marquinhos da Oxum; mãe Ovidia de Oxum; Pai Miguel de Xangô, Pai Otaviano de Xangô entre outros. Passaram a seus cuidados após a morte de Manézinho: Mãe Miróca de Xangô, Pai Ademar de Ogum, Mãe Diva de Yemanjá, Delurdes de Oxum; Zilda de Oxum, entre outros. Sua raiz continua firme nas mãos da Yalorixá Santinha de Ogum entre outros descendentes.
Pai Leopoldo Da Yansã
Leopoldo Pires ao lado de seu filho de santo, Babalorixá Jorge Verardi de Xangô, presidente da Afrobras. Quem nos fala de Pai Leopoldo da Iansã é sua esposa, Yalorixá Malvina da Silva Pires, conhecida no meio religioso como Mãe Moza de Ogum. Ela nos informa que Pai Leopoldo nasceu em 02 de dezembro de 1912, filho de dona Joana Pires da Iansã, era tamboreiro e seguia a Nação Ijexá.
Dona Moza nasceu em General Câmara, veio para Porto Alegre para trabalhar na casa de Cezar Todeschini, cuidando de duas crianças. Conheceu o Sr. Leopoldo, com quem veio a se casar. Ele foi iniciado na casa de Pai Idalino de Ogum, depois foi ser filho de santo de mãe Andressa de Oxalá que o aprontou na religião com todos os axés. Dona Moza, também fez sua iniciação com Pai Idalino de Ogum; depois foi ser filha de mãe Jovita de Xangô, da bacia de Pai Hugo de yemanjá, onde completou suas obrigações dentro da religião.
Pai Lélo de Xangô
Manoel Irêno Cardoso, Pai Lélo de Xangô ao lado de sua esposa e da filha de santo Jussara de Yemanjá. Veio de santa Catarina com problemas sérios de saúde. Procurou todos os recursos possíveis em médicos, Igrejas e casas espíritas. Foi internado no Hospital São Pedro como louco. Sofreu por 11 anos, até que um conhecido o levou a casa de pai Hugo da Yemanjá.
O Babalorixá Hugo da Yemanjá, após consultar os Orixás através do jogo de Búzios orientou Lélo e sua esposa que o acompanhava, o que deveria ser feito e o valor que custaria. Dona fulana disse que eles não tinham “um tostão”. Pai Hugo, olhou para o cofre que estava aos pés da mãe Yemanjá, disse Omio minha mãe, me de licença, vou pegar o dinheiro para ajudar este filho necessitado, ele vai melhorar muito de vida e retornará com muito mais. E assim foram feitos os primeiros trabalhos, e pai Lélo foi melhorando. Foi iniciado na religião. A situação de ruim passou a ser favorável demais para Pai Lélo que já tinha sua casa e mais outras que alugava em Alvorada, onde levou pai Hugo para morar.
Com a morte de Pai Hugo, Lélo de Xangô, desorientado, ficou afastado da religião por 10 anos. Acabou sendo preso por uma calúnia. Antes de ser preso ele teve um sonho com Pai Hugo lhe dizendo entre outras coisas, que teria problemas sérios com a justiça, e o orientou a dar um carneiro para Xangô que seria liberto. Pai Lélo preso, ficou em desespero; lembrou-se do sonho e disse a si mesmo: Quando eu sair daqui, vou abrir minha casa e continuar a religião.
Pai Lélo ficou detido por 12 horas, e foi inocentado. Após este fato deu segmento a seu destino de ser Babalorixá.
Babalorixá Araci de Odé
Pai Araci de Odé foi um conceituado Babalorixá dentro da Nação Ijexá. Foi iniciado e aprontado na religião pelo saudoso Zeca Pinheiro de Xapanã, do terreiro de Pai Manézinho de Xapanã. Araci de Odé foi casado com Mãe Olmira de Xangô, com quem teve os filhos Laerte de Yemanjá e Zilá de Ogum.
Pai Araci morou muitos anos na cidade de Rio Pardo, onde iniciou muitos filhos de santo, que ainda dão segmento a suas tarefas dentro da religião africana.
Yalorixá Jôba de Xapanã
Angelina Nunes Silveira, nascida em 09 de outubro de 1887. Foi iniciada e aprontada na religião pelo saudoso Manézinho de Xapanã da Nação Ijexá. Mãe Jôba, seguiu os passos de seu Babalorixá e manteve seu terreiro por muitos anos na Av. Carlos Gomes, 759 em Porto Alegre.
Era benzedeira das mais procuradas. Fez muitas curas através de seu Orixá, que nem os médicos acreditavam que certas doenças, na época, poderiam ter solução.
Auxiliava nas obrigações, tanto na casa de seu pai Manézinho como de seu avô Paulino de Oxalá Efan. Mãe Jôba Faleceu em 1949.
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